Capitulo 20- Sorvete de creme

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- Agora eu preciso voltar pra casa. - Disse se levantando - Preciso conversar com a Peggy, ela deve estar preocupada. Posso te encontrar mais tarde? Aqui nesse mesmo lugar?

- E o que eu faço enquanto isso? - arregalei os olhos com medo, eu não havia refletido sobre estar sozinha em 1945 quando aceitei a loucura. - Eu não tenho dinheiro eu não conheço ninguém. Eu nem se quer sei quais são as normas sociais dessa época. Provavelmente quando você voltar vai me encontrar morta. Vão me jogar pedra por usar calça skinny.

- Ai... - Bufou revirando os olhos - Vamos... - Apontou para o caminho a sua frente - Mas vamos em silêncio e promete que não vai falar nada para a Peggy.

- Eu sou um túmulo. - eu disse, acompanhando-o até o ponto de táxi.

(...)

- Sabia que eu fui no seu enterro? - Perguntei, ja dentro da nossa condução.

Steve apenas me lançou um olhar reprovador antes de olhar disfarçadamente para o motorista. Mas ele era tão idoso que muito mal ouvia as buzinas dos carros.

- Claro que eu não sabia. - Sorriu - E como foi? - sussurrou se rendendo a curiosidade.

- Fortes emoções! - Ri, me lembrando da desgraça que foi. - O Zemo que não é exatamente o Zemo estava lá... e ele colocou fogo na igreja. - Engoli o nó que formou em minha garganta quando me lembrei da freira que infelizmente não resistiu - E eu ganhei uma queimadura no rosto durante o incêndio. Ficou bem feio, bem aqui... - Apontei para minha bochecha.

Inesperadamente ele se aproximou um pouco o que estranhamente me assustou, me fazendo recuar.

- Não vejo nada! - disse com os olhos semi-cerrados, avaliando meu rosto.

- Já curou! - desviei o olhar, focando no caminho e batucando os dedos no couro do estofado. Na tentativa defugir do constrangimento.

Que falta de noção... se aproximar assim...

Pela minha visão periférica notei-o balançar a cabeça negativamente com um sorriso nos lábios, antes de apoiar os cotovelos na janela ao seu lado e observar a rua.

Eu podia ler em sua expressão facial que ele tinha achado engraçado e sem sentido a minha reação. E eu concordava, não tinha a menor lógica. Eu nem era tímida... ele era um cara famoso mas não era um ídolo, não existia a menor razão para tamanha timidez.

Decidi parar de tentar puxar assunto e segui a viagem em silêncio, como haviamos combinado inicialmente. Ele fitava a sua janela e eu a minha, e assim seguimos em silêncio por todo caminho.

(...)

Até chegarmos em um apartamento no Brooklyn, que apesar da localização era um imóvel legal e tinha um padrão elevado para o bairro.

Steve foi o primeiro a sair, pagando o taxista enquanto eu tirava minha mochila da mala.

- Deixa que eu levo isso... - Esticou as mãos me pedindo a bolsa.

Agradeci com um aceno de cabeça, entregando-o, em seguida bati o porta-malas, que acabou sem querer pegando em meus dedos, me arrancando um grito, seguido de um palavrão. "@#%!" - aquilo doía demais!

Inesperadamente ele tomou minhas mãos entre as suas, pressionando na tentativa de aliviar a dor.

Apertei forte os olhos, a dor irradiava da ponta dos dedos até o braço. Causando um choque que percorria todo meu corpo.

Certamente eu perderia por um tempo a unha daquele dedo.

Com o tempo a dor intensa que me esmagava as entranhas foi passando, permanecendo apenas um dolorido latejar. Conforme a dor aliviava eu conseguia sentir com maior intensidade o calor de suas mãos contra a minha e inevitavelmente meu rosto fora mudando a expressão, para algo como, alívio. Que não durou muito tempo e se transformou, pela milésima vez naquele dia, em constrangimento, quando ele sorriu, sem mostrar os dentes.

Ella - Agente Ella e o Super SoldadoOnde histórias criam vida. Descubra agora