Cap 2

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Alex saiu cedo para sua viagem, sequer despediu-se da esposa, tampouco dos filhos.

- Mãe, a senhora vai na empresa hoje? Queria uma carona. - Davi falou, parecia atrasado.

- Claro, irei sim, deixo você e seus irmãos, depois vou. Nicole! - ela chamava a filha. - Vamos, minha querida, estão atrasados.

Lá estava outra vez a rotina de Maísa. Ela e o marido tinham um escritório de arquitetura juntos, isso há mais de quinze anos. Maísa era a melhor, mas por dedicar-se aos filhos, se afastou muito do seu trabalho. Nesse meio tempo, Alex ficou quase como único dono, Maísa estava com toda atenção voltada aos três filhos.

- Dona Maísa, deixaram isso para senhora. - era a assistente do escritório, Benita.

- O que é? E quando vai parar de me chamar assim? - ela a olhou séria mas queria rir.

- Acho que... são rosas. - Benita estranhou, mas não mais que Maísa. Eram seis flores e um cartão. - Fora daqui chamo de Maísa de novo. - riram antes de ficarem sérias outra vez.

- Que estranho, não tem nome? - ela sabia que não seria seu marido, jamais em sua vida lhe mandou rosas, eram sempre as mesmas mas jamais rosas.

- Não, mas olha só, tem um cartão. - Benita brincou, adorava a presença de Maísa no escritório. Ela sorriu e saiu.

Maísa abriu o cartão. O que havia lá era somente um endereço, mas não um endereço qualquer, ela conhecia aquela avenida, não era tão longe de onde morava. Lá havia também um horário. Maísa estava nervosa, seu coração bateu forte, nada havia ali, nem um nome, uma assinatura, nada.

Pouco conseguiu trabalhar nas horas seguintes. Era final de tarde quando se preparava para sair, resolveu ligar para os filhos e dois deles já estavam em casa, menos Davi.

"Parece que falo sozinha, onde você está?" [18:04]

"Calma, mãe! Estou com uma amiga mas não demoro chegar. Beijo." [18:09]

Maísa respirou fundo, pegou sua bolsa e levantou. Resolveu que antes de ir a sua casa, iria passar em frente a este lugar, afinal, que mal teria?

- O que eu estou fazendo... - falou baixinho para si enquanto chegava perto do endereço descrito.

Ao notar uma certa quantidade de mulheres entrando no lugar, ela finalmente avistou um nome, Escola de dança. É claro que havia um outro nome, mas ela não conseguiu enxergar de longe. Resolveu descer. Enquanto se aproximava, ouvia como uma música ao longe.

- Boa noite! Aluna nova? - uma moça que saía falou para Marisa.

- Boa noite... aluna?

- Oh, não se preocupe, todas ja estivemos nesse lugar. - a mulher brincou. - A sala é aquela ali, espero que goste, é a melhor professora, as turmas só não são mais cheias porque controlam. Preciso ir, boa noite!

Ela lhe abraçou de lado e logo saiu. Maísa estava perdida com tantas informações, afinal, o que era aquilo? Caminhou com cuidado até a sala, abriu a porta devagar enquanto via um espaço preenchido somente por mulheres.

- Ok, essa noite aceito a Adriana para dançar comigo. - a mulher que parecia a professora disse, enquanto as outras mulheres sentaram no chão em um círculo.

A Adriana se levantou, as luzes caíam e logo elas começaram a dançar.

- Tango... - Maísa disse baixinho olhando encantada, jamais havia visto duas mulheres dançarem com tanta entrega e sensualidade, ao final, por um triz pareciam não se beijar. Nem ela conhecia o motivo de seu coração bater tão acelerado quando a professora a olhou de longe.

- Muito bem, eu espero vocês para a próxima aula. Gostei da dança, Adriana! - as mulheres riram falando ao mesmo tempo.

Maísa já saía nervosa do lugar quando sentia a mão quente da professora tocar seu braço.

- Fico feliz que tenha vindo.

