Capítulo 15 - rare

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"E aposto que há mais alguém por aí para me dizer que sou rara."
Selena Gomez - Rare

...

Acordei no sábado logo pela manhã, havia algumas coisas da faculdade para começar a revisar e não queria deixar a matéria acumular logo nos primeiros dias. Também precisava de um pouco de distração para esquecer o que havia acontecido durante a semana e nada como usar os estudos para isso. O rosto do Thomas me olhando assustado não saía da minha cabeça.

Depois de fazer a higiene matinal e tomar café, voltei para o meu quarto e abri alguns livros e meu computador e dei início as minhas pesquisas. Comecei fazendo download dos artigos e separando os assuntos em tópicos para facilitar o entendimento. Fiz alguns fluxogramas de todo o caminhar do conteúdo. Desde o ensino fundamental costumo organizar todo o cronograma de estudo, me ajuda a não me perder durante o conteúdo e saber direitinho o quanto eu estava adiantado ou atrasado.

Sem ao menos me dar conta percebi que já haviam se passado três horas desde que comecei a estudar e já estava quase perto da hora do almoço. Fechei algumas abas e abri o Facebook, nada de novo para avaliar. Lembrei que usava o Tumblr um tempo atrás e tentei encontrar o meu usuário.

Lembrei! Pensei comigo mesmo. Selecionei na barra de pesquisar e digitei o endereço para acesso rápido. Ao abrir, comecei a ler algumas coisas que postava. Não pude deixar de rir com algumas postagens um tanto melancólicas. Posso inclusive afirmar que eram melancólicas até demais. Mas uma me chamou muita atenção, era um pequeno texto que havia escrito.

"Se algum dia meus olhos se alinharem com os seus, quero que saiba que foi apenas uma eventualidade. Se por acaso meu sorriso for de encontro a você, saiba que foi só casualidade. Se algum dia eu lhe dirigir a palavra, será apenas por formalidade. E se minha pele voltar a tocar a tua, será por um mero aperto de mãos. Mas, se um dia, meu coração deixar de lhe pertencer... saiba que ele apenas parou de bater. "

Era realmente algo pesado de se ler a essa altura. Eu sabia exatamente o sentimento que estava sentindo quando escrevi isso. Não era tão simples admitir para si mesmo que você continua com esse tipo de sentimento pulsando forte dentro de você, mesmo não querendo. É complicado não poder controlar isso depois de todo esse tempo e de todas as eventualidades que aconteceram.

Desliguei o computador e fui até a cozinha almoçar. Amy havia combinado de vir aqui pela tarde para irmos ao shopping. Cheguei na cozinha e minha irmã estava lá com uma amiga. Ela era muito familiar, mas não lembrava exatamente quem era.

- Boa Tarde! - disse entrando e se sentando em uma das cadeiras que estavam em volta da mesa.

- Boa Tarde! - a amiga da minha irmã respondeu gentilmente com um sorriso.

- Achei que não ia sair daquele quarto hoje. - disse Mel. - Lembra da Letícia?

Nossa, como ela estava diferente. Lembro que ela e minha irmã não desgrudavam na época da escola, ela praticamente morava aqui, mas devido a universidade elas haviam se distanciado um pouco. Inclusive ela já havia viajado conosco para a casa de praia do nosso avô. Acho que no mesmo ano que o Thomas foi.

- Uau, quase não te reconheço - disse fazendo uma expressão de surpresa. - Na verdade só reconheci porque Mel falou seu nome. Quanto tempo né?

- Você mudou bastante também, se te encontrasse na rua provavelmente não reconheceria. - disse sorrindo.

Fiquei sentado com elas na cozinha enquanto almoçava, era divertido poder reencontrar pessoas dessa maneira, principalmente quando são cheias de energia igual a Letícia era. Ela e minha irmã estavam tão... próximas. Não costumo maliciar amizades, mas elas estavam conectadas de alguma maneira diferente, sabe? Não era aquela conexão que eu tinha com a Amy, era aquela conexão.

Me despedi e fui em direção ao meu quarto, iria sair mais cedo para procurar alguns livros no Shopping até encontrar Amy.

...

