CAPÍTULO 14

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Os silfos do mar não eram tão desorganizados quanto alguns estrangeiros mal informados imaginavam. Possuíam uma cultura adversa, aparentemente sem leis, mas na realidade, constituíam um império. Um tradicionalismo profundo ditava as regras quase naturalmente nas mentes de cada membro do império. Obedeciam ao poder secular da nobreza e à ordem estabelecida entre os clãs. Em cada clã, havia o patriarca, ou matriarca, que desempenhavam papel semelhante ao dos reis em reinos humanos. Todos os patriarcas prestavam homenagens e eram submissos ao Imperador.

O navio do Capitão Shark perdera um pouco de sua dimensão e imponência. Estava entre centenas de outros navios e milhares de pequenas embarcações na baía de Aurin. Tendo o mesmo nome da baía, Aurin, era a maior cidade da ilha de Frai, principal ilha sob o controle do clã Farmin e a segunda maior ilha do arquipélago dos silfos do mar. O sol brilhava forte e fazia muito calor, um calor que seria insuportável para muitos habitantes do reino de Lacoresh, acostumados com temperaturas mais amenas no verão e geladas no inverno.

O clã Farmin era o maior dos clãs, e em suas ilhas encontrava-se a representação do que significava ser um silfo do mar. Os Farmin eram responsáveis por mais da metade do alimento produzido em todo arquipélago, pela defesa do Império, comércio e captura de escravos. Enfim, eram os mais ricos e influentes. Todavia, não era o clã dominante. Grande parte de suas atividades (e lucros) estavam voltadas ao abastecimento da Ilha de Thayfon, sede do Império e única ilha de todo o vasto arquipélago sob o controle do clã Mikril. Desde que o império fora instituído, os Imperadores e Imperatrizes saíam exclusivamente das altas castas do clã Mikril.

A política do Império Sílfico era complicada demais para a compreensão dos diplomatas vindos de reinos humanos. Havia sutilezas que só poderiam ser entendidas por alguém que tivesse crescido e vivido entre os silfos. O simples fato de possuírem uma vida aproximadamente dez vezes mais longa que os humanos já era o suficiente para distorcer o entendimento de comportamentos políticos e econômicos.

Kyle Blackwing e seus companheiros não percebiam, mas estavam prestes a penetrar neste ambiente estranho e hostil (principalmente para seres humanos), sem conhecer muito sobre sua língua e seus costumes.

Noran sentia-se melhor, o enjôo havia diminuído desde que o navio penetrara na Baía de Aurin. Estava exausto, pois mal pôde dormir durante o trajeto. Além disso, precisou concentrar suas energias para confundir e direcionar os pensamentos do Capitão Shark.

Kiorina havia recebido novas roupas e assim como os outros, fora acorrentada em fileira. Todos tinham correntes presas por grilhões na altura dos tornozelos ligadas umas às outras. Os braços estavam presos atrás das costas por algemas. Foram postos na lateral esquerda do convés em fila: Archibald, Noran, Georges, Kyle, Mishtra, Kleon e Kiorina. Fora da fila, ainda preso ao mastro e inconsciente estava An Lepard.

A quantidade de navios e pequenas embarcações à vista era assustadora. A cidade de Aurin era muito grande e sua visão causou grande impacto nos estrangeiros. Estendia-se ao longo de várias enseadas sendo que uma delas apenas comportaria em tamanho toda a cidade de Lacoresh. Dirigiram-se para um grande porto e ao chegar mais perto puderam perceber que havia pontes de pedra que entravam no mar estendendo-se por distâncias enormes. A meio caminho, havia uma grande extensão de areia na qual muitos barcos e navios estavam encalhados. A maré naquela região possuía uma grande variação, de forma que nas longas pontes navios podiam atracar para carga e descarga mesmo quando a maré estivesse vazia. Algumas construções na cidade chamavam bastante atenção. Principalmente torres irregulares e pontes suspensas. Algumas cobertas por conchas brilhantes outras por ladrilhos coloridos em formas abstratas, principalmente formando belas matizes com variações suaves do branco ao verde, de verde a azul e algumas extravagantes indo do violeta ao amarelo ou rosa ao verde.

Maré VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora