[12] Nosso lugar que pertenceu aos mortos

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#ReginaGeorgeJaponesa

Tzuyu não soube o que aconteceu de imediato.

Sana talvez tenha sido mais perspicaz, visto que segundos antes do teto realmente cair ela já havia a puxado pela cintura e agarrado sua mão, ajudando a segurar com mais força a guia de Butter. Malditos reflexos de atleta!

Um barulho alto e estrondoso ecoou pelo local e uma fina nuvem de poeira subiu pela casa. Ao constatar que não tinha mais perigo, Sana e Tzuyu se afastaram quase que automaticamente.

— Essa casa tá aqui há seculos, umas milhares de pessoas vieram aqui usar drogas durante esses anos e essa porra só foi cair agora?! Vai se foder! — Tzuyu esbravejava, limpando os olhos molhados de lágrimas devido à poeira. — Você me traz azar, Minatozaki.

Mas Sana não respondeu, estava ocupada demais olhando para o chão. Apenas uma parte do teto caiu, deixando uma pilha de concreto no centro da sala de estar e um buraco do tamanho de Butter que permitia ver o andar de cima, Sana analisava atentamente a pilha de concreto, parecendo interessada. Tzuyu queria ir lá e ver o porquê, mas ao invés disso se agachou para conferir Butter, que tremia.

— Relaxa, amigão. Tá tudo bem. — murmurou, acariciando os pelos macios do labrador. Olhou irritada para Sana. — Ô nerd, não sei se você é fascinada por pedra ou o quê, mas nós quase morremos e o nosso filho tá assustado!

Sana se virou na hora, o cenho franzido.

— Nosso?

— Sim, guarda compartilhada. Ele é meu. — diz abraçando Butter, que enterrou a cabeça em seu ombro. — Tá vendo? É amor.

— O que... Tá, que seja. Eu acho que eu acabei de descobriu algo muito foda. Tipo, muito foda mesmo!

Tzuyu se levantou a contragosto, se aproximando junto de Butter para ver o motivo pelo qual os olhos de Minatozaki Sana brilhavam de animação. No entanto, não tinha nada. Nada além de madeira, vigas de ferro e pedaços de concreto que se tivessem caído em sua cabeça a mataria instantaneamente. Engoliu em seco com o pensamento.

— É, realmente muito foda essa porra toda não ter caído em cima da gente. Agora podemos ir embora antes que caia o resto?

— Chewy, pensa! — Tzuyu nunca havia visto Sana tão animada, parecia uma criança andando de um lado para o outro com um sorriso imenso no rosto. — Em 1953, por aí, ocorreu a guerra das Coreias, uma carnificina total, milhares de mortos. Depois da divisão da Península da Coreia, ficou duas partes, a norte e a sul. O líder da norte queria unificar as duas e ficar com a liderança só pra ele, esse fodido. Tropas norte-americanas invadiram aqui e por pouco não conseguiram o que queriam, os americanos entraram em nossa defesa e aí a China viu isso e ficou toda medrosa com medo e entrou no meio também. Enfim, uma puta guerra.

Tzuyu se encontrava de olhos arregalados. Em sua concepção, Sana não deveria saber esse tipo de coisa. Quer dizer, ela era a Regina George japonesa! Uma líder de torcida burra definitivamente não devia ter esse tipo de conhecimento armazenado.

— Ainda não entendi.

Sana ficou de joelhos no chão e começou a afastar as madeiras que faziam parte do teto antes.

— Eram tempos difíceis, ninguém sabia o que ia rolar. Sul-coreanos, norte-coreanos, soviéticos, americanos, chineses... Eles tinham que se proteger. — Sana explicava. Se levantou quando afastou o suficiente para que o tapete no chão da sala aparecesse e pisou no chão algumas vezes. — É oco!

— Sana, porra, inferno, caralho, explica!

— Quando o teto caiu, o barulho não foi normal. — a loira usou da força para terminar de livrar o caminho, usando das vigas de ferro para os concretos mais pesados. — O telefone é da década de sessenta, as datas batem. — ao terminar puxou o tapete empoeirado, e mesmo ofegante, uma risada incrédula escapou de seus lábios e Tzuyu não pôde deixar de ficar assustada ao ver a alavanca no chão. — Tem a porra de um bunker aqui embaixo.

Aulas Para (com certeza) VirgensOnde histórias criam vida. Descubra agora