Eu adorava estar na livraria, era como se o resto do mundo sumisse e eu ficasse preso ali lendo sinopses de livros para escolher um ou dois, mas sempre acabava pegando cinco ou mais. Por esse motivo demorava a vir, tinha que ler os que havia levado para não deixar acumular.

Alguns livros me chamaram atenção, mas um em especial me fez ficar mais ansioso para comprar. Logo na capa havia uma frase de efeito que particularmente achei perfeita: "Quando você se apaixona pela pessoa errada pelas razões certas, tudo pode acontecer".

É como se você tivesse todas as razões para gostar de alguém, mas esse alguém não é exatamente o alguém, o seu alguém.

Sai da livraria e me sentei em um dos bancos que havia logo a frente com minhas sacolas e peguei o celular para olhar a hora. Amy havia mandado uma mensagem avisando que já estava de saída. Optei por encontrar ela ali mesmo onde eu estava.

Olho ao redor e um garoto estava sentado no banco que havia ao lado do meu lendo um livro "Este é o porquê da minha morte". Um tanto pesado, acho, porém curioso.

- É um título bem curioso. - Digo tentando chamar a atenção do garoto que imediatamente para e me olha, como se estivesse verificando se eu havia falado de fato com ele.

- É um ótimo livro. - disse ele com uma expressão ainda séria.

- Diferente do meu. - Sorrindo tirando da sacola o livro que havia acabado de comprar e mostrando. O que eu estava pensando?

- Também é um ótimo livro. - Ele respondeu dando um pequeno sorriso dessa vez.

Não falei mais nada, talvez tenha ficado com um pouco de vergonha. Apenas acenei com a cabeça achando que ele não estava a fim de conversar. Não o julgo, afinal ele estava lendo

- Sou o Bruno. - disse estendendo a mão para que eu apertasse. E assim o fiz.

- Sou o Adam, mas só Dam é o suficiente. - falei dando um sorriso amistoso. Não tinha costume de conversar muito com pessoas desconhecidas, mas estava passando tanto tempo sozinho que estava meio que sentindo uma necessidade de conversar.

- Então costuma sempre se sentar e falar com estranhos que estão lendo livros com título curioso? - perguntou ele insistindo no diálogo.

- Eventualmente não. - Respondi um pouco sem graça.

- Não precisa ficar sem graça, estou tentando ser engraçado. - disse sorrindo.

Bruno parecia um pouco comigo, ele nitidamente era alguém tímido que se esforçava para se socializar.

Cinco minutos haviam se passado e a gente já estava conversando como dois grandes amigos. Não sabia qual dos dois falava mais. Ele cursava moda e gostava de desenhar. Disse que costumava sentar-se ali para ler porque achava o ambiente poético, como se estivesse em um livro de romance adolescente americano.

- Digamos que eu goste de vir aqui para fugir da realidade. - Dizia ele. - A vida é um pouco esquisita as vezes, e o ideal é tentarmos fugir um pouco dela. E nada melhor do que fazer isso lendo... Ou conversando com um estranho que está lendo. - Agora sim ele me fez sorrir sem ter vergonha.

- Talvez eu tenha descoberto uma nova especialidade em falar com estranhos sem razão alguma. - Ele sorri ao ouvir.

Não demora muito para que Amy me encontrasse e me arrastasse dali. Mas antes de sair ele me passou o seu usuário do Instagram para que pudéssemos trocar dicas de livros. Não preciso nem dizer que ela ficou fazendo várias perguntas sobre quem era o garoto.

Eu estava feliz por poder conversar com alguém que não sabia da minha história, era como se eu fosse uma página em branco esperando para ser escrita.

~Nota~
Dedico este capítulo a um leitor antigo, que entrou em contato comigo por mensagem e falou sobre alguns problemas pessoais. Na ocasião ele relatou como minhas histórias o ajudaram a sorrir um pouco. Ontem Taylor Swift falou em seu discurso ao receber o título de doutorado em belas artes algo como "Somos camaleões literários". Eu entendo um pouco sua fala. De como podemos nos adaptar e escrever sobre tudo. Ver como nossas palavras afetam positivamente a vida de alguém me motiva a continuar e a querer fazer mais e mais.
Então a ele, e a vocês, espero que todas essas palavras possam ser traduzidas em sorrisos sinceros. Vocês são raros!

Estou sempre aqui.
Com carinho, Rô.

enquanto houver razões (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora