XI (Alma)

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O jantar acabou por ser bastante agradável, principalmente com as diversas histórias da irmãzinha de Afonso. Acabamos de sair do apartamento, apercebo-me agora que não sei onde me encontro, no entanto, a beleza sobressai.

- Alma?

- Diga? _ respondo-lhe.

- Diga nada, tenho apenas 21 anos. _ ri-se _ Trata-me por tu, por favor. Essa vossa forma de falar perturba-me um pouco.

- Certo, vou tentar.

Continuo espantada a olhar para os prédios e para as ruelas daquela magnifica cidade.

- Não sabia que este estado era tão belo. _ afirmo.

- Belo? Eu não acho.

- Sim belo, tem vida e alma. _ tento fazer-me entender.

- Queres dar uma volta por Auriga antes de te levar a casa?

- Podemos? _ questiono esperançosa.

- Claro! _ diz sorrindo.

Afonso coloca a mão nas minhas costas e acompanha-me pela bela cidade de Auriga, contando-me a sua história e um pouco de fofocas dos moradores.

- Sempre moraste aqui?

Ele olha-me e nega com a cabeça.

- Moro em Auriga desde que tenho 19 anos, antes morava em Andrómeda.

- Andrómeda? Norton disse que possuía paisagens estupendas. _ digo.

- És próxima de Norton? _ pergunta.

- Não, conheci-o ontem quando cheguei a Ateitis. E parece-me que a minha família pretende atirar-me a ele. _ confidencio.

- Atirar-te a ele? Como assim? _ pergunta ultrajado.

Tento continuar a andar, mas quando olho para ele vejo que espera uma resposta.

- Eu sou uma segunda filha, ou seja, não tenho direito a herança nenhuma e como o meu irmão não pretende manter-me, tenho de me casar ou serei sem-abrigo. Resumidamente é isso.

- E ainda se dizem família? Acredito que os ames do fundo do teu coração, mas isso não é justo.

- Eu sei, mas são as regras. Apesar de não me aprazerem, são as regras.

- Percebo. Mas fica a saber, enquanto eu poder terás sempre um telhado.

Diz como se aquele gesto nada significasse, porém, significava tudo.

                                                           ***

Estava agora a frente de casa, mas algo me impedia a sair do carro.

- Obrigada por tudo Afonso.

- Não foi nada Alma.

Fico a olhar para aqueles olhos cinzentos que ele possuía que me atraiam que nem farol. Sem me aperceber abracei-o (que braços).

Afastei-me constrangida, ele com a sua mão calejada puxa-me o queixo para cima e diz:

- Alma não baixes a cabeça a ninguém. _ diz e beija-me a testa.

- Obrigado! _ agradeço uma última vez antes de sair do carro e encaminhar-me para minha casa.

Bato à porta e passados dez minutos esta é aberta por Ana, que me puxa para um abraço.

- Alma. _ grita a minha mãe e corre para me abraçar _ estávamos imensamente preocupados! Quem te levou?

Antes de responder à questão sou puxada pelo meu irmão que me abraça fortemente e me faz prometer que nunca mais desaparecerei daquela maneira.

Após chamarem um médico para me analisar, sentamo-nos na sala, todos esperavam que eu contasse o que se havia passado.

- Filha o que é que te aconteceu? Os policias apenas demoraram dez minutos até ao local, mas tu já tinhas desaparecido. _ questiona.

- Eu não sei mãe, eu quando acordei já tinham tratado de mim e não havia ninguém. _ menti.

Sabia perfeitamente se contasse a verdade todos se iriam exaltar e quem acabaria por sofrer é Afonso.

- Tens a certeza, que não te lembras de nada, afinal de tudo é sequestro. _ afirma Valentina.

- Se não te lembras de nada como é que voltaste para casa? _ perguntou-me Norton.

- Realmente, minha irmã, quem te trouxe até nós?

- Filha não protejas ninguém!

Já me começava a doer a cabeça de tantas perguntas seguidas. Na verdade, não sabia o que dizer sem incriminar ninguém. Tinha plena consciência que por eu ser Heliana aquilo que o Afonso fez é um crime e para eles prender ou matar um lunar de nada significava.

- Não me lembro de nada já disse. Agora irei recolher-me para o meu quarto pois encontro-me bastante cansada. _ disse levantando-me.

- Boa noite Alma. _ disseram todos.

Subi para o meu quarto com a ajuda de Sara. Sendo ela lunar gostava de lhe perguntar a cerca de Afonso, mas hipótese de ela o conhecer era realmente remota.

- Menina fico muito contente por se encontrar de boa saúde.

- Sabes como é que aconteceu?

- Foi uma botija num bar que rebentou, morreram todos que se encontravam no seu interior, cerca de 25 pessoas.

- Que horror.

- Sim menina, houve ainda feridos graves, mas apenas lunares.

- Percebo.

Ela acaba de arrumar-me o cabelo e a cama e sai silenciosamente, enquanto eu me encontro inundada de pensamentos, sendo maior parte, se não todos dirigidos ao rapaz de cabelos cobreados e olhos cinza.

Eclipse: Um encontro de almasOnde histórias criam vida. Descubra agora