O cemitério onde a família Hawthorn tinha um terreno ficava na área mais afastada de Desdalain. Era um terreno plano, bonito, com vegetação baixa exceto pelas bétulas. Tinha um templo e um lago, estátuas em cada corredor e uma loja de flores e caixões, onde as famílias organizavam os funerais.
– Você tem que parar de se torturar desse jeito – Lukas falou, aproximando-se de uma laje tumular. Maya estava em frente a ela, de cabeça baixa, quieta. Voltara a usar roupas caras e os cabelos estavam bem tratados e perfumados. Nem parecia a mulher que desafiara o exército.
A ruiva, com os olhos vermelhos de tanto chorar, não respondeu ao irmão. Permaneceu quieta, rezando pela alma daquele soldado. Lukas parou ao seu lado, mas não rezou. Ficou esperando a irmã se pronunciar.
Ambos dividiam a culpa pela morte daquele soldado, mesmo não sendo indiciados pelo crime. As versões oficiais contavam que os irmãos Hawthorn foram assaltados por um grupo e o pobre soldado convencional, Sanmuel, tentara salvá-los, porém, ao custo de sua vida. A ponte recebera seu nome, como uma homenagem ao convencional que era um exemplo de altruísmo e ousadia.
Como Albert, por vergonha de ser humilhado por dois adolescentes, desapareceu, e o outro soldado que o acompanhava confirmou a versão, o exército deixou por isso mesmo.
– O que deu em mim para enfrentar um soldado de mãos nuas? – Maya perguntou de repente.
– Ele ia nos matar – falou Lukas.
– Ia mesmo? Ou aquilo era só outra briga de bar? Já parou para pensar que nós começamos isso, Luk? – diferente do irmão, seu arrependimento não diminuíra. Maya visitara a família de Sardeck diversas vezes até ter certeza que a esposa e a filha pequena do soldado estavam bem. Em nenhuma dessas visitas ela contou a verdade.
– Nós? Mas eles provocaram! – o irmão argumentou. Na verdade, falava mais para si mesmo, tentando se convencer disso, do que à irmã. Porém, em seu íntimo, sabia que estava errado, ou, no mínimo, enganado.
– E nós continuamos – ela replicou.
– Você sabe tanto quanto eu, Maya, se tivéssemos parado, eu não estaria aqui hoje. Eu vi a raiva nos olhos daquele homem. Ele não ia nos deixar viver.
– E por isso eu tinha de matar? Era a única alternativa? – Maya se virou para Lukas, os olhos mareados.
– Nós o enterramos, não? – Lukas respondeu virando o rosto para o lado oposto.
– Era o mínimo que podíamos fazer. Você viu a forma como a filha dele olhava para gente? – Maya retrucou. – Desde aquele dia eu não consigo ter uma noite de sono tranquila. Queria que Sehn estivesse aqui.
– Essa era outra coisa que eu deveria te dizer. – complementou Lukas.
– Que foi? – Maya entrou na frente do irmão e segurou seu queixo, de modo que ele não pudesse mais desviar os olhos. Dessa vez não foi necessário, ele afastou a mão da irmã e lhe contou:
– Maya... sobre seu casamento...papai me disse que... Papai conversou com o senhor Fletcher ontem, Phillip fez uma proposta de casamento a você.
– Como é? – Maya gritou revoltada.
– Exatamente o que você ouviu. Mamãe o convenceu a aceitar o pedido, e como nenhum dos dois sabe da promessa que você fez a Sehn, eles decidiram ajeitar as coisas. Desculpe não te contar, Maya.
– Não pode ser, eles não fariam isso comigo. – Afastando-se, Maya chutou uma pedrinha para longe. Enfiou a mão dentro da blusa e retirou a fada de prata. Ficou com ela entre os dedos.
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O Baronato de Shoah - A Canção do Silêncio - Edição Wattys 2018
خيال (فانتازيا)O Baronato de Shoah - A Cançao do Silêncio, venceu o Wattys em 2018 na categoria "Construtores de mundo"; está de volta ao Wattpad após uma pesada crise de antisedade que eu tive em 2018/19. Peço desculpas aos leitores por ter retirado a obra do ar...