- Como... como você... Giulia?

- Surpresa? - A mais jovem sorriu, sempre tão cheia de si, agora parecia um pouco sem graça.

- Por que me mandou aquilo?

- Não gosta de rosas vermelhas? - O tom daquela pergunta pareceu desarmar completamente a Maísa.

- Não, não é isso. É claro que gosto, é primeira vez que recebo. - Giulia sorriu com carinho.

- Aceita tomar um café comigo enquanto falamos?

Sem nem mesmo pensar, Maísa aceitou. Giulia prendeu seu cabelo, alguns fios estavam em sua testa quando ela colocou um casaco leve por cima do vestido.

- Posso pedir capuccino?

- Por favor, mas pouca canela. - mesmo sem graça, Maísa respondeu e não tardaram para terem seus pedidos em mesa.

- Eu vi através dos seus olhos quando me aplaudiu que algo ali pareceu ter prendido você. Lembrei que estava com uma rosa, associei ao fato de que se gosta do tango, poderia gostar dessa flor. - Maísa quase engasgou com tanta informação.

- Você fez tudo isso por ver através do meu olhar? - ela ainda tossia.

- Claro. Dou aula a mulheres tem alguns anos, conheço esse encanto pela dança.

- Eu... olha só, eu não danço, Giulia. Gosto da música e... sendo honesta, não sabia que era você dançando naquele dia no casamento.

- Não sabia? - Giulia não fingiu surpresa. - Fico tão feia assim quando não estou dançando que você não me reconheceu?

Maísa arregalou seus olhos, sentiu como estava vermelha, a voz de Giulia tinha uma doçura que as vezes parecia lhe chegar no mais profundo de si. Maísa não sabia, mas Giulia sentia a mesmíssima sensação quando a ouvia.

- Por favor, é claro que não! Você é linda! É bonita até dançando. Ou com esses fios na sua testa. - a última frase saiu em um riso enquanto, sem jeito, tirava fios de cabelo da testa de Giulia, ela fechou os olhos e aquilo fez, outra vez, Maísa sentir algo em si. A mais velha coçou a garganta. - Eu não enxergo muito bem de longe, naquela noite estava sem óculos.

- Por isso fiz cirurgia. - Giulia brincou. - Fica bonita de óculos.

- Oh, está sendo gentil agora.

- Não estou não. Ficou chateada comigo? - as duas bebiam um pouco mais da bebida.

- Surpresa, eu diria.

- Me promete que volta? - Maísa levantou, acabava de receber uma mensagem de Davi.

- Preciso ir, meus filhos já estão em casa, me esperam. Obrigada pelo café, Giulia.

- Eu que agradeço. - Giulia entregou um papel a Maísa. - Esse é meu número, te entrego mas espero poder ter você na minha aula outra vez.

Maísa pegou o papel, ajeitou sua saia social, sorriu para a jovem na sua frente e sussurrou um "Boa noite" para ela.

Durante todo o caminho não deixou de pensar no que havia acontecido, ela sorria pensando no que ouvira. Porém, por um breve momento, lembrou que ela era amiga do seu marido, pensou que agora ela diria tudo a ele, aquilo de alguma forma lhe deixou nervosa, apreensiva. Ainda na entrada de casa resolveu olhar o celular, havia uma chamada dele, ela retornou no mesmo segundo que viu.

"Pensei que ainda estivesse chateada comigo." - foi a primeira coisa que ele disse, aquilo fez sua esposa respirar com algum alívio.

"Claro que não. Como foi a viagem?"

Eles conversavam enquanto ela entrava na casa sendo abraçada por Alessandro, logo teve que desligar.

- Oi, meu amor. Onde estão seus irmãos?

- Davi jantou, Nicole está estudando no quarto, eu estava esperando a senhora.

- Me esperando?

- Uhum! Quero tocar músicas no piano, vamos? - ela estava cansada mas o entusiasmo do filho lhe contagiou.

O quinto amorOnde histórias criam vida. Descubra agora