CAPÍTULO 41

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– Viajou um bom bocado para vir falar comigo, caro Hendrish. – chiou a criatura de aparência tenebrosa, sentada atrás da grande mesa de madeira.

– Sim, Weiss. – concordou o homem cujas mãos eram permanentemente perfuradas por centenas de farpas de madeira. Havia pouca iluminação, apenas a chama de uma vela distante. Ambos mal podiam se enxergar. – Mas como sabe, a viagem é rápida no reino das sombras.

– Imagino que veio para falar-me do jovem Calisto.

– Sim. Não gostei muito do que houve em Fannel.

– Conte-me.

– O garoto aprontou um grande estardalhaço. Mostrou um demônio evocado em praça pública e brincou com todo nosso movimento. Ele assume riscos excessivos! Pode por tudo a perder!

– Entendo. Quase me arrependo de ter-lhe pedido para deixar o demônio solto.

– Pois deveria se arrepender. O maldito inclusive destruiu o nexo que guardava o demônio!

– É mesmo?

– E isso não é o pior. Resolveu tornar-se o grande salvador e caçador de demônios e rebeldes!

– Não diga, meu caro. E como acha que ele poderá sustentar isso, caro Hendrish?

– Ele é ardiloso! Convenceu o povo a se entregar, mesmo aqueles que sequer supõem o que realmente é a rebelião.

– E de que vale capturar camponeses que nada sabem sobre nós ou sobre a rebelião?

Hendrish pressionou a mão sobre a mesa, enterrando na carne diversos espetos. Com os dentes pressionados prosseguiu. – O maldito soltou alguns como prometeu, mas outros tantos, manteve sob cativeiro. Sem fazer distinção nenhuma se eles fazem parte ou não da rebelião.

– E daí? Quer chegar logo ao ponto?

– Deixou alguns terríveis carrascos encarregados de torturar toda aquela gente. Mais de cem, nos calabouços da fortaleza de Lorde Lenidil. Mantém o lugar fortemente guardado e espalha boatos entre alguns rebeldes que deixou escapar, que muitos inocentes estão sendo torturados e mortos. Com isso, já espalhou seu recado, exigindo que os verdadeiros rebeldes se entreguem.

– E tem dado certo?

– Sim, Weiss, tem funcionado.

– Mas isso não é bom?

– Ele está manipulando toda a província, exerce uma influencia sequer sonhada pelo próprio Lenidil. O próprio nobre, sente que lhe deve a vida e segue todas suas orientações.

– Isso só prova que é esperto, meu caro Hendrish.

– Sim, mas sua ambição parece não ter limites! Soube recentemente que planeja derrubar o barão Fannel e tomar seu lugar. Se não fizermos algo para detê-lo, poderá ir longe demais!

– Compreendo.

– E tem mais! Muito mais! O desgraçado fingiu prender Therd Fermen em uma cela no calabouço, mas na realidade o demônio está solto!

– Como assim, está solto?

– Ele fez um tipo de acordo com o demônio. A criatura ataca vilas e logo depois ele é chamado para impedi-lo. Ele e seus homens fazem um belo teatro e capturam o demônio, recolhendo presentes e recompensas. O maldito chegou a inventar um novo tributo! Tributo de proteção contra demônios e rebeldes!

– A coisa parece séria... Talvez precisemos tomar alguma providência.

– Talvez, Weiss... Esse menino é um perigo! Ele lida com vilas como se fossem brinquedos! Não tem nenhuma seriedade!

– Pelo contrário, caro Hendrish. Ele sabe muito bem o que está fazendo. Temos que tomar alguma providência. Mas antes, talvez seja necessário entrar em contato com Thoudervon.

– Tem certeza de que é necessário?

– Pois sim, imagino que ele já esteja tomando providências. Não podemos deixar que o grande plano seja colocado em risco.

Maré VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora