16.

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Serkan

A tensão é quase palpável.

Encaro meu pai que me olha de volta com seu sorriso cínico nos lábios. Cada vez que o vejo, cada momento em que nos encaramos ou que lembro que tenho um pai como ele, sou obrigado a reviver coisas das quais odeio lembrar. A energia boa e leve da minha mãe se esvaindo assim que ele chegava em casa, como seu sorriso se tornava fraco quando estavam juntos, como ela ficava triste mas engolia essa tristeza somente para que eu não sofresse ou fizesse perguntas as quais ela não seria capaz de responder.

A arrogância, o modo rude com que olha para as pessoas, a falta de afeto no olhar de meu pai, isso nunca muda, nunca mudou e ele nunca fez um esforço considerável para que isso acontecesse. Mesmo assim continua vindo até mim quando quer alguma coisa e sei que quer alguma coisa porque, apesar de sempre estar presente nos jogos, por puro interesse na imagem da sua empresa patrocinando nosso time, ele se limita a acenar de longe para mim quando ganhamos.

O rosto sério passa de mim até Eda que está tão agarrada ao meu braço que sinto que ele está dormente. Talvez seja o peso do nervosismo por conta da situação em que estamos, o ar pesado como se cabeças estivessem prestes a rolar.

Ele abre um sorriso que não é sincero, nunca é sincero e então volta a olhar pra mim. — Não o vi nos últimos dois jogos filho.

Evito fazer uma careta pela preocupação fingida e pela palavra “filho” que ele pronunciou como se realmente entendesse o significado. — Estive com alguns problemas de saúde. — me limito a dizer. Continuamos nos encarando. Não tenho porquê perguntar a ele se está bem, como anda a vida, não quero saber. Não há nada dele que eu queira. Não mais.

Ele apenas assente e volta a olhar para Eda do meu lado, o sorriso continua ali. —Alptekin. — ele diz, com a mão estendida na direção dela. Eu não me importaria se ela recusasse o aperto de mão, mas não é o que Eda faz, com muita relutância ela solta minha mão e estende o braço para o meu pai.

— Eda. — viro minha atenção até seu rosto pálido, parece que está prestes a desmaiar.

Passo meus dedos por seu rosto assim que ela solta a mão de meu pai. — Está tudo bem? — pergunto avaliando seus olhos. Ela apenas assente e forma um sorriso fraco no lábios, mas conheço o bastante dela para saber que seus olhos dizem outra coisa, existe algo que está a incomodando, algo que decido perguntar quando estivermos sozinhos.

— Quero que vá até nossa casa no próximo feriado Serkan! — meu pai fala, o tom autoritário. Me pergunto como ele acha que esse tom vai me convencer a ir até aquela casa de novo. — Nem pense em recusar. — ele diz, antes que eu pudesse formar um “não” com a boca. — vamos almoçar juntos, em família e então conversar sobre algumas questões. Não recuse ou...

As ameaças. Sempre com ameaças, porque Alptekin não pode ter nada sem ameaçar no processo. Sei o que ele vai dizer. “Não recuse ou sua faculdade não será mais paga ou o patrocínio de seu time está acabado”. Não sou burro a ponto de pensar que o patrocínio dele não fará falta. Fará, caso ele resolva desistir. Me pergunto se caso eu não fosse bom no que faço ele ainda assim daria seu dinheiro para o time. É claro que não, ele só aposta naquilo que rende boa visibilidade para ele mesmo.

— Tudo bem, eu vou. — me limito a dizer. Estou um pouco curioso sobre o motivo de ele me querer lá com tanto afinco. Em todos esses anos, desde que minha mãe se foi ele não pediu uma vez sequer para que eu comparecesse a nada naquela casa. Agradeço aos céus por isso, mas agora parece diferente.

Ele faz mais um aceno com a cabeça para a minha desistência em discutir o assunto. — Tenham uma boa noite. — diz e se vira indo embora.

Minha atenção estava tão voltada ao homem que perturba meus pensamentos que não percebi que havia outra pessoa ao seu lado. Não percebi até que meu pai tivesse se virado para ir embora. Não reparei até que a forma dele estivesse no canto de meus olhos. Ele ficou alguns segundos a mais olhando para mim com um sorriso nos lábios e então voltou seus olhos até Eda, o sorriso aumentou quando ele inclinou um pouco a cabeça para a direita e então se retirou antes que eu pudesse perguntar se ele tinha perdido alguma coisa no rosto dela.

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