[35] A jaqueta com o nome irrelevante e o plano infalível da felicidade

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#ReginaGeorgeJaponesa

— Você vai acabar se matando desse jeito.

Era um sábado sem sol. Depois de chover durante toda a noite, as ruas amanheceram molhadas e a temperatura fria o bastante para que seus ossos doessem e implorassem por descanso. Por este motivo, a pista de corrida geralmente cheia, não continha uma alma viva, todos renegando os exercícios diários em troca de um bom cobertor no conforto de suas casas.

Claro, ela era exceção.

— Eu não ligo. — respondeu, entregando a garrafa de água, decidindo que sua pausa havia acabado.

Não deixou de notar como sua voz saiu rouca e ofegante e como o simples movimento de abrir a boca fez seus pulmões queimarem com o ar gélido e cortante. Doeu como o inferno, seu peito subindo e descendo muito mais rápido depois disso.

A pausa muito necessária depois de cinco voltas seguidas ao redor da pista começou a ter parecido uma má ideia ao começar a sentir sua adrenalina baixar e automaticamente dores que não estavam presentes antes começarem a darem as caras.

— Sana, correr até desmaiar não vai fazer você esquecer nada.

Se virou para Jihyo, parando abruptamente os alongamentos. Sentada em um banco ao lado da pista, a Park não demonstrou nenhum indício de ter se arrependido de sua fala, a fala que remetia ao assunto estritamente proibido.

— Correr pela manhã estimula o metabolismo a queimar mais calorias, melhora o sistema imunológico e deixa o corpo mais preparado para competições. De quebra vai ajudar você a dançar melhor, já que você errou bastante no último treino.

Jihyo a olhou séria o bastante para fazê-la questionar sua escolha de palavras.

— Ok, eu estou falando com a capitã ou com minha amiga agora?

A pergunta pegou de surpresa, a deixando confusa por breves segundos.

— Sua amiga, óbvio. Que pergunta idiota.

— Então como sua amiga, eu vou mandar você ir se foder. Você não pode só silenciar o nome Chou Tzuyu da sua vida e fingir que não aconteceu nada.

Engoliu em seco, sua garganta de repente ardendo mais. Não, não iria falar disso. Não com Jihyo. Não com ninguém.

— Meu psicólogo recomendou a corrida, só isso.

Era uma frase que vinha usando com bastante frequência. Quando seus amigos descobriram que andava vendo o psicólogo da escola, comemoraram tanto que Sana acabou em um bar para brindar o feito - o que foi muito desconfortável, por sinal. Eles ficaram tão orgulhosos que não discutiam nada sobre suas atitudes desde que elas venham acompanhadas de um "meu psicólogo recomendou", e claro, Sana usufruía disso para poder continuar em seu limbo depressivo sem perturbações.

Seu psicólogo de fato recomendou a corrida. Não correr por horas independente do clima até que desmaiasse de exaustão, mas ainda foi uma recomendação médica, logo ninguém poderia impedi-la.

Jihyo suspirou e limpou o suor da testa com as costas da mão.

— Certo, ok. Só não exagera, tá? Eu vou voltar pra casa, não aguento mais correr.

— Tranquilo, pode ir, eu vou continuar.

Jihyo assentiu e se despediu para ir embora, caminhando dessa vez. A voz do psicólogo a incentivando a ser mais grata pelas pessoas ao seu redor invadiu com tudo sua cabeça e Sana praguejou baixinho antes de acrescentar:

— Valeu por... você sabe, ter vindo correr comigo nesse clima e tudo mais.

Jihyo se virou com uma expressão divertida.

Aulas Para (com certeza) VirgensOnde histórias criam vida. Descubra agora