"Não tenho mais lágrimas para chorar. eu estou amando, estou vivendo, estou pegando."
Ariana Grande - No Tears Left To Cry...
Alguns meses se passaram desde o acontecido na minha festa de aniversário. Agora eu já havia concluído o ensino médio e havia entrado na universidade, iria cursar Engenharia Química na minha cidade. Eu sei que muita coisa havia mudado desde que sai de lá, e entre essas coisas, eu. Perdi o contato quase que por completo com meus amigos, e isso era o que mais me doía. Mas foi por uma boa causa, certo? É difícil lidar com problemas como o que eu tive, e esse foi o meu método de lidar com eles.
Não sou a mesma pessoa bobinha que costumava ser, eu me tornei aquilo que eu não queria me tornar, mas confesso que agora estou apreciando essa mudança. Agora eu sou aquele que guarda rancor no coração, e dúvida da bondade de todos. Estou prestes a voltar a minha antiga cidade para construir meu futuro, mas antes, precisarei jogar uma pá de terra naquela história que tanto me fez mal. E eu sei que posso perder tudo no meio do caminho, mas não perderei tudo sozinho.
Eles deram as cartas, me fizeram entrar nesse jogo e agora irão ter de jogar até o final.
· Fevereiro de 2019
Nem tudo havia mudado, minha casa continuava a mesma. Meu quarto ainda tinha a decoração que eu havia feito quando ainda morava aqui. Ver isso me fez sorrir por um momento. Mas ela me fazia lembrar o meu eu do passado, e isso não era bom.
Optei por trocar toda a decoração, mudar os locais dos móveis e me livrar de algumas coisas antigas. Tenho plena convicção do que eu quero daqui para a frente e não tenho a intenção de me prender a nada do passado... Quase nada, na verdade. A porta bate me tirando de meus pensamentos. Era minha irmã.
– Posso entrar? – disse ela escorada na entrada da porta.
– Claro. Sinta-se em casa. – disse sorrindo. Ela se sentou ao meu lado na cama e colocou a cabeça no meu ombro.
– Estava com saudades de ter você aqui com a gente. Não é a mesma coisa sem você aqui. – Lamentava.
– Também senti saudades de vocês, mas estou aqui agora. – disse dando um beijo no topo de sua cabeça.
– Você está mais lindo do que costumava ser... Agora parece mais meu irmão. – falou rindo.
– Um grande ata para você. É leonina? – eu não havia mudado muito fisicamente. Estava com uma barba rala, bem baixa, nada demais. Meu cabelo que antes era ondulado, agora está mais cacheado e caído para o lado direito sob o olho.
Era realmente muito bom estar de volta, sentir o cheiro desse lugar. Não podia negar que senti falta de tudo, da escola, dos meus amigos... Quer dizer, não sei se posso chamá-los assim ainda porque eu os abandonei no meu momento de fraqueza. Claro que isso não justifica, mas era complicado pensar direito naquela ocasião. Além de tudo o Thomas não havia me procurado, por que eu iria fazer questão de ir atrás?
– Mas então, fez muitos amigos lá? Conheceu novos pretendentes? – perguntava ela curiosa.
– Não e não. Fiz alguns colegas legais, mas não quis manter muito contato com eles fora da escola. Não pretendia ficar lá e muito menos deixar outras pessoas entrarem e foder minha cabeça e vida novamente. – As palavras saíram suaves, mas ao mesmo tempo ríspidas.
– Nossa Dam, não funciona assim também. Não é porque alguém fez algo que todo mundo vai ter a mesma pobreza de caráter. – disse ela. Tínhamos mesmo que ter essa conversa novamente?
– Tanto faz. Não quero falar disso. – Cortei o assunto. Não queria ter essa conversa novamente. – A mãe falou que você está motorizada... Vai me levar na universidade para fazer minha matrícula?
– Posso dar uma carona. Tenho que fazer uma boa ação pelo menos uma vez por dia para garantir um lugarzinho no céu né? – disse rindo. – Mas vai ter que se virar para voltar, eu tenho aula depois. Sabe como é... Fim de curso.
