Epílogo II

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4 anos mais tarde...

Janete


O gramado em que estou é maior que qualquer outro.

Não sei porquê mamãe me trouxe a esse novo gramado mas eu amei muito, ele tem um cheiro gostoso e um gosto melhor ainda.

Já fazem duas semanas que estamos ness gramado novinho e eu que não vou reclamar, se é aqui que mamãe e papai querem ficar estou bem com isso.

Claro que a graminha deliciosa continua não me satisfazendo por isso mamãe ainda me trás cenourinhas frescas que me fazem suspirar de pura felicidade.

Com passos moderados e elegantes caminho pelo lindo gramado em direção a casa.

Mamãe disse que era para que eu pudesse correr e brincar com muito mais espaço do que na casa anterior. Ela chamou de fazenda e eu amei.

Agora tenho um amigo pato que só faz “qua”, tentei manter um diálogo com ele mas não dá pra continuar uma conversa com um animalzinho que só pronuncia uma sílaba.

Ainda bem que meus amigos que são pessoas me entendem.

Meus pezinhos ecoam a cada passo que dou na madeira da escada até alcançar a varanda onde mamãe me espera com uma tigela cheia de manga picada.

Eu também amo manga.

Ouço um barulho de carro e por isso sento nas patas de trás observando o veículo se aproximando com nossa visita inesperada — pra mim pelo menos.

— Vê Janete, Serkan está vindo.

Ah, Serkan. Eu amo muito ele, sempre fico feliz quando ele vem porque ele tem o melhor abraço e conversa muito comigo.

— Ele tem uma surpresa pra você.

A voz de mamãe está radiante e cheia de algo que aprendi a identificar como felicidade.

Surpresa? Será que é um lote fresco de cenourinhas ou talvez algumas folhinhas de alface bem verdinhas?

Eu amo folhinhas de alface.

Levanto as orelhas para escutar com toda a minha atenção qual é a grande surpresa para qual devo me preparar.

Talvez seja algum modelo novo de roupa para alguma sessão fotográfica.

Mamãe fica eufórica sempre que novas sessões fotográficas são marcadas e eu também.

Os banquetes nas sessões fotográficas são incríveis, há cenourinhas que como eu já disse são meu ponto fraco e também muitas frutinhas gostosas e docinhas.

Me perco um pouco pensando nas comidinhas deliciosas, tanto que minha boca chega a salivar, até que Eda aparece em minha frente movendo meu foco para ela.

Eu gosto dela, ela faz um carinho gostoso sempre que está por perto e tem um cheiro bom, bom como as cenourinhas mas não mordo ela porque sei que seria algo pelo qual mamãe me repreenderia.

E eu sou uma boa garota portanto não mordo meus amigos.

E Eda é minha amiga.

Ela sorri pra mim e se agacha afagando minha cabecinha entre as orelhas. Logo atrás dela Serkan aparece e trás algo nos braços. Um embrulho. Talvez brinquedos novos, um escorregador?

Eu sempre quis um escorregador só pra mim. Quando vamos passear no parque eu sempre peço a mamãe por um ou pelo menos para que ela me deixe escorregar uma única vez.

Isso nunca acontece então apenas observo aquele monte de pessoas pequenas escorregarem.

Olhando o embrulho com mais atenção não pode ser um escorregador, ele não caberia ali. Droga.

O embrulho parece muito com aquele da vez em que Serkan me apresentou Anelise ou que Julia apresentou Chloe.

Ah ali está Anelise sorridente e saltitante, ela tem muita energia.

A mantinha cor de rosa — como meu enfeite na cabeça — se mexe exatamente como Anelise e Chloe se mexeram quando eram uma pessoa bem pequenina.

Elas ainda são pequeninas mas agora podem correr pelo gramado comigo o que me deixa muito feliz.

Olho desconfiada para o emaranhado de tecido. Por que eles estão trazendo tantas pessoas pequeninas afinal?

— Janete, nós viemos te apresentar a Amélia. — Serkan se senta no degrau bem pertinho de onde estou e o embrulho em seu colo fica mais evidente na minha linha de visão.

Ela é idêntica a Anelise quando fomos apresentadas.

Não sei de onde Serkan está tirando tantas pequenas pessoas assim mas se todas forem minhas amigas eu vou gostar e é o que digo a ele.

Recebo um abraço apertado e aconchegante de Serkan e todos nós seguimos para o interior da casa onde papai — aprendi a chamá-lo assim já que ele colocou uma argola de ouro no dedo de mamãe — está a nossa espera na cozinha.

As pessoas ao redor, meus amigos, mamãe e papai estão sorrindo e conversando.

Meu amigo pato me encara e faz “qua”.

Pego um cenourinha na tigela e mastigo sentindo o gosto doce invadir minha boca.

Recebo um carinho da mãozinha pequena de Anelise que me convida para correr lá fora no meu novo gramado favorito.

É claro que não recuso.

Eu amo correr e amo Anelise.

Acho que vou amar Amélia também quando ela puder correr.

— Vem Janete. — Anelise grita do meio do gramado.

E eu vou, saltitando.

A vida é muito boa. A vida de uma cabra com suas pessoas favoritas é melhor que muito boa.

Fim.







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