12. Despertai

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Por dentro, o castelo era mais feio. Tinha o teto esburacado como o chão e havia brasões carcomidos e teias de aranha nas paredes. Atrás dos móveis, cadáveres de pequenos animais. Um cheiro acre exalava discretamente da tapeçaria.

– Posso saber o que você vai fazer? – gritou. A voz não ecoou, mas saiu alta demais. Sentiu-se mal por quebrar o silêncio tumular que imperava.

– Três vidas deviam ter acabado naquela noite, mashiyrra. Mas com meu dom eu impedi que isso acontecesse. Então quebrei o destino de muitas pessoas, inclusive o de Tesla.

– Você vai se vingar? Pretende nos trair? Ou me matar? – Sehn puxou a espada. A terceira frase veio temperada de receio, apesar das anteriores serem mais importantes.

– Não. O sacrifício tem de vir dos responsáveis por estarmos aqui. Você, assim como eu, é uma vítima.

Sehn gelou. Provavelmente os companheiros viriam chamá-los, estranhando o sumiço. Edgar não parecia o mesmo, quando conversaram na enfermaria ele estava diferente, mas bem. Agora, uma estranha sensação invadia Sehn, uma urgência, um frio esquisito que ele não sabia explicar. Queria correr para chamar os companheiros, mas teve medo novamente. Aquele ser não era Edgar, mas uma entidade maligna e pronta para destruí-lo.

– É assim que termina, Eddy?

– Não, é assim que começa. Eu ainda não vi como acaba. – Edgar respondeu friamente.

Reunindo toda coragem que lhe restava, Sehn virou-se para correr, mas sentiu um forte golpe nas costas e caiu.

– Você não vai a lugar algum, Hadjakkis. ­

Sehn perdeu o fôlego quando Edgar pisou em seu peito. Estava muito mais forte, apesar do corpo franzino. Seus olhos estavam vermelhos, não de lágrimas, mas de fogo. O coração de Sehn disparou. Edgar estava quente como o inferno e ele podia sentir o calor dali.

– Eddy, por favor, não faz isso!

Edgar sacou a espada e murmurou algo em um dialeto que Sehn desconhecia. As palavras tomaram forma, ondularam em energia cinzenta e penetraram o chão. O castelo começou a chacoalhar.

Sehn ouviu a sheyvet entrando. Tentou falar, mas a voz não saiu. A mãe era a primeira. Arregalou os olhos ao fitar Edgar, largou o elmo e sacou a espada.

– Filho, sai daí! – Sehn a ouviu gritar. Tentou se mexer mais uma vez, uma dor lancinante correu seus membros e ele abriu a boca para gritar, mas o som não veio de novo. Insistiu, o corpo reclamou. A voz de Edgar assaltou sua mente.

– Você não vai morrer hoje, Namid. Por que eu preciso de nós – Sehn tremeu quando a espada negra atravessou seu ombro, não foi só a dor, mas um choque terrível se espalhando nas entranhas. Fraquejou, era seu melhor braço para luta. Sentiu toda a força esvaindo e o sangue escorrendo. A mão abriu involuntariamente, o jovem percebeu os movimentos diminuindo aos poucos. Sehn gritou quando a espada foi retirada, dessa vez o som se propagou. Rastejou na sujeira. O tremor aumentou tanto nele quanto no castelo.

– Acorde, Tehom. Eu lhe dou seu sangue novamente – clamou Edgar.

Thyzar atacou Edgar, ignorando o filho. Sehn não conseguiu ver a luta, mas percebeu uma estranha claridade onde ela acontecia. Sua visão ficou turva e ele ouviu apenas sons de espadas chocando-se. Sentiu o corpo ser levantado, Aleantrus o puxava. Beatrix partiu para cima de Edgar.

– O que aconteceu? – perguntou Aleantrus.

– Ele quer trazer Tesla de volta – respondeu Sehn, percebendo o medo no rosto do pai. Virou a cabeça e se embasbacou com a luta.

O Baronato de Shoah - A Canção do Silêncio - Edição Wattys 2018Onde histórias criam vida. Descubra agora