Capítulo 2

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Naquela manhã eu escolhi meu estilo empresária sanguinária, talvez conseguisse convencer ele a não se casar comigo se eu parecesse uma psicopata. Então, coloquei uma saia vinho que escorria colado ao meu corpo da cintura ao joelho. Uma camisa de seda branca e um salto fino, que confesso levei anos para aprender ficar em pé sobre eles.

Cheguei na cozinha e Debie assoviou. 

Ela estava jogada na cadeira ainda com seu pijama de nuvens e seus cabelos todos desarrumados. Não entendia como ela poderia ter um cabelo ruivo natural e ainda assim não ter cuidado nenhum com seus fios privilegiados. 

Eu peguei o lado normal da família e meu cabelo tinha um tom castanho, sem muito diferencial. 

-A reunião com o seu noivo é hoje? - ela perguntou. 

-Sim - eu disse. 

Débora sorriu e analisou minha escolha de roupas com cuidado. 

-Das duas uma, ou ele vai se encantar e correr atrás de você igual um bobo apaixonado ou vai fugir pensando que você é maluca - ela falou. 

-Que bom que a possibilidade dele fugir existe - falei rindo. 

Ela deu uma gargalhada. 

-Minha irmã, você se mete em cada enrascada por conta do nosso velho - ela falou. - E por minha conta também. 

Debie era uma menina incrível. 

Mesmo que passássemos a maior parte do tempo implicando uma com a outra, éramos muito próximas. Meu pai, por outro lado, se distanciou dela conforme ela crescia. Todos sabíamos que Débora era diferente desde preferia se pendurar em uma arvore com os moleques da vizinhança. 

Estava bem na cara de todos quem ela era de verdade, mas para meu pai se ela pudesse esconder, tudo bem. 

Quando ela finalmente saiu do armário meu pai gritou com ela e disse que aquilo era só uma fase. A briga foi feia e o resultado foi que ela saiu de casa apenas com a roupa do corpo. 

Isso já tem alguns anos e eu sei que meu pai se arrepende até hoje, mas o orgulho de ambos os impede de se aproximarem. Enquanto isso, tento fazer tudo corretamente, pois as expectativas que ele não conseguiu alcançar com meus irmãos, ele deposita toda em mim.

A pressão aumenta ainda mais, mas se ele esta concentrado em mim esquece de Debie e eu estava disposta a continuarmos assim. 

Com o tempo, ser a melhor empresária acabou sendo a única coisa que eu poderia fazer. 

-Tenho que ir - falei. 

-Não vai comer nada? - Debie perguntou. 

-Eu não, vai que eu jogo tudo para fora no colo do meu noivo - brinquei. 

Debie riu. 

-Eca - falou. 

Esbanjei meu sorriso maléfico e caminhei até a saída do apartamento. 

-E lá vai ela, caminhando em direção ao matadouro - me zoou. 

-Deseja me acompanhar, minha amada irmã? - estendi o braço em convite. 

Ela fez uma cruz com os dedos e se afastou de mim. 

-Diferente de você, eu prezo minha sanidade mental e prefiro não me casar - falou. 

-E enquanto isso eu tenho que te aturar? - perguntei. 

Debie fingiu estar brava com a minha comparação e arremessou a sacola de pão em minha direção.

-Eu te odeio, saia daqui e case-se logo - falou. 

Dei uma risadinha e continuei meu caminho. 

-Você vai acabar se arrependendo dessas palavras, larvinha - eu a chamei pelo apelido que ela tanto detestava. 

Por sorte consegui desviar do pacote de bolacha que vinha na minha direção e sai para o corredor. 

Em uma dessas provocações eu ia acabar morrendo. 





CASAMENTO DE FACHADA: HERDEIROSOnde histórias criam vida. Descubra agora