XVII (Alma)

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Rute tinha razão, eu tinha de me separar dele agora, enquanto estes sentimentos não progrediam mais. Afastei-me dele e encaminhei-me para a ponta da sala mais longe dele. Não podia olhar para ele, não suportaria o seu olhar sobre mim.

- Então como iremos fazer isso? _ pergunta Sara.

- Não sei, mas temos de ser espertos ou seremos apanhados. _ disse Rute _ Qual é a rota que costumam fazer? _ pergunta a Afonso

- Depende do local do leilão.

- E antes do transporte, não podem ser soltas? _ pergunto.

Como ele não responde decido olhar diretamente para ele, mas rapidamente me arrependo, quando vejo as suas expressões duras enquanto me fita.

- Elas agora estão num celeiro em Andrómeda, mas são 19 mulheres, como é que pretendes tirá-las de lá Heliana? _ diz com os olhos vidrados no meu.

E então o ambiente da sala muda, Rute prende a respiração e Sara limita-se a alternar o olhar entre mim e ele.

- Não sei, mas tu não podes aproximar-te do celeiro quando elas forem soltas. _ respondo ignorando a provocação.

- Porquê? Quando elas forem soltas toda a "família" me acusará.

- Então pretendes o quê? Desistir e deixá-las à sua sorte? Sinceramente, estás realmente a pensar libertá-las ou é só para nos mandares areia para os olhos? _ digo irritada.

Rapidamente me arrependo do que disse, quando vejo os olhos dele arregalar, ele levanta-se e dirige-se a mim, coloca as duas mãos na parede, uma de cada lado do meu corpo prendendo-me. Sinto que devia ter medo, mas no fundo sabia que ele nunca me iria magoar.

- Alma _ sussurra e apoia a sua testa na minha _ Claro que as quero salvar, tanto como te quero a ti. Prometo-te que as irei salvar, mas agora por favor sai do meu apartamento e não voltes mais. _ diz simplesmente.

Limito-me a olhá-lo e a piscar os olhos para não deixar as lágrimas cair. Precisava ser forte, afinal de contas fui eu que o afastei. Fecho os olhos para tentar assimilar que não o irei ver nunca mais. É quando já não sinto o seu calor e ouço a porta bater, que volto a abrir os olhos e permito as lágrimas cair, a dor é tão forte, ele levou uma parte minha com ele. Eu soube nesse momento, que nunca mais seria a mesma.

***

Quando cheguei a casa tive outro interrogatório e a minha mãe colocou-me de castigo, não poderia sair de casa sem a presença dela, meu irmão, Valentina ou Norton. Na verdade, eu também não fazia grande questão de sair de casa.

Sara mantinha-se calada e limitava-se a seguir-me, nem ela queria falar comigo a cerca do sucedido nem eu tinha forças de confidenciar o que sentia, seria melhor se ninguém conhecesse os meus reais sentimentos.

Eram cerca de dez da noite quando o meu irmão entra em casa radiante.

- Nem acreditam! Norton acabou de me contar que devido a uma denúncia anonima encontraram dezanove raparigas num celeiro.

Ele tinha conseguido, e não se tinha colocado em perigo ou pelo menos espero eu.

- Que horror! E os culpados foram presos? _ perguntou minha mãe.

- Apenas três lunares, que pelo que parece estavam encarregues de as transportar.

- Três lunares? Mas havia mais? _ pergunto angustiada.

- Sim Alma, parece que elas eram para ser leiloadas por uma grande rede de tráfico chamada de família. Norton está que nem um cão atrás deles, só que eles se mechem muito bem e desconfia-se que Helianos os ajudem. _ informa-me.

Iria rezar ao deus Sol que nenhum dos capturados fosse o Afonso, ou eu nunca me perdoaria.

Eclipse: Um encontro de almasOnde histórias criam vida. Descubra agora