[13] Se saíram vivas, é por conta dos dragões

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#ReginaGeorgeJaponesa

(esse capítulo apresenta gatilhos envolvendo armas, morte, sangue e suicídio)

Tiroteios em escola aconteciam a todo momento, ainda assim, ninguém nunca espera que aconteça logo na sua.

Pelo menos, Tzuyu não esperava.

Já havia parado para pensar sobre isso uma vez, após ver com sua mãe um documentário sobre um massacre que ocasionou a morte de vários alunos e professores. Na época, riu da possibilidade de acontecer algo do tipo no Lions. Afinal, era sua escola, via aqueles rostos toda semana e duvidava muito da capacidade de alguém pegar uma arma e sair atirando pelos corredores.

Mas agora, sentada no chão do terraço com as mãos trêmulas e o rosto molhado por lágrimas silenciosas, percebeu o quanto estava errada.

Sana tinha as mãos espalmadas na porta, a mantendo fechada. Não tinha tranca.

Nos primeiros trinta segundos, ouviu o verdadeiro caos lá embaixo, tênis arranhando o chão e gritos, muito gritos. Depois de um minuto tudo ficou em silêncio. Um silêncio agonizante e absoluto.

Foram três tiros. A julgar que esses três tiros foram certeiros, três pessoas foram atingidas. Três alunos. Três adolescentes. O pensamento fez seu estômago embrulhar.

Nayeon, Chaeyoung, Jeongyeon e Dahyun estavam lá. E se tivessem sido baleadas? E dessa vez, o pensamento a fez rir audivelmente. Sana se virou, a encarando como se ela fosse louca, o que só fez com que Tzuyu risse mais.

— Cara, ok, eu aceitei o lance da jaqueta e me conformei com o teto da casa caindo. — Tzuyu gargalhou. — Mas porra, essa foi demais. Você, de verdade, traz azar.

Sana fez um som de negação com a boca e foi em direção a ela, sentando ao seu lado com as costas encostadas no parapeito.

— Estar do seu lado traz uma série de eventos ruins. — comentou com humor, por mais que seus olhos estivessem sérios. — Lado positivo: estamos aqui em cima enquanto todo o resto está lá embaixo.

— Positivo? — Tzuyu a empurrou fraco com o ombro. — Atiradores depois de um massacre costumam cometer suicídio. E se a pessoa resolver vir aqui pra cima se jogar? Vamos ser as últimas vítimas.

Sana não respondeu, ao invés disso praguejou e resmungou.

— É verdade. Droga, eu não posso morrer ainda.

— Algum motivo específico?

— Não coloquei ração pro Butter hoje de manhã, eu estava atrasada e achei melhor deixar pra quando eu chegasse da escola. Merda, minha mãe vai demorar semanas pra lembrar que temos um cachorro.

O clima leve passou quase tão rápido quanto veio, o choque de realidade atingindo. Ouvir Sana falando desse jeito, como se não fosse grande a possibilidade dela voltar para a casa no fim da manhã, fez com que um medo desesperador atingisse Tzuyu.

— Está com celular aí? — perguntou Sana.

— Não, deixei na mochila.

— Merda... eu também.

Não queria morrer. Que graça tinha morrer aos dezessete anos? Tudo bem, sua vida tinha seus defeitos e suas partes ruins, mas não queria se desfazer dela ainda. Muitas, inúmeras, incontáveis coisas seriam deixadas incompletas para trás. A principal delas, sua mãe.

Céus, se morresse, sua mãe morreria junto. Tzuyu sabia que não existia dor pior do que a de uma mãe que perde o filho.

— Chou. — Sana a chamou de repente. — O que te impede de explodir o mundo?

Aulas Para (com certeza) VirgensOnde histórias criam vida. Descubra agora