O bosque era um cenário triste e desolado, naquela manhã. O chão estava coberto por cinzas, brasas e pequenos focos de incêndio persistiam, aqui e acolá. Muita fumaça difusa, fazia o lugar parecer estar coberto por um forte nevoeiro. Troncos negros e retorcidos apontavam para os céus, com ramos pelados, sem uma folha sequer. Próximo ao rio, seguindo no caminho que levaria ao esconderijo dos rebeldes, Radishi captou fracos sinais vitais de alguém inconsciente.
– É um deles! – apontou Roubert.
Lá estava o necromante, coberto por fuligem, quase imóvel, ao lado de um tronco de árvore queimada.
Radishi disse, – Ele está mal, morrerá a qualquer momento.
Will aproximou-se e ergueu a cabeça de Clefto. – Certamente está mal, mas devemos salvá-lo.
Roubert indignado retrucou, – Salvá-lo!? Devemos deixá-lo, que morra, provando do próprio veneno.
Vekkardi pressionou os olhos e disse rouco, – Concordo com Will. Ele pode ser útil. Podemos obter informações importantes se o fizermos falar.
– Essa não era bem a ideia principal, mas se os convence... – disse erguendo o corpo do necromante e pedindo ajuda a Roubert com um olhar.
Roubert agachou-se e junto com Vekkardi, ergueram o corpo de Clefto, severamente ferido e apresentando algumas queimaduras.
– Tome cuidado com o braço! – advertiu o rebelde.
O silfo espantou-se. – Como ele pode sobreviver assim?
– Magia negra. – esclareceu Will. – Vamos até o riacho, precisamos limpá-lo primeiro.
Enquanto carregavam o necromante de volta ao leito do riacho, Roubert lembrava-se do Cavaleiro Vermelho. – Vocês acham que o Cavaleiro Vermelho escapou?
Will sorriu apesar do esforço que fazia para carregar Clefto. – Certamente. O Vermelho sabe se cuidar.
Pouco depois observavam o corpo de Clefto nú, sobre uma pedra. Tinha queimaduras no rosto, nos braços e mãos apenas. De alguma forma, sua roupa pode conter o calor evitando queimaduras. O braço direito, estava torto e a ponta de um osso lascado rompera a pele. O sangue estava estancado, uma casca negra, estava ao redor do corte.
Roubert rasgava as roupas de Clefto em tiras com uma faca, e Radishi buscava gravetos para talas. Will disse a Vekkardi, – Precisamos consertar o braço dele logo, senão poderá ficar irrecuperável.
– Mas como?
– Eu aprendi um bocado sobre isso, trabalhando com os Naomir durante a guerra.
– Você participou da guerra?
– Sim, ao meu modo. Meu avô sempre foi contra guerras, e acreditava que se juntar a elas resolveria pouca coisa.
– Há um mosteiro dos Naomir entre o baronato de Fannel e o baronato de WhiteLeaf, não é Will?
– Havia, mas foi queimado meses depois do incêndio no mosteiro próximo à cidade de Kamanesh.
– Não sabia. – Nesse momento Vekkardi observava um corte que Will fazia no antebraço do Necromante, para arranjar espaço para a recolocação do osso. Pediu ajuda e fazendo muita força, internalizou o osso. Deu uma série de puxões, aos quais Clefto não demonstrava o menor sinal de reação. Logo se deu por satisfeito e disse, – Acho que está no lugar. Ou ao menos, bem próximo. Roubert! Dê-me as faixas agora.
O rebelde que ganhava a cada momento, grande admiração por parte de Vekkardi, enfaixava o braço do necromante com habilidade. Em seguida, colocou talas, nos braços, na perna esquerda e no pescoço. Estava pronto para ser carregado.
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Maré Vermelha
FantasiaKyle e seus companheiros atravessam mares no navio, Estrela do Crepúsculo, com a ajuda do capitão Dacsiniano, An Lepard Baltimore. Durante a busca de salvação para Lacoresh, ameaçada pelas forças sombrias, enfrentam perigos nos arquipélagos sílficos...