Meria passara os últimos dias na casa da parteira Jenny. Fora para a aldeia somente depois que não havia mais jeito de esconder a sua barriga. Durante um tempo seu corpo não mudara nada e só ela via alteração quando estava nua. As criadas que foram direcionadas para os seus cuidados pelos Yronwoods não eram muito zelosas. Ou talvez muito discretas, de forma que não mencionaram nada sobre seu ganho de peso e no começo passou desapercebida, nunca olharam muito para ela mesmo.
Meria chegara a tentar dietas para disfarçar o aumento do peso, tentara usar casacos e lenços para tampar a barriga mas chegou a um ponto que nada adiantara. Em um dia sua barriga era bem pequena e no outro simplesmente amanhecera duas vezes maior. Apesar do seu medo gostava da sensação de estar com a criança em seu ventre. Agora já dava para senti-la chutar, se mexer e com isso Meria não se sentia mais solitária, conversara com seu bebê e tinha muita curiosidade em ver seu rosto.
Seu plano era ficar com a parteira até ter seu filho e então retornaria ao Yronwoods com a criança nos braços, pediria perdão ao Ynus pelo constrangimento de ter a noiva grávida de outro homem e faria seu pedido principal. Depois disso pediria, imploraria se fosse necessário que a enviassem de volta a sua casa, ao Jardim das Águas. Havia algumas nobres e suas crianças bastardas crescendo lá, ela seria discreta e orava para que seu pai não estivesse mais tão zangado depois desses meses e não lhe negasse abrigo. A parteira lhe dissera que seu plano não daria certo, assim como dissera também que ela esperava uma menina mas ela seguia acreditando que fosse um menino pela única razão de chamá-lo de Doran. Seria Doran Sand. Doran em homenagem ao seu avô e Sand que era o nome que todos os bastardos de Dorne recebiam. Acreditara que com essa homenagem seu pai não os deixaria ao relento.
O único problema em seu plano era caso seu pai não tivesse finalizado o acordo de casamento de Allard com uma rica Lannister. Se ele ainda estivesse no Jardim quando fosse para lá como ela seria discreta?
Sentira saudades dele por todo seu ser. Chorara baixinho toda noite até dormir pensando que não ia mais retomar a vê-lo, pensando em como seria a vida dela se eles estivessem juntos. Ela o adorava desde criança mas ele não prestava atenção nela, era somente uma prima menor que via uma ou duas vezes por ano. Tudo mudara quando a dois anos atrás ele fixara residência no Jardim das Águas. Ele lhe contara, quando já eram íntimos, que quando chegara aos dezesseis anos fora lhe oferecido pelos pais um palácio na Campina ou um cargo político em Dorne. Ele escolhera por Dorne e desde então seus treinos para guerra triplicaram, ele passara a treinar com bastão todos os dias e retornara o treinamento com Areo Hotah. E seguia treinando até hoje mesmo já sendo um guerreiro excelente.
Assim, todos os dias ao lado de sua paixão de infância não tinha como passar despercebida. Allard era alto, bonito, criativo. Com longas pernas, um rosto gentil e afetuoso, ele logo conquistara seu coração totalmente. Se antes seu afeto era platônico, se antes ela o amava por ser belo e forte, convivendo com ele passara a amar cada uma das qualidades que ia conhecendo no cotidiano. Quanto mais o conhecia, mais o adorava.
Sempre fora porém, a mais tímida dentre as irmãs, a única que nunca havia tido um amante, já que sempre vivera com Allard em seus pensamentos, nenhum outro garoto do Jardim das Águas era páreo para ele. Por esse seu temperamento era a menos vigiada da família então se tornou mais fácil observá-lo de longe. Meria só não imaginara que ele fosse notá-la. No Jardim das Águas vivem muitas mulheres mais altas e belas do que ela. Só de irmãs ela tinha quatro em diferentes idades.
Porém ele reparara nela. E sempre que ele a notara Meria se sentia a mulher mais especial de todo a Westeros. Depois disso não demorou para que eles se envolvessem. O primeiro beijo acontecera depois de um de seus treinos, ele a abraçara suado e feliz e a beijara, como se fosse o gesto mais natural do mundo. Para Meria fora como estar nas nuvens, mesmo sendo a primeira vez que beijara um homem fora perfeito pois é uma mulher apaixonada. Aos poucos as carícias foram se tornando mais ousadas até que em uma festividade em homenagem a sua mãe ela se viu esquecida e fugira com Allard para um quarto de hóspedes afastado onde se entregara para ele sua virgindade. Meria amara cada momento dele próximo a si, dentro de si e a cada dia o romance dos dois parecia mais firme. Aos poucos ele não demonstrava mais tantos cuidados em serem discretos, houveram noites que ela dormira em seus braços e amanhecera com ele ainda nu em sua cama.
Mas no fim Allard começara a se comportar de forma estranha. Passara a ter segredos com ela, voltara a tomar cuidados, uma vez o pegara escondendo dela algum objeto assim que entrara em seu escritório. Ela não imaginara o que estava acontecendo até que um dia, em um chá com as mulheres do palácio o tema da conversa era que Allard tinha sido prometido a Lady Baratheon. E então para ela as mudanças fizeram sentido. Meria tinha um baixo dote e nenhuma propriedade para levar ao casamento. Era a filha caçula de seu pai, uma entre cinco irmãs. Não lhe restaria basicamente dinheiro algum se tivesse que sair do Palácio, seu título de Princesa era uma homenagem. Mas a Lady Baratheon não, essa mulher carregaria consigo para qualquer casamento muitas posses.
E fora em um desses dias onde ela só fazia chorar e não abrir a porta para Allard ou ninguém que seu pai lhe contara do seu casamento com Ynus. Abaixara a cabeça e escondera seu pesar. Passara a usar para sua tristeza a desculpa de que sentiria muitas saudades de sua mãe e irmãs. As convenceu tão bem porque uma irmã até viera lhe dar conselhos sobre o que Ynus iria querer dela na vida de casados.
Só se dera conta que seu sangue da lua estava atrasado quando já estava em Paloferro e não podia correr para avisar Allard. Como escreveria isso a ele por carta? Em quem confiaria para esse conteúdo?
Sua amiga recém-conquistada Lady Morgausse tentara convencê-la a seduzir Ynus pois ele não hesitaria em se casar com ela após isso. Mas ela não amava Ynus, sua mente e seu corpo só tinham espaço para Allard. Fazer isso não seria justo sua criança e muito menos com Sanguerreal que em pouco tempo entenderia que o filho não era seu. E dessa forma, com o tempo, nascera a ideia da fuga.
Na véspera de quando Ynus a encontrou a parteira viu no fogo um homem negro com uma cicatriz vindo buscá-la. Ela ficara temerosa, era cedo demais. Porém fora dormir naquele noite sem sonhos e rezando aos Sete Deuses que se Ynus aparecesse e lhe levasse de volta ao Jardim das Águas ela pudesse ter seu filho em seu quarto, em sua cama.
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A Princesa Desaparecida
DragosteFANFIC ASOIAF, romance inspirado em Dorne, um dos Sete Reinos criados por GRRM. Porém os personagens principais e o enredo foram estabelecidos por mim, os personagens como Tristante não representam spoiler da saga que serviu de inspiração. Dessa for...