– Sem problemas. Talvez volte andando, quero ver como estão as coisas. – A universidade não ficava longe, poderia vir e passar na soverteria ou no café. Gostaria de rever todos os lugares que a tanto tempo não via.
Mel voltou para o seu quarto e eu fiquei deitado um pouco mais antes de ir tomar banho. Como iríamos só pela tarde, decidi reativar minhas contas das redes sociais. Estranhei um pouco a mudança nas atualizações dos aplicativos – eu estava totalmente por fora – pensei comigo mesmo. Não consegui resistir e procurei o perfil da Amy, ela estava linda como sempre. Com os cabelos mais curtos.
– Não acredito! – falei para mim mesmo quando vi a última postagem no seu feed notícias. Ela havia entrado no mesmo curso que eu e na mesma faculdade. Não consegui conter minha felicidade. Era incrível. Talvez pudéssemos recuperar o tempo perdido. Ou não.
Minha felicidade momentânea foi por água abaixo, não sabia se ela iria querer manter uma amizade comigo. E não iria julgá-la, ela estava no seu direito. Procurei pelo perfil do Thomas, mas não encontrei. Nem no facebook, nem no instagram. O que era muito estranho, afinal de nós três ele era o que tinha mais seguidores, o mais "popular" de nós. Talvez tenha enjoado. Enfim, não importa mais.
Cheguei à faculdade por volta das 13 horas da tarde, e minha irmã me encaminhou para o local onde estavam sendo feitos os cadastros e matrículas. A universidade era grande, havia várias árvores e construções antigas. Eu iria me perder fácil ali. Entrei na sala e algumas pessoas esperavam sentadas, acredito que estavam na fila esperando para serem atendidas. Confirmei com a moça que estava na recepção e ela me disse para sentar-se e esperar junto com os demais. Sentei-me um pouco mais afastado dos demais e tirei o celular do bolso para passar o tempo.
Era um grande passo agora. Estava começando a construir o meu futuro, e isso me deixava ansioso, mas ansioso de uma maneira boa. Estar de volta também me fazia ficar nervoso com algumas coisas, e até mesmo inseguro. Porém diferente de antes eu estava mais focado, e até mais determinado, mais maduro. Criei um modo diferente de enxergar a vida.
Uns grupos de três ou quatro pessoas entram na sala e se direcionam para os acentos. Levanto a cabeça para esticar um pouco o pescoço e vejo um rosto familiar. Era ela, a Amy. Minha mão começa a suar um pouco. Definitivamente eu estava nervoso agora. Ela não me vê e se senta em uma das cadeiras um pouco a frente. Conversa com uma das meninas que estava sentada ao seu lado, com seu jeito bem espontâneo e divertido de ser. Sorrio comigo mesmo. Ela parece estar feliz, e isso é bom.
Fico reversando entre mexer no celular e olhar para frente. Não sei se gostaria que ela me visse sentado aqui atrás, ou se preferia passar despercebido e esperar que esse reencontro aconteça em outra oportunidade. Que talvez fosse melhor.
– Próximo! – diz a moça que estava fazendo o cadastro olhando em minha direção. Era eu.
Levanto-me e vou até a sua mesa e me sento. Ficando de costas para o restante do pessoal que estava esperando para ser atendido. Acredito que ela ainda não tinha notado que a pessoa que estava a sua frente era eu. Pelo menos não ainda.
Preencho alguns dados pessoais, ela me faz algumas perguntas só por protocolo, me explica o funcionamento de algumas coisas que precisarei para o primeiro dia e me entrega o meu horário de aula junto da folha de matrícula. Estava tudo feito. Levanto-me para ir embora, mas antes de sair uma voz me chama.
– Adam?
~ Nota ~
Olá, estou de volta! Agora vamos dar continuidade a segunda parte da história, que promete muitas reviravoltas e muito drama também. Espero que ainda estejam aí.
Com carinho, rô!
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enquanto houver razões (romance gay)
Romance"Algumas vezes somos colocados diante situações difíceis que nos farão ter de escolher entre a razão e a emoção. Por sorte eu escolhi a opção certa e não vou abrir mão da minha escolha. Eu sou o Adam, não o Adam que costumava ser, sou um novo Adam...