30. A noite das facas longas

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Kadriatus estava para sair da taverna quando uma flecha atravessou-lhe a perna e ele tombou. Um soldado correu e chutou-o. Em seguida, fechou a porta da fuga e arrastou seu corpo para o meio do salão. Jogado entre tantos corpos moribundos, o kiy era uma presa fácil. Ao seu redor cinco soldados soltavam os arcos e sacavam as espadas.

– Ah, um Guardião. Ainda não matamos nenhum, matamos? – O líder deles comentou triunfante, antes de chutar a cara do prisioneiro. Kadriatus caiu de costas no chão e sua espada bateu contra o pé de uma mesa. Os homens olharam para a arma, depois para as mãos dele.

– Mais um monstro da Kabalah? – o soldado agarrou seus braços e estendeu sobre a mesa.

– Cortem! Vamos dar a esses desgraçados aquilo que merecem. – Seu companheiro sacou a espada de Kadriatus. Era uma arma fina, elegante e curvada.

– Que porcaria é essa? – indagou o homem.

– Se chama katana, seu inculto – respondeu Kadriatus, calmamente.

O primeiro soldado deu o golpe, a lâmina bateu contra as luvas e vibrou. Aproveitando o susto, Kadriatus chutou o joelho daquele que o segurava e o jogou contra a espada do amigo. Acompanhou o movimento e empurrou os inimigos, deu um salto para trás, meio desengonçado e agarrou a katana.

O líder tentou flanqueá-lo. Kadriatus puxou a espada para si e deu-lhe um golpe com a chapa da lâmina. O elmo do Legislador tiniu como um sino e ele perdeu o equilíbrio. Kadriatus empurrou o homem em cima dos aliados e começou a estocar seu corpo. Os demais tentaram se desvencilhar, mas o corpo do líder pesava e as armaduras os impediam de se mexerem. Acabaram morrendo pelo excesso de proteção. Mais soldados apareceram na entrada da taverna. Por sorte, Diren surgiu atrás deles, golpeando-os enquanto sacavam as armas.

– Por que não correu?

– Eles trancaram a porta! – respondeu Kadriatus, bravo.

Diren olhou para o rombo na parede, ergueu as sobrancelhas.

–Não viu isso?

– Andou tendo aulas com Dante?

– Não, Beatrix – vinte soldados entraram disparando com os arcos. Kadriatus soltou a espada e agarrou duas flechas, que iam atravessar a cabeça de Diren. O arur respirou aliviado, jogou a machete contra um dos Legisladores e saltou para o meio deles, chutando e batendo.

– Desdalain acordou – disse enquanto arrancava a machete do defunto.

– Vamos sair daqui, depois conversamos.

Kadriatus agarrou a katana de volta e correu com Diren. Se jogaram pela parede destruída e saíram no beco. A moça tinha desaparecido. Atravessaram a rua e quase foram atropelados por um carro desgovernado.

Depois de muito correr, encostaram-se a uma parede de esquina. Dali, tinham a vista completa das ruas. Numa delas, triciclos das milícias formavam uma roda, tentando impedir os Legisladores de avançar. Noutra, um pequeno grupo de convencionais se enfileirava, atirando com suas baionetas nos invasores. Eram apenas vinte pessoas, provavelmente soldados que haviam se encontrado no meio da bagunça.

–Ajudá-los – Diren avançou, mas parou quando Kadriatus não se mexeu.

– São apenas ggoyim.

– E... salvam vidas... sem questionar... – replicou o arur com dificuldade. Kadriatus meneou a cabeça, pensando no absurdo que acabara de falar. Partiu com Diren contra os Legisladores e os atacou pelas costas.

– É a Kabalah! – gritou um convencional. Kadriatus e Diren continuaram atacando, não enxergavam direito o que estava no caminho, suas espadas subiam e desciam, como se desbravassem a mata virgem. Tiros ricochetearam nas armaduras dos inimigos, os convencionais atiravam.

O Baronato de Shoah - A Canção do Silêncio - Edição Wattys 2018Onde histórias criam vida. Descubra agora