Are You Looking For Me, Child?

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 Tudo ainda era escuro e silencioso quando Taeyeon abriu seus olhos. O saco de dormir não era de todo um mal, mas também não era bem algo que ela olharia e chamaria de confortável, mesmo que soubesse que era aquilo ou dormir no chão arenoso de uma floresta que nunca havia ouvido falar.

Sentia-se dolorida, tensa e estranhamente quente. Abriu o saco de dormir e ergueu seu tronco para que pudesse se sentar, coçando levemente os olhos com as costas das mãos. Alongou brevemente os braços, girou o corpo para a direita, que dava para a parede do abrigo que Yuri havia levantado, e girou para a esquerda.

Franziu o cenho. As outras garotas não estavam ali, apenas seus sacos de dormir, jogados de qualquer maneira sobre o chão. Olhou para baixo, a fim de abrir mais o saco de dormir e tamanho foi o seu pavor ao ver sangue escorrendo sobre o mesmo, que se estendia em uma trilha, como se algo houvesse sido arrastado para fora dali.

Assustada e contendo um grito apavorado em sua garganta, livrou-se o mais depressa possível daquele saco o qual a envolvia. Já de pé, olhou para as próprias mãos, igualmente manchadas de sangue, como se houvesse se agarrado ferozmente à algo que não queria deixar ir, como se tivesse tentado proteger algo, mas seus esforços não foram o suficiente.

Seu coração batia acelerado ao peito, seus olhos estavam cheios de lágrimas e queria gritar, mas sua voz simplesmente não conseguia sair por sua garganta. Olhou novamente na direção do rastro de sangue, vendo que o mesmo continuava de modo irregular. Sentiu os batimentos cardíacos na ponta de seus dedos e, automaticamente, um nó se formou em sua garganta.

– Yuri? – Chamou com a voz trêmula, chorosa, caminhando em passos lentos e temerosos, na direção da abertura do abrigo. – Tiffany? – Chamou um pouco mais alto. – Jessica? Onde estão vocês?

Saiu de dentro do amontoado de pedras e terra, já sentindo seu peito doer pelo medo e suas lágrimas escorrerem pelo rosto. O cheiro de sangue ficava cada vez mais forte, mas Taeyeon se negava a crer que o líquido vermelho era de fato o que era. Soltou uma risada nervosa, tendo seu corpo encolhido.

– Se isso for uma brincadeira, não tem graça! – Gritou mais alto, como se quisesse acreditar na própria mentira.

Não é brincadeira, pensou. Elas nunca fariam isso.

Olhou em volta, apenas escuridão. O silêncio a perturbava como nunca havia a perturbado antes, o único barulho que conseguia ouvir era o do seu coração bombeando seu próprio sangue avidamente em suas veias, fazendo seus ouvidos sentirem o pulsar forte de cada um dos seus batimentos cardíacos e, também, o balançar das folhas, calmas, acompanhadas do canto de algumas cigarras.

Aquilo apenas contrastava o seu desespero. Aquela era uma falsa calmaria.

Resolveu retornar para o abrigo, na intenção de buscar ao menos uma lanterna. Mas ao virar-se na direção da entrada do local, não mais conseguiu evitar o seu grito, que ecoou desesperado e surdo no silêncio daquela madrugada, sendo abafado pelas imensas árvores que a cercavam.

Jessica, Yuri e Tiffany estavam sobre o forro do abrigo. Banhadas em sangue. Mortas. O pranto de Taeyeon se tornou mais alto e mais intenso, em meio a gritos agoniados. Não sabia o que faria quanto àquilo, e nem sabia quem era o responsável e o porquê de ter poupado apenas sua vida. Estava sozinha e suas únicas amigas haviam morrido.

A dobradora de água observava o sangue das três meninas escorrerem por entre as pedras reunidas do abrigo, como um córrego macabro que a fazia estremecer-se. Sua garganta arranhava e sentiu como se tivesse sido atingida por um forte soco no peito, pois o ar lhe faltou naquele momento. Ver os rostos sem vida, os olhos sem brilho e as bochechas pálidas, faziam apenas as lágrimas descerem com mais rapidez de seu rosto.

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