Desdalain estava em polvorosa. Aeronavios cruzavam os céus em busca de lugares para pousarem e despejarem suas cargas, triciclos a vapor e carros brigavam por um espaço mínimo para estacionarem, a milícia corria de um lado para o outro para tentar manter a ordem e a Kabalah havia se retirado para Farhan, a capital, pois aquela era uma época em que poucos dos bnei shoah permaneciam na região.
Mesmo nesta confusão, Mary Hawthorn conseguia se envolver completamente nos preparativos do casamento da filha. Não só isso, ela simplesmente se esquecera de prestar atenção nos filhos e no marido, deixando-os viver suas vidas normalmente. Aquele foi um período de relativa paz dentro da casa Hawthorn, exceto quando Mary se lembrou de que a filha deveria comparecer aos ensaios do casamento e experimentar o vestido na costureira.
Aí a vida voltou ao inferno que era. Mary marcou os horários dos ensaios exatamente no meio da tarde, de modo a impedir os filhos de continuarem saindo para bares e arranjando confusão com militares. Ela ainda não aceitara a história do assalto e estava muito incomodada que até o marido defendesse os filhos de quaisquer acusações.
O ensaio daquele dia estava se aproximando, entretanto, Maya e Lukas ainda não tinham chegado ao Templo. Mary, segurando o buquê, batia o pé e olhava no relógio da parede. Cada movimento dos ponteiros parecia-lhe um desafio.
– A senhora deseja que eu vá buscá-los? – indagou o autômato que servia aos Hawthorn.
– Não, Allan, fique aqui comigo. Meus filhos não vão demorar a chegar. – Mary andou de um lado ao outro pela nave do templo, alguma coisa lhe dizia que aquele casamento era uma má ideia, mas ela não queria dar o braço a torcer. Se fosse para sua filha se casar, que fosse com um rapaz de boa família como Phillip. Apesar de ter trabalhado para os bnei shoah por um tempo, Mary era o tipo de pessoa que não gostava de luta nem de armas. Mas o principal motivo pelo qual não queria que a filha escolhesse outro homem era o segredo sobre a alma de Namid dentro dela.
As discussões com Karl eram constantes a respeito deste assunto. Porém, Mary sempre tinha medo que a filha entrasse para um mundo de guerra e destruição. Ela sabia que nenhum Hawthorn estava preparado para enfrentar inimigos tão poderosos, por isso fingia-se de tola e tradicionalista. Algum dia, entretanto, a verdade teria de ser revelada.
Mary rezava muito para que esse dia demorasse.
– Onde é que estão esses dois? – perguntou a si mesma em voz alta.
***
O carro derrapou na curva e bateu o pneu na guia. Não por causa da chuva, mas porque estava em alta velocidade. Maya não deu a mínima quando o retrovisor foi arrancado por uma árvore próxima demais. Pisou fundo e arrebentou os portões da mansão Fletcher.
A entrada da casa ficava em uma elevação, o carro reclamou, fazendo o motor gritar. Maya continuou ignorando-o, até que o veículo derrapou na estrada e guinou. Deixou que o carro voltasse, aproveitando a descida para não atolar. Passando pelo buraco sem ficar presa, girou o volante e a frente foi para a direita, o pneu saiu da terra e voltou para as pedras. Maya acelerou e subiu.
Já podia ver a mansão quando um tiro estourou o vidro traseiro. Abaixou-se por instinto, mas sabia que era um alerta. A segurança devia estar se aproximando por todos os lados.
Dando um cavalo de pau, parou na frente da casa, entre os carros dos Fletcher.
– Cretinos... – dizia enquanto abria a porta. A família estava no alpendre, assombrada com aquela invasão. Seguranças particulares corriam pelo jardim, apontando as armas para a jovem. Jacques Fletcher, pai de Phillip, sinalizou para que não atirassem. Porém, não os fez recuar.
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O Baronato de Shoah - A Canção do Silêncio - Edição Wattys 2018
خيال (فانتازيا)O Baronato de Shoah - A Cançao do Silêncio, venceu o Wattys em 2018 na categoria "Construtores de mundo"; está de volta ao Wattpad após uma pesada crise de antisedade que eu tive em 2018/19. Peço desculpas aos leitores por ter retirado a obra do ar...