IX (Alma)

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Quando me percebi já eram cerca de onze da manhã e eu ainda me encontrava na cozinha. Onde descobri que Mateus, o cozinheiro e Ana a governanta eram casados à 26 anos e até hoje nunca se tinham arrependido de dar o "nó", como eles dizem.

Passei estas horas a ouvir Mateus enquanto cozinha, explicar-me o quão difícil foi convencer Ana a casar com ele, o que só me fez rir com as ideias mirabolantes que ele teve. Agora explicava-me a arte envolvida em fazer um creme broulé, que segundo ele era uma das principais maravilhas gastronómicas do mundo.

- Alma! _ grita a minha mãe quando me encontra na cozinha _ Passei horas à tua procura, e tu aqui a conviver com eles... Já te devias estar a arranjar para o almoço. E tu minha menina _ vira-se para Sara _ devias ajudar a minha filha a adaptar-se e não a como ser uma servente e cozinheira. _ diz irritada.

- Mãe, Sara não teve culpa, ela apenas me acompanhou. Eu é que como não havia comido nada de manhã me dirigi para aqui. _ disse como se fosse lógico.

Perante a minha resposta a minha mãe passou de vermelha, branca, roxa, todo um arco iris, sinceramente começava a preocupar-me com a sua saúde.

- Mãe?

- Alma, tens fome dizes à garota que te acompanha, que te vá buscar algo para comer! Não te quero ver a conviver com os empregados. _ grita.

- Mas mãe, não há necessidade, eu gostei da companhia.

Rapidamente me arrependo do que disse, porque se minha mãe se encontrava possessa, agora nem sei ...

- Alma ou te vais arranjar agora e aprendes a comportar-te ou despedirei todos com quem convives-te e te afastaram de teus deveres! _ Ameaça apontando para Sara, Mateus e Ana para demonstrar melhor o que havia dito.

- Com certeza mãe, irei arranjar-me para o almoço.

- Alma? _ chama-me _ Vê se colocas uns saltos, as tuas pernas ficam mais bonitas.

- Certo. _ digo apenas e dirijo-me para o meu quarto.

***

- Sinto-me tão resplandecente por estarmos juntos! _ exclama demasiadamente feliz Norton.

O meu irmão ri-se e Valentina apenas ri. Eu mantive-me a olhar para a janela, o meu humor havia mudado drasticamente desde o meu confronto com minha mãe.

- Alma, sente-se bem? _ questiona-me Norton.

Quando me viro e pretendo responder encontro três pares de olhos a olhar fixamente. O meu irmão mantinha uma expressão que me avisava para ser o mais cordial e simpática possível decidi responder um singelo "Sim".

Todos se contentaram com a minha afirmação e retomaram a conversa que antes mantinham e que não me incluía.

- Chegamos! Este é o único restaurante de Artemis decente. É dirigido por Helianos de baixo rendimento. _ diz Norton.

Encaminhamos-nos para dentro do restaurante de nome "Luzência", que criativo...

Sentamo-nos à janela e rapidamente nos foi apresentada, uma ementa e uma carta de vinhos recheada de gastronomia Heliana.

- Alma o Ravioli é magnifico! _ diz-me Norton, que ficou à minha frente.

Simplesmente sorrio-lhe e de forma de agradecimento peço o Ravioli que me foi recomendado. O que o deixou extremamente realizado

- Então Norton, como é que anda o emprego? _ pergunta o meu irmão.

- Caro Luciano, nem te digo, que confusão que esta cidade é! Por favor, peço-vos que não saiam sozinhos pela cidade.

- Por acaso a minha empregada falou muito bem da beleza da cidade. _ digo sem pensar.

- O quê Alma? _ fuzila-me o meu irmão.

- Nada de especial, ela disse que a cidade tinha uma beleza diferente.

Quando o meu irmão pretendia repreender-me de novo. Norton fala:

- Sim Alma, a beleza da cidade é realmente estonteante. Se quiseres um dia levo-te a Andrómeda onde a visão do mar é de deixar sem palavras.
- Parece-me uma excelente ideia.

Quando olho para o meu irmão e Valentina eles estavam radiantes com o meu possível encontro com Norton.

Quando a comida chegou comemos em silencio e apenas quando todos acabamos é que Valentina retomou a conversa.

- Amei a comida. Foi uma excelente recomendação!

- Excelente recomendação e excelente local. Fico realmente contente por te ter reencontrado passados tantos anos. _ diz meu irmão para Norton.

Eles continuam a lamber as botas uns dos outros e enquanto isso olho pela janela vendo a vida dos lunares atarefados, mas mesmo assim com o maior sorriso que alguma vez vi.

Entretanto um rapaz chamou-me a atenção, possui cerca de 1,80m e o seu cabelo cobreado ao sol parece que tinha luz própria. Caminhava de cabeça baixa, porém quando uma criança corre para ele, este demonstra um sorriso radiante e é quando ele a roda no ar, que os nossos olhos se cruzam e um sorriso nasce em mim.

- Alma, ouviste alguma coisa que te foi direcionada? _ pergunta-me o meu irmão.

- Peço imensas desculpas, distrai-me a olhar para a vida da cidade.

Todos me acham uma tonta por ver beleza num sítio lunar.

Após pagarmos a conta extremamente alta para um sítio daqueles, dirigimo-nos para fora. E é nesse momento que uma bomba explode do outro lado da rua, criando confusão, pânico e morte.

Eclipse: Um encontro de almasOnde histórias criam vida. Descubra agora