Capítulo 33

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  Dês que recebera a notícia da visita da minha mãe, Vic praticamente não saía da cozinha, testando tudo aquilo que lhe viesse a mente, nem consigo contar as vezes que a vi andando de um lado para o outro e quando perguntei se podia ajudá-la em alguma coisa, ela simplesmente disse que eu só precisava testar o gosto e ajudar a lavar os pratos depois.

  Por isso eu estava no momento deitada no sofá lendo um livro sobre os lúpus, tentando descobrir um pouco mais sobre a Vic, pois ela ainda não parecia muito confortável em falar sobre esse assunto.

  — Ah, não acredito que está lendo isso — disse num tom de descrença se inclinando sobre mim pegando o livro das minhas mãos — isso é pura especulação, tá no mesmo nível de terraplanistas, não, na verdade é pior.

  — Eu só estava meio curiosa — confessei envergonhada me sentando — não tem muitas informações sobre os lúpus.

  — Se estava tão curiosa, era só me perguntar ou ligar pra minha irmã, eu sei que tem o número dela — disse Vic passando a mão pelos cabelos — além do que, não existe tanta diferente entre os lúpus e os comuns.

  — E quais são as diferenças? — questionei a vendo largar o livro na mesa de centro, com certa brutalidade, Vic não era do tipo que descontava sua raiva nas pessoas, mas pelo visto não tinha o menor problemas em fazer isso com objetos, ou ela apenas não gostava mesmo do livro.

  — Simplificando bastante, intensidade — respondeu Vic se sentando ao meu lado colocando a mão entre os olhos enquanto encostava a cabeça no encosto do sofá — os nossos instintos são muito mais aflorados que os comuns, pro bem ou pro mal, mas isso não significa que sejamos mais propícios a violência que a maioria, nosso primeiro instinto é cuidar, não agredir.

  — O livro não diz isso — disse meio sem graça.

  — Imagino que não — disse ela com desdém, esse tom não combinava muito com a Vic para ser sincera — esse livro é uma desinformação absurda, ele praticamente descreve os lúpus como animais com quase nenhum raciocínio, extremamente possesivos, com alta tendencia a agressão e uma... maquina do sexo.

  Aquela última frase a fizera corar e eu também, a última coisa que precisava era a Vic e sexo na mesma frase, esse era um pensamento para lá de perigoso na atual fase do nosso relacionamento.

  — Eu por acaso pareço com isso? — questionou num tom meio estrangulado, muito provavelmente devido a vergonha.

  — Não, não parece — respondi sorrindo sem graça.

  — Obrigada — disse ela parecendo um pouco mais calma, começando a se levantar tendo a intenção de voltar para a cozinha, mas parando na minha frente — mas alguma duvida?

  Na verdade eu tinha muitas, só não sabia como fazê-las.

  — Tem algum livro para recomendar sobre o assunto? — questionei constrangida.

  — Existe alguma coisa que tem vergonha de me perguntar? — questionou Vic com a sobrancelha erguida inclinando o rosto um pouco pro lado, parecendo contar um sorriso.

  — Não exatamente — respondi sem conseguir encará-la diretamente.

  — Existem pouquíssimos livros verdadeiramente confiáveis sobre o assunto — disse ela com o queixo apoiado sobre a mão — eu mesma descobrir mais sobre com a Teresa e as minhas viagens do que qualquer coisa que pudesse achar na internet ou livro, mesmo que eu não estivesse realmente aberta a descobrir.

  — Poderia me dizer os nomes?

  — Eu tenho eles no meu quarto — respondeu Vic suspirando parecendo um pouco decepcionada — pode pegar pra ler na hora que quiser.

  Suspirando depois de uma pequena batalha interna passo a mão pelos meus cabelos.

  — É sobre a marca — disse respirando fundo.

  — Que bom, por um minuto pensei que iria perguntar sobre a minha loba interior — disse ela fazendo uma leve careta — ela é um saco, quanto mais demorar o contato entre vocês melhor pra mim.

  — Eu também estou curiosa sobre ela — confessei rindo sem graça — é uma parte sua afinal.

  — Você não deveria ter dito isso, ela vai ficar insuportável por um mês — resmungou Vic de forma exagerada — mais do que ela já está sendo.

  — Como é conversar com uma parte sua que é tão consciente? — perguntei curiosa, a vendo se sentar de novo a meu lado.

  — No começo era bem estranho, me sentir meio esquizofrênica — confessou respirando fundo brincando com as mãos em seu colo — e ela sempre foi insuportável, tá grande parte da culpa foi minha, acho que não gostei do resultado da minha classe tanto quanto o meu pai e fui bastante injusta com ela no inicio.

  — Como ela é? — perguntei tentando imaginar essa outra versão da Victoria.

  — Insuportável, eu já não disse? — questionou.

  — É sério Vic — disse empurrando seu ombro com o meu — eu quero saber antes de... sabe, ouvir ela, eu vou ouvir, né?

  — Vai e vai desejar não ouvir — disse Vic concordando com a cabeça — apesar de eu achar que ela vai pegar mais leve com você do que comigo.

  — Então ela gosta de mim? — questionei de brincadeira.

  — Ela te escolheu, né — disse com um leve sorriso — na verdade, eu te escolhi, preciso começar a lembrar que somos a mesma pessoa, mesmo que as vezes não pareça.

  Eu não esperava por aquela frase ao ponto de não conseguir falar nada por um tempo.

  — Terapia faz milagres, né? — questionou dando um meio sorriso — e sobre a marca, a gente não precisa... transar, pra ficar completa.

  E novamente perdi as palavras, era isso que eu realmente queria perguntar e a Vic saber disso me deixava muito envergonhada.

  — Eu sei que isso estava lhe preocupando e que não quer me pressionar — disse ela num tom calmo — eu agradeço por isso, mas eu não sou de vidro, você pode me perguntar essas coisas, a gente precisa conversar pra isso dar certo.

  — Desculpa, eu só não queria ser como a sua ex — disse brincando com os meus dedos.

  — E nunca vai ser Lara — disse Vic colocando a minha mão entre as suas em seu colo começando a fazer um carinho — só o fato de você está tentando me deixar confortável já mostra que é diferente dela e eu não sou uma parceira muito fácil, vamos combinar.

  — Mas você tem motivos — disse encostando a minha cabeça em seu ombro — a sua família não foi fácil e sua ex também.

  — Os seus também não eram, se eu me lembro bem — disse ela continuando a fazer o carinho em minha mão apoiando a sua cabeça na minha — e sua mãe também não é um mar de rosas.

  — Eu senti um ciuminho nessa voz? — perguntei sorrindo cutucando em seu braço, não querendo entrar no assunto da minha mãe, pois sabia que além de quebrar aquele clima, só deixaria a Vic mais ansiosa.

  — Dos teus fracassos? Magina — respondeu ela num tom de riso — tô até feliz com eles.

  — Palhaça — disse empurrando seu ombro com o meu.

  — O que? O fracasso deles foi o meu sucesso.

  — Você ainda tem que ralar um pouquinho pra esse sucesso.

  — Me pegou.

Continua...

A inofensiva (ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora