O dia já havia amanhecido. Ainda muito cedo, Maísa já estava acordada, preparou um café indo até a cerca que dividia a praia da sua casa. Ela levou bastante tempo vendo o nascer do sol ainda coberta por uma manta.
- Deveria ter me chamado.
— Giulia apareceu ao seu lado, já não estava de camisola, usava calça e uma blusa longa folgada.- Bom dia. — Maísa estava ainda muito envergonhada mas decidiu agir como a pessoa madura que era. — Acho que vai chover.
- Vai sim.
- Vamos entrar? Fiz café.
As duas entraram em silêncio, não sabiam dizer se era um silêncio incômodo ou era só o normal para uma manhã um pouco mais fria de um domingo.
- Queria não estar de carro, só para que pudesse ir de carona com você. — Maísa brincou e Giulia sentiu como se um peso saísse de seus ombros.
- Ainda sente sono, não?
- Um pouco. — ela levantou indo até a pia. — Mas preciso ir, tenho filhos e um caos me esperando.
- Aposto que já deve ter falado com eles hoje. — Maísa riu.
- Minha querida, estamos falando de dois adolescentes e um recém saído de uma adolescência acordados a essa hora de um domingo. — Giulia ria abertamente enquanto também levantava.
- Me resta somente te admirar ainda mais como mãe. — Maísa silenciou outra vez.
- Obrigada por ter vindo, por...
- Me agradeça não sumindo mais uma vez. — elas estavam próximas e Maísa segurou muito rapidamente sua mão.
- Como disse, mãe de três caóticos filhos... mas vou tentar. — Giulia sentiu a honestidade pelo olhar de Maísa. — Vou me trocar e vamos, tá bem?
- Ok, te espero aqui na sala.
Maísa consentiu e subiu. O sono talvez a impedisse, também poderia ser o êxtase, mas não conseguiu pensar em tudo com tantos detalhes ainda, o que guardava era somente aquela sensação. Era como se faltasse pouco para sua realidade.
- Podemos ir. — ela apareceu na sala com uma bolsa e duas sacolas. Giulia levantou.
- Maísa.
- Hm? — elas já estavam entre seus carros.
- Não some. — Disse fazendo a mais velha sorrir. — Vou te abraçar.
- Faça isso.
O abraço não foi breve, ao contrário. Ao findar, Maísa lhe deixou um beijo no rosto e se despediram com um sorriso, cada uma em seu carro. Quando Maísa abriu a garagem e saíram, notaram como começava a cair fracas gotinhas de chuva.
- Te acompanho. — Maísa falou um pouco mais alto descendo o vidro.
Elas foram devagar, ambas ouvindo músicas que elas sequer prestavam atenção na letra. Giulia tinha vívida à imagem não vista de Maísa ao lado dela na cama, era quase palpável. Por outro lado temia um afastamento abrupto de Maísa. Sabia que ela era casada, com três filhos e ainda haviam coisas que ela não sabia ao seu respeito. Não, ela não podia se apaixonar por ela.
Maísa por outro lado ainda não conseguia assimilar, seguia o guardado da sensação única que vivenciou na noite anterior. Quando já aproximavam do semáforo onde cada uma ia para um lado, elas desceram o vidro.
- Não vou sumir. — foi a única coisa que Maísa disse.
Elas ainda se olharam por alguns segundos até alguém desesperado em pressa buzinar. Maísa estava em casa outra vez.
- Mãe! — Alessandro exclamou, estava lendo um livro na entrada da casa.
- Bom dia! — ela o abraçou entrando pela lateral do jardim.
- A senhora tá diferente.
- Eu estou? Diferente como?
- Não sei... acho que é por causa do sol que pegou. — ele riu de si provocando sua mãe e ela lhe deu um tapinha no bumbum.
- Deixa de graça e me diz onde anda o povo dessa casa.
