"E quanto a todos os planos que terminaram em desastre? E o amor? E a confiança? E nós?"
Pink - What About Us...
Alguns dias haviam se passado, e minha amizade com a Amy só melhorava, quase da mesma forma que era antes de ter me mudado. Conversávamos muito por mensagem, já que ela tinha ido passar o restante das férias na casa de parentes em outra cidade. Fazíamos diversos planos para a faculdade. Vez ou outra ela mencionava o Thomas e me questionava se eu não iria conversar com ele, e sempre me esquivava do assunto.
Ela me contou, mesmo sem eu pedir, que ele estudaria na mesma universidade que a gente e havia entrado para o curso de medicina. E isso era maravilhoso. Ele deve ter se esforçado muito para conseguir tal feito, o que deve explicar o seu afastamento das redes sociais.
Um lado meu parecia estar adormecido sem a presença do Thomas. Eu podia olhar para qualquer lugar dessa casa e ver ele parado sorrindo para mim.
O Lucas me magoou demais, mas não chegava perto da dor que eu sentia em ter me afastado de um amigo dessa forma. E por culpa dele, que não me procurou. Diferente da Amélia, que insistiu em me ver mesmo eu negando.
Ontem foi o primeiro dia de atividades do novo semestre na faculdade, mas não compareci. Sei que seria apenas palestras de boas-vindas, apresentação do campus e do curso, essas coisas entediantes que você já entra querendo sair. Como todas as atividades de recepção aconteceram ontem, hoje daria início as aulas. E seria a primeira vez que eu e a Amy iríamos nos encontrar desde o dia da matrícula.
Ainda não sei o que esperar da minha vida daqui para a frente, mas estava animado para esse novo ciclo. Tinha vários planos e uma perspectiva de futuro muito mais ampla.
...
Caminhava entre os corredores da faculdade enquanto olhava toda a ementa do curso. As aulas a princípio eram pela parte da tarde, mas em algum momento no decorrer do curso se estenderiam até a noite. Cheguei em frente à sala de aula onde iria ter a primeira aula do dia, que seria Cálculo I. Observo de fora e já havia alguns alunos sentados, inclusive a Amy que estava em uma cadeira na segunda fila mexendo no celular.
Entro na sala sem olhar ao redor e vou de encontro a ela. Ao me ver ela abre um sorriso e me abraça. Percebo que sua bolsa marcava uma cadeira ao seu lado.
- Sei que gosta de sentar-se na fila da parede. Ou já mudou? - disse ela sorrindo.
- Está certíssima. - falei me sentando. Poderia ser paranoia da minha cabeça, mas sempre gostei de sentar-se em lugares encostados a parede porque tinha a impressão de que se estivesse entre outros lugares as pessoas me observariam mais. E a parede servia como uma proteção contra outros olhares. Loucura né?
- E então, ansioso para começar o primeiro dia da nossa vida de adulto? - ela realmente não tinha perdido seu jeito.
- Nossa, nem dormi esperando esse momento tão desejado. - disse sendo irônico.
- Então, o que faremos depois de sair daqui? Estou louca para matar as saudades. - disse parecendo empolgada.
- Não sei. Podemos ver algo. - falei.
O professor entra na sala, era um homem de meia idade e carregava alguns livros em seu braço. Ele começou se apresentando e pedindo para que cada aluno falasse o porquê de ter escolhido o curso e o que esperava do mesmo. Ele era muito comunicativo e as palavras soavam de forma que prendiam a atenção de todos.
Sem perceber, ele já havia entrado no assunto e estávamos todos empolgados com sua explicação. Deixava tudo claro e explicava de forma divertida, o que era para ser chato e difícil se tornava interessante de estudar. - Se todos forem assim como ele vai ser uma maravilha. - Pensei comigo mesmo.
A aula seguinte seria vaga, pois o professor estava de licença e só retornaria na semana seguinte. Como teríamos um tempo livre fomos nos sentar em uma das pracinhas que havia dentro do campus.
- Essa aula me deu um gás. Estou até com 4% a mais de esperança no meu futuro. - Dizia Amy enquanto se sentava embaixo de uma árvore e eu apenas sorria um pouco forçado enquanto ela falava. E parece que ela se incomodou com isso. - O que houve contigo esse tempo, Dam? Você mal abre a boca para conversar, parece estar sempre desatendo ou desinteressado com qualquer coisa.
- Desculpa! Não sei. Estive sozinho por muito tempo, talvez tenha me acostumado com isso. - Talvez tenha sido isso mesmo, não era por mal. Eu só não sabia o que falar de verdade. Sabe quando você está em um lugar com vários desconhecidos e você tem de procurar algo para falar e não consegue porque acha que nada que falar vai se encaixar com o momento? Então, é tipo isso.
- Nem pense que vai continuar assim. Você me conhece e sabe que gosto de falar muito. Vai logo voltando a se acostumar com isso porque não quero diálogos unilaterais... Já basta os que eu tenho sozinha em casa. - Ela realmente não existe. Conseguiu me fazer rir e tirar um pouco da tensão que estava carregando.
- Você não existe. - disse e ela respondeu com um "eu sei disso". Deitei-me ao seu lado enquanto ela continuava sentada.
A pracinha tinha várias árvores enormes, com um gramado de um verde vivo lindo. Por ser no final do campus, era mais afastada dos blocos. Ficava entre o bloco de humanas e saúde, tinha alguns estudantes sentados em bancos e em outros lugares por todo limite do lugar. Fechei os olhos e continuei conversando com ela de olhos fechados. O local era calmo e aconchegante, tinha um ar natural e me deixava calmo.
- Enfim encontrei você. - Ouço uma voz familiar falar enquanto, ainda de olhos fechados, escuto os passos se aproximando. Meu corpo fica totalmente petrificado.
- Não acredito. - diz Amy se levantando.
Estou definitivamente congelado, será que era mesmo quem eu estava pensando ou era apenas minha cabeça me pregando uma peça? Independentemente de quem fosse acho que ainda não havia percebido que eu estava ali no local, e se percebeu apenas não reconheceu ou não quis conversar, porque eles continuaram conversando.
- Não te vi ontem durante as atividades de boas-vindas. - Falava a pessoa. Sim, era quem eu imaginava.
-Eu cheguei de viagem já era quase hora do almoço, só me deitei e dormi. - disse ela rindo.
- Ah sim, você não pode ver uma cama que já quer deitar-se. Nunca vi... - a voz para de falar por um instante, até que volta a pronunciar, e dessa vez era direcionado a mim. - Adam? - ainda não havia aberto os olhos, mas notei que havia surpresa no tom de sua voz.
Abri os olhos e me sentei olhando para frente. Sim, era ele, o Thomas. Aquele que viveu a vida toda ao meu lado, que compartilhou comigo diversos momentos de alegria e tristeza, que sempre esteve comigo, a não ser no momento que mais precisei. Estava ali diante de mim, com seus lindos cabelos e seus traços faciais ainda mais maduros e marcados por uma expressão de surpresa.
- Oi Thomas. - Forcei um sorriso me levantando em seguida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
enquanto houver razões (romance gay)
Romance"Algumas vezes somos colocados diante situações difíceis que nos farão ter de escolher entre a razão e a emoção. Por sorte eu escolhi a opção certa e não vou abrir mão da minha escolha. Eu sou o Adam, não o Adam que costumava ser, sou um novo Adam...