CAPÍTULO 31

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Havia fogo em toda a parte. O bosque ardia, toda a vida contida nele era exterminada num incêndio veloz e demoníaco. Roubert vivia um misto de ódio e horror. Não suportava ver tanta morte, centenas de árvores, milhões de pequenas criaturas, pequenos e grandes animais, filhotes chamando pelas mães. Total desespero. Sentia com cada pequeno pedaço do bosque que queimava, o lamento das muitas vidas que se esvaíam. Aquelas chamas eram terríveis e se espalhavam com uma rapidez fora do normal. Era um pesadelo. Mas sabia que estava acordado.

Estava desnorteado e quase sem ação. Chocado, não conseguiu seguir seus companheiros.

Os gritos de Will, não eram suficientes para retirá-lo do transe. - Vamos Sr. Silfo, para o riacho, rápido! Vamos! - O rebelde perdia o fôlego e tapava o rosto com um pedaço de sua roupa rasgada. Seus olhos lacrimejavam, e seu peito ardia devido a fumaça quente. Não teria forças para gritar novamente.

Radishi entrou em ação, e mesmo sem enxergar o silfo, encontrou-o com sua mente. "Roubert, desperte!"

O silfo, ao escutar a voz do companheiro em sua mente percebeu que estava só, no meio de muita fumaça e chamas. Guiado pelo Tisamirense, aproximou-se novamente. Nunca chegaram a se afastar demais, mas a cortina de fumaça fez com que perdessem contato visual.

Radishi tossia muito e estava apavorado. Sentia uma presença maligna, um padrão de pensamentos aberrante, pensamentos de pura agressividade e nenhum sentido. Uma abundante fonte de emoção negativa. Forte o bastante para oprimi-lo, forte o bastante para apavorá-lo.

Vekkardi mantinha o controle e puxava o tisamirense pelo braço, enquanto avançava em direção ao riacho, seguindo o rebelde que acabara de conhecer. Pouco depois, suas botas estavam encharcadas. Tinham alcançado o riacho. Roubert sentia uma forte vontade de respirar a água, encher seus pulmões de líquido para combater a terrível sensação de ardor. A garganta parecia arranhada, rasgada. Respirar doía.

Will gritava, - Dentro da água. É nossa única chance.

Logo sentiam o corpo ser coberto pela água gelada. A correnteza era amena, e o riacho não era fundo. Se ficassem de pé, teriam água pela cintura. Desta forma, ficaram agachados, mantendo apenas a cabeça fora d'água. O fogo se alastrava e já tomava mais da metade do bosque.

Quieto, Radishi dirigia sua atenção para o monstro horrendo que voava acima do bosque atirando jatos e bolas de fogo quase sem parar. Tinha muito medo e sabia que se fossem encontrados não teriam chances de sobreviver. Da mesma forma que faria para humanos normais, Radishi forjou uma cúpula de pensamentos, mostrariam a qualquer um que olhasse na direção do grupo, a imagem do rio vazio. Não tinha idéia se isso funcionaria. Pediu para todos ficarem quietos e concentrou-se o máximo que pode. Concentrou-se de forma tal, que perdeu toda a noção do seu derredor. Não percebeu quando a criatura cruzou os céus acima de suas cabeças sem lhes dar atenção. E nunca soube, se fora sua concentração que os salvara ou mera sorte.

***

Fora do bosque, o cavaleiro Edréon observava as chamas altas consumindo toda a vegetação. Pensava muito no que acabara de presenciar. Nunca imaginara alguma coisa tão horrível em toda sua existência. Com que tipo de pessoas e seres estava se aliando? Verdade seja dita, viu alguns zumbis, mortos animados pela magia negra dos bruxos necromantes. Era assustador, mas compreensível. Tinha um primo que se formou mago na Alta Escola em Liont, e entendia que animar zumbis era como fazer voar pratos e outros objetos. Vira seu primo evocando feitiços diversas vezes e nunca se chocara. Tão pouco ficou impressionado com Zumbis. Mas aquele demônio. Aquilo sim, tinha feito com que o bravo cavaleiro quase perdesse o controle. Seu coração ainda estava acelerado e suava de pavor.

Observava os dois necromantes discutindo entre si.

- Mas é claro, Clefto, claro que vamos capturar os malditos rebeldes.

Maré VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora