Capítulo 16 - checkmate

160 28 4
                                    

"Então me chore um rio até você se afogar no lago. Porque você pode pensar que está ganhando, mas xeque-mate."
Conan Gray - Checkmate

...

Ontem no Shopping Amy me falou de uma social que haveria hoje com a galera da universidade, alegando que seria para dar boas-vindas aos novatos. Eu vejo mais como se fosse apenas uma desculpa para beber e pegar a galera nova.

Mesmo não sendo meu estilo de social, confesso que fiquei bem tentado a ir. Até falei que iria pensar. Não sei, talvez eu precise mudar alguns hábitos antigos, já que eu estou tentando ser uma nova pessoa.

Ir a festas é algo que eu não faria, e quando digo que "não faria" eu me refiro ao eu de um tempo atrás. Então por que não testar coisas diferentes agora? A Amy amaria minha companhia também.

Sim, estou buscando todos os motivos possíveis para tentar me convencer a ir a uma social. E todos eles parecem aceitáveis na minha cabeça.

- É só uma social, Dam. Não precisa de tanta frustração. - Falo comigo mesmo.

Realmente, não há necessidade de tantos questionamentos. Sou um jovem universitário vivendo uma vida nova, com novos objetivos, nova visão sobre a vida e sobre as pessoas.

Envio mensagem avisando a Amy que passo na casa dela as oito da noite. E como eu já esperava, ela responde me enchendo de mensagens eufóricas como respostas. Se fosse diferente não seria ela.

Acredito que a faculdade nos amadureça de uma maneira que o ensino médio não faz. Você vai ser praticamente obrigado a estourar sua bolha e sair da sua zona de conforto para experimentar coisas que antes não eram prioridades.

Claro que todo mundo tem seu tempo de se descobrir ou de sentir o amadurecimento acontecer, e talvez nem aconteça em alguns casos, em outros pode ser que já tenho acontecido antes mesmo de ingressar em um curso superior. No meu caso, estou buscando esse amadurecimento pessoal, no meu tempo, óbvio, mas estou tentando.

Acabo de me arrumar por volta das sete da noite, um pouco antes do que achei que acabaria. Talvez eu estivesse um pouco nervoso. Ou estaria ansioso? Acho que um pouco dos dois.

Coloquei um short preto com uma camiseta folgada da mesma cor e uma bota. Sim, eu gosto de usar botas com short. Obrigado K-idols por influenciarem digitalmente o meu estilo, que particularmente acho incrível.

Chego na casa da Amy perto das oito da noite e ela ainda está terminando de se arrumar. Fico sentado no sofá da sala conversando com sua mãe enquanto a espero.

- Você está um rapaz muito lindo. - disse Dona Joana me deixando sem jeito. Será que algum dia vou saber lidar com elogios inesperados?

- Ah, obrigado. - Tentei não demonstrar minha vergonha.

- E como está sua mãe e sua irmã? - pergunta puxando assunto. Agradeço por fazer isso, se dependesse de mim iria ficar aquele clima de puro constrangimento.

- Estão bem. Minha mãe trabalhando muito como sempre, sabe como é, daquele jeito dela de se apegar ao trabalho. - Respondo e ela sorri generosamente.

- Manda lembranças a ela por mim. - Aceno com a cabeça em concordância.

Finalmente Amy vai ao meu encontro e nos despedimos de sua mãe para sairmos.

Notoriamente ela estava animada, fazendo vários planos em beber e dançar, esquecer um pouco dos problemas da vida. Eu estava apenas seguindo o bonde junto. Um pouco se. jeito por não saber se iria me comportar amigavelmente.

O local da festa era uma casa de lazer da família de um veterano conhecido nosso. Como era apenas para descanso, não havia ninguém morando lá. Mas era toda mobiliada.

Ao entrar a primeira coisa que percebo era que havia uma piscina no quintal da casa com várias bolinhas coloridas dentro, e muitas luzes de néon em alguns locais estratégicos. Já estava lotada de alunos, alguns poucos eu conhecia e outros nunca havia esbarrado.

