Dês que recebera a notícia da visita da minha mãe, Vic praticamente não saía da cozinha, testando tudo aquilo que lhe viesse a mente, nem consigo contar as vezes que a vi andando de um lado para o outro e quando perguntei se podia ajudá-la em alguma coisa, ela simplesmente disse que eu só precisava testar o gosto e ajudar a lavar os pratos depois.
Por isso eu estava no momento deitada no sofá lendo um livro sobre os lúpus, tentando descobrir um pouco mais sobre a Vic, pois ela ainda não parecia muito confortável em falar sobre esse assunto.
— Ah, não acredito que está lendo isso — disse num tom de descrença se inclinando sobre mim pegando o livro das minhas mãos — isso é pura especulação, tá no mesmo nível de terraplanistas, não, na verdade é pior.
— Eu só estava meio curiosa — confessei envergonhada me sentando — não tem muitas informações sobre os lúpus.
— Se estava tão curiosa, era só me perguntar ou ligar pra minha irmã, eu sei que tem o número dela — disse Vic passando a mão pelos cabelos — além do que, não existe tanta diferente entre os lúpus e os comuns.
— E quais são as diferenças? — questionei a vendo largar o livro na mesa de centro, com certa brutalidade, Vic não era do tipo que descontava sua raiva nas pessoas, mas pelo visto não tinha o menor problemas em fazer isso com objetos, ou ela apenas não gostava mesmo do livro.
— Simplificando bastante, intensidade — respondeu Vic se sentando ao meu lado colocando a mão entre os olhos enquanto encostava a cabeça no encosto do sofá — os nossos instintos são muito mais aflorados que os comuns, pro bem ou pro mal, mas isso não significa que sejamos mais propícios a violência que a maioria, nosso primeiro instinto é cuidar, não agredir.
— O livro não diz isso — disse meio sem graça.
— Imagino que não — disse ela com desdém, esse tom não combinava muito com a Vic para ser sincera — esse livro é uma desinformação absurda, ele praticamente descreve os lúpus como animais com quase nenhum raciocínio, extremamente possesivos, com alta tendencia a agressão e uma... maquina do sexo.
Aquela última frase a fizera corar e eu também, a última coisa que precisava era a Vic e sexo na mesma frase, esse era um pensamento para lá de perigoso na atual fase do nosso relacionamento.
— Eu por acaso pareço com isso? — questionou num tom meio estrangulado, muito provavelmente devido a vergonha.
— Não, não parece — respondi sorrindo sem graça.
— Obrigada — disse ela parecendo um pouco mais calma, começando a se levantar tendo a intenção de voltar para a cozinha, mas parando na minha frente — mas alguma duvida?
Na verdade eu tinha muitas, só não sabia como fazê-las.
— Tem algum livro para recomendar sobre o assunto? — questionei constrangida.
— Existe alguma coisa que tem vergonha de me perguntar? — questionou Vic com a sobrancelha erguida inclinando o rosto um pouco pro lado, parecendo contar um sorriso.
— Não exatamente — respondi sem conseguir encará-la diretamente.
— Existem pouquíssimos livros verdadeiramente confiáveis sobre o assunto — disse ela com o queixo apoiado sobre a mão — eu mesma descobrir mais sobre com a Teresa e as minhas viagens do que qualquer coisa que pudesse achar na internet ou livro, mesmo que eu não estivesse realmente aberta a descobrir.
— Poderia me dizer os nomes?
— Eu tenho eles no meu quarto — respondeu Vic suspirando parecendo um pouco decepcionada — pode pegar pra ler na hora que quiser.
Suspirando depois de uma pequena batalha interna passo a mão pelos meus cabelos.
— É sobre a marca — disse respirando fundo.
— Que bom, por um minuto pensei que iria perguntar sobre a minha loba interior — disse ela fazendo uma leve careta — ela é um saco, quanto mais demorar o contato entre vocês melhor pra mim.
— Eu também estou curiosa sobre ela — confessei rindo sem graça — é uma parte sua afinal.
— Você não deveria ter dito isso, ela vai ficar insuportável por um mês — resmungou Vic de forma exagerada — mais do que ela já está sendo.
— Como é conversar com uma parte sua que é tão consciente? — perguntei curiosa, a vendo se sentar de novo a meu lado.
— No começo era bem estranho, me sentir meio esquizofrênica — confessou respirando fundo brincando com as mãos em seu colo — e ela sempre foi insuportável, tá grande parte da culpa foi minha, acho que não gostei do resultado da minha classe tanto quanto o meu pai e fui bastante injusta com ela no inicio.
— Como ela é? — perguntei tentando imaginar essa outra versão da Victoria.
— Insuportável, eu já não disse? — questionou.
— É sério Vic — disse empurrando seu ombro com o meu — eu quero saber antes de... sabe, ouvir ela, eu vou ouvir, né?
— Vai e vai desejar não ouvir — disse Vic concordando com a cabeça — apesar de eu achar que ela vai pegar mais leve com você do que comigo.
— Então ela gosta de mim? — questionei de brincadeira.
— Ela te escolheu, né — disse com um leve sorriso — na verdade, eu te escolhi, preciso começar a lembrar que somos a mesma pessoa, mesmo que as vezes não pareça.
Eu não esperava por aquela frase ao ponto de não conseguir falar nada por um tempo.
— Terapia faz milagres, né? — questionou dando um meio sorriso — e sobre a marca, a gente não precisa... transar, pra ficar completa.
E novamente perdi as palavras, era isso que eu realmente queria perguntar e a Vic saber disso me deixava muito envergonhada.
— Eu sei que isso estava lhe preocupando e que não quer me pressionar — disse ela num tom calmo — eu agradeço por isso, mas eu não sou de vidro, você pode me perguntar essas coisas, a gente precisa conversar pra isso dar certo.
— Desculpa, eu só não queria ser como a sua ex — disse brincando com os meus dedos.
— E nunca vai ser Lara — disse Vic colocando a minha mão entre as suas em seu colo começando a fazer um carinho — só o fato de você está tentando me deixar confortável já mostra que é diferente dela e eu não sou uma parceira muito fácil, vamos combinar.
— Mas você tem motivos — disse encostando a minha cabeça em seu ombro — a sua família não foi fácil e sua ex também.
— Os seus também não eram, se eu me lembro bem — disse ela continuando a fazer o carinho em minha mão apoiando a sua cabeça na minha — e sua mãe também não é um mar de rosas.
— Eu senti um ciuminho nessa voz? — perguntei sorrindo cutucando em seu braço, não querendo entrar no assunto da minha mãe, pois sabia que além de quebrar aquele clima, só deixaria a Vic mais ansiosa.
— Dos teus fracassos? Magina — respondeu ela num tom de riso — tô até feliz com eles.
— Palhaça — disse empurrando seu ombro com o meu.
— O que? O fracasso deles foi o meu sucesso.
— Você ainda tem que ralar um pouquinho pra esse sucesso.
— Me pegou.
Continua...
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A inofensiva (ABO)
Fiksi PenggemarLara é uma ômega muito responsável e que luta pela sua própria independência, mas que começará a se preocupar que com os seus 28 anos ainda não encontrará o seu Alfa, problema é que ela procura por um Alfa calmo, gentil e que não tenha um temperamen...