Eclipse: Um encontro de almas

IV (Afonso)

Maldita a hora em que ofereci boleia para a garota que descobri há sensivelmente cinco minutos que se chama Sara, só Sara segundo ela. O que ainda a deixou mais irritada por eu não me lembrar de um nome tão fácil de decorar, em minha defesa estava bêbado, mas pela perspetiva dela não é desculpa para a tratar daquele jeito. O que honestamente me deixou um pouco mal, visto que concordo com ela, esta cidade já tem demasiados problemas para nos refugiarmos nas desculpas farrapadas, que convenientemente encontramos para nos ilibarmos de qualquer culpa.

-Afonso? Ouviste alguma coisa daquilo que eu durante os últimos 20 minutos falei? _ gritou.

Esta garota só soube gritar desde que eu acordei, o que não tem facilitado muito a minha enxaqueca de bebida rasca.

- Não, estava a pensar. E desculpa pela maneira que te tratei, não havia necessidade. _ disse sem a olhar.

- Claro, também não devia esperar tanto de uma única noite. _ afirma.

De forma a desviar do assunto pergunto-lhe:

- Onde queres que te deixe?

- Em Ateitis, se não existir problema para ti.

- Ateitis? O que fazes naquela vila amarela, cheia de narizes empinados e frases pomposas?

- Sou empregada doméstica, a família Vasconcelos chega hoje, e consegui um emprego lá em casa como ajudante da segunda filha.

- Como é que conseguiste o lugar?

- A minha mãe é cozinheira dos Norton, e acabei por ser recomendada. Sabes que eles apenas confiam em famílias com que já lidam.

- Sim claro.

A conversa acaba e chegando a Ateitis somos barrados pela polícia que guardava o lugar, mas ao reconhecer Sara deixam-nos passar sem problemas.

Chegando à casa que Sara encaminha, vejo uma rapariga abraçada aos seus próprios braços de maneira a se reconfortar a si própria. Alguém a chama fazendo-a virar, dando-me permissão de ver a sua cara, os seus cabelos avermelhados prendem-me a visão. Nunca antes vira rapariga com beleza tão simples e estonteante como aquela.