31. Luta

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Sehn parou no limite da cidade e observou o rastro de destruição dos Legisladores. Sentiu vergonha do Império. Via seus irmãos presos como ratos covardes atrás do Templo de Shoah. Na época de seu pai uma guerra similar tinha acontecido e os soldados avançaram pelas ruas arrancando os Legisladores de suas camas e enforcando-os nas praças.

– Ridículo – sussurrou para si mesmo. – Fantoches destruídos por seus mestres, sem saber o quão poderosos são – um calafrio o fez se lembrar de Tesla. Uma sensação estranha. Sabia o que estava por vir, sabia que o segredo guardado em seu coração sobre os bnei shoah colocaria fim àquela gente num piscar de olhos. Mas também sabia que seus irmãos não mais existiram depois disso.

Mais importante que a morte ou a vida era a verdade, mas não teria coragem de contá-la a seus irmãos. A fábrica não existia mais, os tonéis estavam quebrados e as ruínas do prédio já eram ocupadas por bichos das montanhas.

Sehn enfiou a mão dentro da camisa e puxou o dragão. Era tão parecido com o torque que Kherlakain lhe dera. Se contasse a verdade, destruiria quaisquer relações entre os bnei shoah e os ggoyim. Se a ocultasse, poderia existir uma chance de viverem em paz. Precisava silenciar Edgar para isso, destruir os Legisladores de tal modo que eles nunca mais voltassem.

Sehn puxou as duas espadas e as cravou no chão. Ajoelhou-se e começou a rezar. A espadasserra rugiu e destruiu o chão ao seu redor, girou e ficou com o cabo virado para Sehn. A espadarco vibrou, provocando um silvar baixo, depois tombou da mesma forma. mashiyrra e arur estavam prontos. Sehn embainhou as armas.

Na cidade, Edgar notou a presença do inimigo. Um formigamento invadiu seu corpo; uma emoção forte, parecida com a angústia e a tristeza, invadiu seus pensamentos. Sabia que Tesla estava morto e Sehn vivia.

– Chegou a hora – disse a ninguém. – Você voltou para mim, Namid.

Os Escolhidos caminharam rumo a seus destinos.

***

Aquilo não era uma rua, era o Sheol. Pensava Dante enquanto guiava o carro como um louco através de tiros, entulho, corpos e batalhas. Viu um aeronavio se arrebentar contra uma casa, um jipe pegando fogo com os passageiros dentro e dois autômatos serem feitos em pedaços ao tentaram salvar seus donos.

Distraído, quase atropelou dois sujeitos que atravessaram a rua repentinamente. Apesar das explosões e do caos, nada se comparava ao embate entre os irmãos Hawthorn no banco de trás.

– O que você estava pensando? Você poderia ter morrido! – berrou Maya, chorosa.

– Não é da sua conta, some da minha vida. Agora que resolvi fazer alguma coisa, você vem querer me punir? – retrucou Lukas.

– Lukas, por Shoah, matar os soldados não vai trazer Andrea de volta!

– E se trouxer? Hã?

– Você não pode estar falando sério, Luk.

– Se você acha. Mas eu descobri um jeito, Maya. Aqueles sonhos... eles eram mensagens de um amigo me dizendo como salvar a Andrea – Dante olhou pelo retrovisor, acompanhando o relato, um calafrio percorreu sua espinha. Lembrou-se de quando Tesla tentara ressuscitar a mãe. Poucos sabiam que Beatrix não havia gerado o menino e que ele era, na verdade, fruto de uma traição de Dante.

– Maya, eu quero justiça! Esses homens têm que pagar pelo que fizeram. Você não gostaria de se vingar de Edgar pelo que ele fez a Sehn? Quantos pais e mães não tiveram seus filhos mortos por convencionais bêbados que abusaram de seu poder?

– Como você pode dizer isso, Lukas? Olhe no que você se transformou. Fala de mortes, mas fez o que? Destruiu a vida dos soldados que mataram Andrea e de inocentes. Não era isso o que você estava fazendo? – eles estavam chegando ao centro, bastava atravessar a ponte e se reuniriam aos demais. Dante pensava numa estratégia, mas com a cidade sitiada, não conseguiria tirar os Hawthorn dali sem ajuda.

O Baronato de Shoah - A Canção do Silêncio - Edição Wattys 2018Onde histórias criam vida. Descubra agora