No interior da casa havia pouca luz. As luzes de néon que estávamos fora entravam pelas janelas de vidro e a porta que estava aberta. Dentro apenas um jogo de luz ligado alternando entre as cores. Vermelho, verde, amarelo, roxo, rosa e azul. Talvez não nessa ordem.

As pessoas conversavam entre si, sorrindo e dançando. A maioria delas segurava um copo de bebida nas mãos. Eu poderia descrever esse momento como se fosse aquelas festas de filmes adolescentes.

- Vamos Dam, aproveita. - disse Amy me entregando algo para beber.

- O que é isso? - pergunto.

- Apenas refri. - disse insistindo para que eu pegasse. - Sei que não pode beber, está dirigindo. - Consciente ela.

Aceito sua gentileza e saio para dar uma volta enquanto ela fica conversando com um grupo de conhecidos. Eu estava me sentindo um pouco perdido, deslocado, mas acreditando fielmente que eu ainda não permiti ficar um pouco mais relaxado.

Cumprimento algumas pessoas enquanto caminho, sinto como se alguns olhos me seguissem em meio àquela multidão. Saio da parte interior da casa em direção ao jardim, que havia algumas cadeiras em volta de uma mesinha redonda de madeira, árvores bem podadas e um gramado bem aparado.

Se dentro estava escuro, na frente estava ainda mais, já que as luzes estavam apagadas e não havia iluminação de LED, apenas a luz da lua nova que iluminava.

Sento-me em uma das cadeiras e relaxo meu corpo nela, olhando para o céu sem nuvens repleto de estrelas. Fecho os olhos para sentir o vento frio que corria passando entre as árvores. Desperto do meu sossego ao ouvir passos vindo em minha direção.

- Não precisa se preocupar, está tudo bem. - Dizia a voz familiar do Thomas, parecia que estava falando com alguém. - Eu sei que eu posso te ligar se precisar, mas juro que está tudo bem.

Ele para alguns passos de onde eu estava, mas ainda não percebeu que eu estava ali sentado. Mesmo no escuro notei que sua postura estava relaxada, como se estivesse cansado. E falava com alguém ao celular.

- Tudo bem, obrigado. - Continuava falando. - Quando tiver um pouco de tempo disponível vou te visitar sim. Tchau tchau.

Ouço ele suspirar após acabar a ligação. Ele ficou alguns longos segundos olhando para a tela do celular antes de bloquear e colocar no bolso novamente.

- Nossa, não notei que tinha alguém aqui. - disse parecendo assustado ao perceber que eu estava ali perto.

- Poderia ter ficado sem perceber. - disse em um impulso imediato.

Ele não fala nada e só analisa meu rosto, como se estivesse esperando alguma reação minha ou estivesse pensando no que falar. Um meio sorriso torto surge em seus lábios.

- Eu perceberia sua presença até de olhos fechados. - disse em um tom suspeito, como se soubesse que isso iria me provocar. E o pior é que ele realmente conseguiu.

- Pelo visto vou ter que mudar meu perfume. - disse o encarando.

O meio sorriso torto que antes havia dado se transforma em um sorriso completo enquanto ele se aproxima mais de onde eu estava sentado, se inclinando ao ficar ao meu lado. Thomas aproxima seu rosto do meu pescoço enquanto fico imóvel, ele não chega a me encostar, mas mantém uma distância curta. Muito curta mesmo.

- Acho que não é um perfume que te entrega. - disse falando manso no meu ouvido.

Ele sabe o que está fazendo, e está fazendo de propósito. Se o plano dele agora é me provocar, eu entrarei em seu jogo. Vamos ver quem irá dar as cartas no final.

- Então estou fixado na sua memória assim? - digo dando um sorriso com um leve tom de deboche. - Cuidado Thomas, não se deixe levar por emoções passadas, vai que rola de você se apaixonar.

Sinto como se o clima mudasse totalmente e ficasse mais tenso. Seu rosto que antes era irônico desaparece e surge uma expressão séria. Checkmate!

Ele sai sem falar mais nada.

enquanto houver razões (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora