Capítulo 1

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  Com os meus 28 anos eu não sabia o que me estressava mais em lidar, se era com o maldito teto de vidro que se mostrava cada vez mais difícil quebrar no meu trabalho ou as irritantes e frequentes ligações da minha mãe perguntando se eu estava me relacionando com alguém me dizendo que eu não estava ficando mais jovem, apesar de nunca ter visto a minha mãe como uma mulher conservadora era óbvio que ela esperava que no mínimo eu estivesse namorando ou marcada a essa altura, mas a realidade não podia ser mais diferente. Solteira e dividindo um apartamento, eu estava longe do que a sociedade esperava de uma ômega da minha idade e só não tinham rumores sobre isso por a própria ser uma beta.

  Outra coisa que estava me causando uma considerável dose de estresse era o desconforto que começei a sentir nos últimos meses próximo ao meu cio, até mesmo havia marcado uma consulta com meu médico que infelizmente tive que adiar por falta de tempo, tudo isso somado com os vários encontros fracassados que tive deixou o meu mau humor cada dia mais presente que tenho que admitir ser um dos motivos desses encontros terem sido assim, o outro era o fato de que nenhum dos alfas que encontrei serem o que eu queria, claro talvez esteja sendo um pouco exigente como as minhas amigas adoravam falar, mas também estava se provando uma tarefa difícil encontrar um alfa que entendesse ou tentassem entender que eu buscava um relacionamento mais platônico do que carnal.

  Afinal me sentia velha demais para ter alguém que só passasse o cio comigo, eu queria uma companhia confortável que pudesse dividir o meu dia ele sendo bom ou ruim, mas também não queria ser marcada por agora, não enquanto estivesse tentando me estabelecer na empresa que trabalhava, já que defendia que uma marcada nada tinha haver com o meu valor como ômega. Sem contar que para os meus superiores uma ômega marcada é menos produtiva porque dividiria a atenção da empresa com os futuros filhotes, é uma palhaçada, porém tenho que engolir. E tentar explicar o meu ponto de vista para os alfas se provou ridiculamente difícil.

  Apesar de nunca ter me visto como uma mulher carrancuda e exigente tenho que admitir que era exatamente isso que estava me tornando, me afastando cada dia mais da jovem cheia de disposição e sonhos que um dia fui, mesmo com todos esses problemas ainda existia um lugar que ainda conseguia me livrar de todo o mau humor, meu apartamento, era um lugar pequeno, mas muito acolhedor que havia alugado na época da faculdade e mesmo que pudesse bancar um lugar maior eu dificilmente me via saindo dali. Possuía três quartos sendo um deles o meu escritório, uma cozinha dividida por apenas um balcão da sala, um banheiro no corredor e outro no escritório, uma pequena varanda e de somente um andar tendo um corredor como divisor dos cômodos.

  Esse pequeno apartamento era o meu paraíso na terra, um refúgio onde podia esquecer de tudo depois de fechar a porta, mas claro que nem tudo era perfeito, aquele pequeno pedaço de céu não era só meu, o dividia com Victoria uma mulher de 23 anos que possuía uma risada fácil e uma personalidade bastante relaxada, para mim ainda era um total mistério o fato de temos conseguido morar juntas pelos últimos 5 anos, principalmente por sermos tão diferentes uma da outra. Enquanto eu gostava de rotina e estabilidade, Victoria exibia uma aura quase hippie viajando todo ano para um lugar diferente sendo que o apartamento parecia para ela mais um lugar temporário enquanto juntava dinheiro para a sua próxima viagem do que um lar de verdade.

  Claramente tínhamos tudo para termos uma convivência horrível, mas na verdade era o oposto até mesmo a considero uma amiga e tínhamos uma dinâmica que funcionava muito bem, e sendo bem sincera isso só funcionava por nossas diferenças de horários, eu passava boa parte da manhã e um pedaço da tarde na empresa de arquitetura e apesar dela ter um horário flexível nos dias de semanas por ser barman de sexta à domingo ela tinha um horário bastante rígido que ia do fim da tarde ao começo da manhã, tornando a cena que via no momento bastante comum, a Victoria dormindo de bruços no sofá ainda vestindo as roupas que usava no dia anterior, passará alguns minutos antes que eu decidisse se devia ou não acorda-la, no fim optei pela melhor escolha para sua coluna. — Vic acorda — digo tocando em seu ombro vendo que causará menos efeito do que gostaria — vamos antes que fique toda dolorida.

A inofensiva (ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora