XVIII (Afonso)

4 1 0
                                    


Saio daquele apartamento que se tinha tornado irrespirável. Eu sabia que não podia confiar em helianos, afinal eles são todos idiotas pomposos.

Agora tinha de pensar em algum plano para salvar aquelas mulheres, afinal de contas eu dei a minha palavra.

Dirigi-me a Andrómeda para tentar descobrir mais acerca do transporte para o leilão.

- Bom dia Afonso! Ontem não apareceste por aqui. _ cumprimenta-me Amélia.

- Tive de tratar de umas cenas.

- Eu compreendo, afinal de contas toda a gente já sabe o que aconteceu com aquela mulher.

- Amélia estou ótimo. Sabes onde é que está o Val?

- No contentor 3, apanharam um espião da polícia na zona 7.

- Ok, obrigada.

Encaminho-me então até ao contentor 3, Val está a tentar sacar informações da operação policial do heliano.

- Anda lá estrelinha, conta-nos o que andavas a fazer aqui.

O heliano olha para ele e cospe-lhe para cima.

- Eu não te vou dizer nada escumalha lunar. Eu sei que me vais matar, não tenho qualquer interesse em trair os meus.

Val ri-se perante tal afirmação.

- Matar-te? Não estrelinha, eu ainda me vou divertir bastante contigo. _ quando ele se vira de costas é quando me vê _ Olha quem é, se não é o meu enteado ingrato. Já acabaste de chorar pela puta?

Não podia cair nas suas provocações, eu precisava de informações e era isso que eu queria.

- Quem? _ pergunto dando a entender que já me tinha esquecido do acontecimento.

Ele sorri e encaminha-se até à mesa que albergava bastantes ferramentas de tortura.

- Querido enteado, achas que eu acredito naquilo que me dizes? Toma _ diz estendendo-me um objeto _ isto retira bocados de pele! _ explica satisfeito _ Faz uma obra de arte no estrelinha e acreditarei em ti.

Ao perceber aquilo que ele queria limitei-me a pegar na maquineta e dirigi-me ao heliano.

- Por favor, mate-me. _ pede-me choroso.

Liguei a maquineta e sem pensar muito dirigi-a à sua pele. Decidi fazer uma estrela no seu peito, afinal de contas ele era um estrelinha.

Quando acabei Val batia palmas, como se tivesse assistido ao espetáculo de gritos e sangue mais bonito de todo o sempre. Aproxima-se e pergunta:

- Então e agora que tiveste um pequeno cheirinho daquilo que os teus próximos dias serão. Já me queres contar o porquê de estares a espiar a minha família?

- Não! _ grita.

Val sem pensar duas vezes dirige-se à mesa e tira uma garrafa com um líquido transparente.

- Bem, já que não falas irás gritar. _ diz enquanto atira o líquido em direção à estrela em carne viva do seu peito.

Quando entra em contacto com a sua pele ele grita de dor.

- Água ardente. _ explica-me e encolhe os ombros _ José entretém-te com a estrelinha, quando lhe apetecer falar chama-me.

- Com certeza Val!

- Afonso acompanha-me, temos de alinhavar os planos para logo à noite.

E então saí do contentor seguindo-o como um cachorro adestrado, deixando o heliano à sua sorte naquele contentor de dor e angústia.

***

Iria haver quatro transportadores, cada um com cinco mulheres, menos Amélia que levaria quatro. O transporte ocorreria apenas à noite, elas teriam de estar no leilão às onze.

Ainda não sabia como as soltar, mas o estrelinha tinha-me dado uma ideia.

Val realmente tinha gostado do meu espetáculo com o heliano, tanto que até agora não me largou durante um segundo, fazendo-me segui-lo por todo o cais.

- Sabes Afonso sabia que irias cair em ti, tu como meu enteado tens um papel muito importante na família. Não nos podemos apresentar divididos ou criaremos cisões, entendes?

- Sim Val, entendo.

- Ainda bem rapaz! Soube que foste duas vezes a Ateitis em dois dias.

- Sim, fui levar Sara.

- Sara?

- Sim uma amiga da Rute, já sabes como é que as mulheres da família são.

- Compreendo, mas diz-me a tal Sara trabalha lá?

Começava-me a preocupar, será que ele sabia de Alma e havia arranjado mais alguém com que me manipular?

- Sim, para uma nova família. _ digo na verdade ele sabe de tudo então o mais sensato é não mentir.

- Uma família nova, não havia tido conhecimento disso, quem são? Mais comerciantes? _ pergunta visivelmente interessado.

- Não, são uns ricaços.

- Quem?

- Vasconcelos. _ digo.

Ao ouvir o nome encosta-se à parede e foca-se em forçar o ar a entrar e a sair, mas é quando cai ao chão inconsciente que eu grito:

- Socorro!

Cerca de dez homens aparecem e levam-no para o hospital, realmente não entendia a reação. Porém, agora possuía um espaço de tempo para colocar o meu plano em ação.

Eclipse: Um encontro de almasOnde histórias criam vida. Descubra agora