- Davi dormindo de tão tarde que chegou, papai está naquele escritório, Nicole deve tá no quarto, sei lá.
- Muito bem, vou lá enfrentar as feras. — ela já estava entrando pela porta de vidro da cozinha.
- Mãe! Vamos na piscina hoje? — Maísa estava exausta, queria dormir, sabia que tinha coisas a fazer, mas de todas, havia algo que sempre estava acima. Ser mãe.
- É claro! Mas mais tarde, primeiro quero olhar todas as suas atividades.
Ela entrou. A casa estava silenciosa, pensou e logo estava em seu quarto saindo do banheiro. Ainda de roupão, ela organizava algumas roupas quando ouviu a porta do quarto.
- Vi seu carro. Bom dia, Maísa. — a todo custo ela tentou encontrar algum resquício de hostilidade na voz do marido.
- Cheguei a pouco tempo. Bom dia, Alex. — ela continua organizando as roupas.
- Senti sua falta. — Maísa quis sorrir mas a estranheza no que ouviu foi ainda maior.
- Você está mesmo falando sério?
- Liguei pra você várias vezes.
- Eu vi. — Alex respirou fundo.
- Maísa, nós não podemos continuar dessa forma.
- Você tem razão. Principalmente quando um de nós tem uma espécie de... vida dupla, não? Olha só, Alex. — ela parou o que fazia. — Se você não se via capaz de viver a fidelidade de um casamento comigo, por que se casou?
- Do que você está falando?
- Ai por favor, sei que tenho cara de mulher que se pode fazer de boba mas tudo tem um limite. Eu vi você no telefone ontem. Diz aqui para mim, quem é a da vez? É nova ou é a mesma de três anos?
Alex paralisou, nem mesmo se movía, ele de fato não esperava. Não ouvindo resposta, Maísa, muito calmamente, continuou guardando suas roupas.
- Não creio que exista outro caminho para nós dois. É melhor separarmos de vez. Nossos filhos já são crescidos o suficiente para entender quando um casamento não deu certo.
- Eu não quero me separar de você! Meu amor, me ouve... — ele segurou suas mãos mas ela tirou aquele toque. — Por favor, vamos tentar mais uma vez só.
- De novo? — ela já quase chorava mas segurou. — Nós já tentamos tantas vezes nesses três anos e não adianta, não funciona. Você não percebe mas não me ama, Alex, não me ama.
- É claro que te amo, Maísa!
- Não. — falou com a voz mais firme. — Não me ama, ama a ideia da estabilidade de um casamento comigo, a segurança de uma família com filhos mas não me ama como mulher.
Alex já ia ajoelhar em seus pés quando ela o olhou, pela primeira vez em sua vida, com frieza. — Nunca mais em sua vida volte a fazer isso.
- O que eu faço sem vocês? Sem você, nossos filhos?
- Iremos os dois, como adultos que somos, falar com eles, tá me ouvindo? Não vamos esconder e fingir que está tudo bem como dá última vez, eu não vou mentir para eles.
- E o que vai dizer, Maísa? — ele soou quase desesperado.
- Dizer a verdade.
- E o nosso escritório? — Maísa já entrava no banheiro para se trocar e parou.
- É isso que importa, não? — sua voz saiu entristecida. — Vamos resolver tudo o que foi construído até aqui, não se preocupe, querido. Ah, e por favor, continue dormindo no outro quarto. Boa noite, Alex.
Maísa se olhou no espelho do banheiro e outra vez o choque de realidade veio. Se sentia mais velha, menos bonita do que era quando mais jovem. No mesmo instante pensou se esse era mesmo o certo a se fazer, se naquela idade o melhor não era aceitar a tentativa de reaver seu casamento.
"Talvez eu devesse voltar às minhas terapia." falou para si e sorriu fraco.
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O quinto amor
FanfictionA descrita história de Maísa onde junto com quem lhes escreve, se descobre a possível resposta sobre quem é seu quinto amor.