CAPÍTULO 57

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Era uma recepção grandiosa, apesar das dimensões modestas do salão de festas do castelo de Fannel. Calisto aguardava com certa ansiedade o momento de sua entrada. Há pouco dispensara seus criados pedindo para ficar a sós. Precisava de concentração e preparação para enfrentar a corte. Dali podia ouvir a música, as conversas e discussões sobrepostas. A noite já amadurecera e a sala em que aguardava era iluminada por algumas dúzias de velas. Os sons da festa ampliaram-se tremendamente indicando que a porta fora aberta. Calisto virou-se para encarar a figura que acabara de entrar. O jovem dos olhos do eclipse franziu a testa por um instante não reconhecendo a figura de Rayan. Seu espião estava muito diferente. Suas vestes finas faziam-no parecer um nobre e seus cabelos longos estavam guardados no interior de um chapéu triangular de abas estreitas.

– Rayan... – Calisto tentava ocultar sua ansiedade.

– Senhor.

Calisto arrumou a mecha de cabelo que com freqüência caia sobre a testa e perguntou, – Como estão as coisas?

– Fiz as investigações que o senhor pediu. Acho que as maiores ameaças estão sob controle.

– E o lorde de Vaomont?

– Imagino que esteja mais conformado.

– Rebeldes?

– Nenhuma atividade. Após a retaliação pela morte do Barão Fannel, sumiram por completo. Ouvi dizer que os que restaram deixaram a região.

– Para onde teriam ido?

– Fala-se no baronato de Lersh.

– Lersh... O barão veio para a cerimônia?

– Não, enviou seu filho. – Rayan sorriu e completou, – Igualmente gordo e mal-educado.

Calisto torceu o nariz.

– Senhor, tenho uma última notícia.

– Sim.

– Chegou a pouco uma comitiva de Whiteleaf. Praticamente um grupo militar encabeçado pelo próprio Barão Aaron.

Calisto ficou pensativo, não sabia se aquilo era bom ou ruim. Mas não houve tempo para uma elaboração maior. Um dos oficiais encarregados de conduzir a cerimônia acabava de chegar para convocá-lo.

A cerimônia foi longa, com uma série de rituais e formalidades. Ocorreu sob olhares e comentários de admiração, inveja, medo e bajulação. Ainda em sua preparação, quando soube dos detalhes e da demora, Calisto tentou argumentar com os oficiais encarregados. Achava aquilo tudo uma perda de tempo, porém, não havia como fugir aos argumentos trazidos por eles. Calisto apenas começava sua vida na corte e era hora de abraçar as tradições, não de negá-las. Os detalhes da cerimônia não propiciavam tempo para nada mais que cumprimentos e formalidades. Apesar da presença da Rainha, Calisto recebeu a titulação através do filho mais velho do Rei, Príncipe Serin.

Calisto detestou os detalhes religiosos ligados à sua titulação, mas em certo momento sentiu certo alívio por não ter tido o desprazer de um encontro com o Irmão Weiss.

A Rainha estava muito bonita, seu vestido bege e volumoso, era coberto por milhares de pedras preciosas reluzentes. Seu rosto recebera leve maquiagem e sobre sua cabeça descansava uma coroa delicada. Trocaram alguns olhares durante a cerimônia. Nestes momentos, Calisto percebia o olhar vigilante e malicioso de Hana. A filha do rei usava um vestido cor vinho apertado e com um decote generoso, quase indecente. Sua maquiagem era forte e seus movimentos gingados chamavam a atenção de muitos. Calisto chegou a pensar em vasculhar os pensamentos da princesa, mas havia muita gente no local e não queria correr o risco de ficar zonzo como já acontecerá. Precisava manter sua mente protegida.

Maré VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora