Sehn acordou por causa da dor. Fora uma noite difícil, onde sonhos se mesclavam a seu último minuto de consciência e a mente trazia de volta cheiros e barulhos da queda na floresta. Havia uma fileira de vinte camas ao lado da sua. Exceto por uma, todas estavam desocupadas.
O braço esquerdo estava imobilizado. O corpo cheio de ferimentos deixava mais do que claro seu estado lamentável. Os olhos ardiam, a boca estava seca, uma das pernas tinha um curativo enorme, e o peito guinchava quando respirava. O simples movimento de se arrumar na cama para ver melhor o ambulatório quase o matou. Uma mashiyrra cuidava do paciente a três camas de distância. Era Diren.
O amigo não estava tão machucado. Provavelmente utilizara sua agilidade superior para não ser arrebentado pelas árvores. Havia uma queimadura em seu braço direito e a perna esquerda estava enfaixada. Nenhum dos dois notou que Sehn acordara.
– Alguém morreu? – perguntou Sehn. Eles não ouviram. Presumiu que havia falando baixo demais e repetiu a frase. Sua garganta ardeu.
– Finalmente você acordou – comentou Diren. A mashiyrra se espantou, colocou os instrumentos médicos em cima da cama e saiu em disparado, Sehn mal a ouviu dizer.
– Já volto, vou chamar os kohanim.
– Quantos dias eu dormi? – Sehn perguntou. Mexeu o braço direito, não parecia haver nada de errado. O esquerdo incomodava. Não sentia a mão.
– Não foram dias, foram meses. Três, para ser mais exato. Você ficou em coma, como Kadriatus e Nadja. Eu tenho que ficar vindo para cá toda hora, eles não param de me examinar – respondeu Diren, cansado.
– E a sheyvet? – Espantado com o longo tempo que dormira, resolveu se informar de tudo. Parecia que havia piscado. As informações voltavam aos poucos, o cérebro ainda não havia despertado por completo, o que tornava os movimentos difíceis. Flashes da luta toldavam-lhe os pensamentos.
– Depois que o aeronavio foi derrubado, o Titã ajudou Edgar a fugir. Beatrix tentou impedi-lo, mas foi queimada viva. Seus pais sobreviveram, mas...
– Mas o quê? O que aconteceu com eles, Diren? O que aconteceu? Como assim Beatrix morreu? – colocou um pé para fora da cama, apoiou-se e levantou.
Os kohanim entraram nesta hora. A mashiyrra junto.
– Quero ver meus pais! – gritou Sehn. – Me soltem! – os Sacerdotes o agarraram e o obrigaram a deitar. Ele tentou lutar, mas com uma só mão era impossível.
– Calma, Sehn. – Diren pediu, os olhos mostarda começando a umedecer.
Demorou um bom tempo para Sehn se acalmar. Ele gritava e se debatia, a faixa de sua mão esquerda ficou encharcada de sangue. Quando finalmente desistiu de lutar, foi solto pelos kohanim e colocado numa cadeira de rodas.
– Para onde vocês vão me levar? – perguntou.
– Não se preocupe – respondeu Diren – Dante faz questão de falar com cada um de nós assim que acordamos. Há algo que você precisa saber. Ele passou os últimos meses empenhado em nos manter a salvo.
– O que é que ele tem para falar? Mais mentiras? Eles nos enganaram, Diren. Todos eles! Acreditamos neles e nos enganaram.
Sehn não ouviu se Diren respondeu, foi levado para o corredor, onde mais um kohanim desconhecido tomou o controle de sua cadeira e o levou para fora. Percebeu que não estava no Cenóbio, mas numa base militar próxima às montanhas. Já estivera ali no primeiro ano de treinamento. Era formada por seis prédios, que, do alto, tinham o aspecto de uma estrela de seis pontas.
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O Baronato de Shoah - A Canção do Silêncio - Edição Wattys 2018
FantasíaO Baronato de Shoah - A Cançao do Silêncio, venceu o Wattys em 2018 na categoria "Construtores de mundo"; está de volta ao Wattpad após uma pesada crise de antisedade que eu tive em 2018/19. Peço desculpas aos leitores por ter retirado a obra do ar...