Cap 10

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O dia já havia amanhecido. Ainda muito cedo, Maísa já estava acordada, preparou um café indo até a cerca que dividia a praia da sua casa. Ela levou bastante tempo vendo o nascer do sol ainda coberta por uma manta.

- Deveria ter me chamado.
— Giulia apareceu ao seu lado, já não estava de camisola, usava calça e uma blusa longa folgada.

- Bom dia. — Maísa estava ainda muito envergonhada mas decidiu agir como a pessoa madura que era. — Acho que vai chover.

- Vai sim.

- Vamos entrar? Fiz café.

As duas entraram em silêncio, não sabiam dizer se era um silêncio incômodo ou era só o normal para uma manhã um pouco mais fria de um domingo.

- Queria não estar de carro, só para que pudesse ir de carona com você. — Maísa brincou e Giulia sentiu como se um peso saísse de seus ombros.

- Ainda sente sono, não?

- Um pouco. — ela levantou indo até a pia. — Mas preciso ir, tenho filhos e um caos me esperando.

- Aposto que já deve ter falado com eles hoje. — Maísa riu.

- Minha querida, estamos falando de dois adolescentes e um recém saído de uma adolescência acordados a essa hora de um domingo. — Giulia ria abertamente enquanto também levantava.

- Me resta somente te admirar ainda mais como mãe. — Maísa silenciou outra vez.

- Obrigada por ter vindo, por...

- Me agradeça não sumindo mais uma vez. — elas estavam próximas e Maísa segurou muito rapidamente sua mão.

- Como disse, mãe de três caóticos filhos... mas vou tentar. — Giulia sentiu a honestidade pelo olhar de Maísa. — Vou me trocar e vamos, tá bem?

- Ok, te espero aqui na sala.

Maísa consentiu e subiu. O sono talvez a impedisse, também poderia ser o êxtase, mas não conseguiu pensar em tudo com tantos detalhes ainda, o que guardava era somente aquela sensação. Era como se faltasse pouco para sua realidade.

- Podemos ir. — ela apareceu na sala com uma bolsa e duas sacolas. Giulia levantou.

- Maísa.

- Hm? — elas já estavam entre seus carros.

- Não some. — Disse fazendo a mais velha sorrir. — Vou te abraçar.

- Faça isso.

O abraço não foi breve, ao contrário. Ao findar, Maísa lhe deixou um beijo no rosto e se despediram com um sorriso, cada uma em seu carro. Quando Maísa abriu a garagem e saíram, notaram como começava a cair fracas gotinhas de chuva.

- Te acompanho. — Maísa falou um pouco mais alto descendo o vidro.

Elas foram devagar, ambas ouvindo músicas que elas sequer prestavam atenção na letra. Giulia tinha vívida à imagem não vista de Maísa ao lado dela na cama, era quase palpável. Por outro lado temia um afastamento abrupto de Maísa. Sabia que ela era casada, com três filhos e ainda haviam coisas que ela não sabia ao seu respeito. Não, ela não podia se apaixonar por ela.

Maísa por outro lado ainda não conseguia assimilar, seguia o guardado da sensação única que vivenciou na noite anterior. Quando já aproximavam do semáforo onde cada uma ia para um lado, elas desceram o vidro.

- Não vou sumir. — foi a única coisa que Maísa disse.

Elas ainda se olharam por alguns segundos até alguém desesperado em pressa buzinar. Maísa estava em casa outra vez.

- Mãe! — Alessandro exclamou, estava lendo um livro na entrada da casa.

- Bom dia! — ela o abraçou entrando pela lateral do jardim.

- A senhora tá diferente.

- Eu estou? Diferente como?

- Não sei... acho que é por causa do sol que pegou. — ele riu de si provocando sua mãe e ela lhe deu um tapinha no bumbum.

- Deixa de graça e me diz onde anda o povo dessa casa.

- Davi dormindo de tão tarde que chegou, papai está naquele escritório, Nicole deve tá no quarto, sei lá.

- Muito bem, vou lá enfrentar as feras. — ela já estava entrando pela porta de vidro da cozinha.

- Mãe! Vamos na piscina hoje? — Maísa estava exausta, queria dormir, sabia que tinha coisas a fazer, mas de todas, havia algo que sempre estava acima. Ser mãe.

- É claro! Mas mais tarde, primeiro quero olhar todas as suas atividades.

Ela entrou. A casa estava silenciosa, pensou e logo estava em seu quarto saindo do banheiro. Ainda de roupão, ela organizava algumas roupas quando ouviu a porta do quarto.

- Vi seu carro. Bom dia, Maísa. — a todo custo ela tentou encontrar algum resquício de hostilidade na voz do marido.

- Cheguei a pouco tempo. Bom dia, Alex. — ela continua organizando as roupas.

- Senti sua falta. — Maísa quis sorrir mas a estranheza no que ouviu foi ainda maior.

- Você está mesmo falando sério?

- Liguei pra você várias vezes.

- Eu vi. — Alex respirou fundo.

- Maísa, nós não podemos continuar dessa forma.

- Você tem razão. Principalmente quando um de nós tem uma espécie de... vida dupla, não? Olha só, Alex. — ela parou o que fazia. — Se você não se via capaz de viver a fidelidade de um casamento comigo, por que se casou?

- Do que você está falando?

- Ai por favor, sei que tenho cara de mulher que se pode fazer de boba mas tudo tem um limite. Eu vi você no telefone ontem. Diz aqui para mim, quem é a da vez? É nova ou é a mesma de três anos?

Alex paralisou, nem mesmo se movía, ele de fato não esperava. Não ouvindo resposta, Maísa, muito calmamente, continuou guardando suas roupas.

- Não creio que exista outro caminho para nós dois. É melhor separarmos de vez. Nossos filhos já são crescidos o suficiente para entender quando um casamento não deu certo.

- Eu não quero me separar de você! Meu amor, me ouve... — ele segurou suas mãos mas ela tirou aquele toque. — Por favor, vamos tentar mais uma vez só.

- De novo? — ela já quase chorava mas segurou. — Nós já tentamos tantas vezes nesses três anos e não adianta, não funciona. Você não percebe mas não me ama, Alex, não me ama.

- É claro que te amo, Maísa!

- Não. — falou com a voz mais firme. — Não me ama, ama a ideia da estabilidade de um casamento comigo, a segurança de uma família com filhos mas não me ama como mulher.

Alex já ia ajoelhar em seus pés quando ela o olhou, pela primeira vez em sua vida, com frieza. — Nunca mais em sua vida volte a fazer isso.

- O que eu faço sem vocês? Sem você, nossos filhos?

- Iremos os dois, como adultos que somos, falar com eles, tá me ouvindo? Não vamos esconder e fingir que está tudo bem como dá última vez, eu não vou mentir para eles.

- E o que vai dizer, Maísa? — ele soou quase desesperado.

- Dizer a verdade.

- E o nosso escritório? — Maísa já entrava no banheiro para se trocar e parou.

- É isso que importa, não? — sua voz saiu entristecida. — Vamos resolver tudo o que foi construído até aqui, não se preocupe, querido. Ah, e por favor, continue dormindo no outro quarto. Boa noite, Alex.

Maísa se olhou no espelho do banheiro e outra vez o choque de realidade veio. Se sentia mais velha, menos bonita do que era quando mais jovem. No mesmo instante pensou se esse era mesmo o certo a se fazer, se naquela idade o melhor não era aceitar a tentativa de reaver seu casamento.

"Talvez eu devesse voltar às minhas terapia." falou para si e sorriu fraco.

O quinto amorOnde histórias criam vida. Descubra agora