The Secular Battle Has Come.

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 A mulher caminhava até o caminho que era conhecido. Lembrava-se daquele lugar, duplamente. Ali fora palco de muitas coisas em pouco tempo, quase como se fosse premeditado. Não sabia o porquê da mulher estar se escondendo naquele lugar, mas sabia que ela estava ali. Sabia que ela estava se rastejando entre os escombros, como uma cobra pronta para dar um bote. E Irene, pela primeira vez em anos, não estava com medo.

A Escuridão estava ao seu lado, ajudando a farejar o doce aroma do medo e do caos.

Havia tirado seus saltos, pois não havia necessidade alguma de usá-los por ali. A terra molhada pela chuva era confortável, a sujeira e o disforme dos níveis de terra eram agradáveis. O cheiro do solo recém-molhado era agradável, como o cheiro de uma manhã preguiçosa em um dia chuvoso. Porém, a ausência do sol era nítida, apenas a lua iluminava seus caminhos naquele momento.

Irene caminhava pacientemente, observando os escombros e amontoados de carcaças de carros velhos, todos espalhados de uma forma desajeitada. Não havia ordem por ali, não havia supervisão e tampouco pessoas. Mas havia uma em específico que parecia gostar de brincar com a ambientação do lugar, como se conhecesse as sombras de seu passado, como se estivesse presente em cada momento de sua vida, mesmo que distante.

A Bae parou de caminhar, sentindo o chão abaixo de si confortar seus pés descalços. Ela olhava atentamente para sua frente, admirando secretamente as sombras da noite, esgueirando-se por entre a estrutura deformada do ferro velho, onde seu elemento uma vez esteve presente, e onde fora por uma última vez examinar as garotas mais novas antes de partirem para sua missão.

À sombra da noite, Irene ficou parada, ouvindo os sons agradáveis de corujas, pássaros noturnos e o rastejar de passos. Seus olhos não perderam o foco, pois estava certa da posição em que estava, e levaria apenas vinte e quatro horas para acabar com aquela pendência em sua vida. Instigada apenas pela sede de vingança, amargura e ressentimentos guardados e selados ao peito.

Afinal, fora por conta desses sentimentos remoídos no âmago de seu peito, que a Escuridão encontrou seu lar. Não fora por conta de sua personalidade bondosa, que morria cada vez mais que a Escuridão se embrenhava por entre sua alma, mas sim, pelos seus desejos mais obscuros. Irene sempre teve o coração bondoso, mas sempre guardou muitos segredos lúgubres.

Caminhou um pouco mais à frente, vendo os resquícios da antiga batalha atingirem com força a nostalgia intricada em seu peito. O antigo lar da Escuridão quase foi a pequena dobradora de água, frágil e fácil de manipular; sua ação foi similar a uma criança que brincava sorrateiramente com uma boneca de porcelana, ou como um adulto pisando em cacos de vidro. A Escuridão, por mais promíscua e manipuladora que fosse, sempre fora muito cuidadosa com sua escolha centenária.

Sabia que Taeyeon não seria compatível com seu poder, por mais poderosa que fosse, assim como a dobradora de fogo, terra e ar. Nenhuma delas serviria, afinal. Mas quando sua influência residiu no laboratório, sempre observou Irene. A humana. Tão frágil quanto a dobradora de água, tão impulsiva quanto a dobradora de fogo, tão desordenada quanto a dobradora de terra e tão curiosa quanto a dobradora de ar. Era a junção que sempre sonhou em ter, há mais de anos atrás.

A Escuridão era completamente culpada pelos atos inconsequentes de Irene, e a mulher tampouco sabia disso. Sua verdadeira forma estava adormecida dentro de si, pois agora, sua consciência pertencia à entidade ancestral do caos. Não era mais Bae Irene, ou Bae JooHyun. Era, como gostavam de nomeá-lo, Breu. Em toda sua magnitude e horror.

Saciaria os anseios obscuros da mulher, mas não por piedade ou senso de dever, mas sim, para executar sua função: instaurar o caos. A pequena e doce JooHyun nunca teria coragem para matar sua própria mãe. Nunca vingaria o fim de seu pai. Nunca abandonaria suas relações com o laboratório. Mas, aquela JooHyun sim. A JooHyun perfeitamente construída pelas ideias podres de uma entidade ancestral, que cultivou-a com seus sussurros ímpios até que começasse a realizar seus testes.

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