Capítulo 27

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  -- Tem sanduíches na minha bolsa, você pode pegar e comer -- disse Teresa quase rosnando enquanto massageava sua têmpora direita quase inclinada totalmente sobre a mesa -- na verdade peguem vocês também, porque a próxima pessoa a reclamar de fome, eu juro que pulo no pescoço.

  Rapidamente todos nós pegamos um sobre o olhar fulminante da minha amiga que realmente parecia que iria pular no pescoço mais próximo, a Teresa com certeza conseguia ser assustadora quando estava perto de chegar ao seu limite, algo que apesar dos efeitos colaterais de seu medicamento, não acontecia com frequência, claro ela era dona de um humor ácido para lá de constante, mas normalmente era usado para fazer piadas autodepreciativas num tom muito amargo. E ainda assim ela não era a pessoa mais assustadora do grupo quando ficava irritada, pelo contrário esse posto era da pessoa menos provável entre nós, a Mel.

  Eu sei, é estranho pensar nisso, a Mel é um doce, carinhosa, gentil, em todos os sentidos um cachorrinho alegre vendo o dono chegar em casa e não é ofensivo, ela mesma se descreve assim e com um impressionável humor, sem contar que ela odeia conflitos o que não é nenhuma surpresa considerando os 8 irmãos que tinha, 7 deles sendo alfas, ela abomina brigas.

  Mas a Mel não é manca atoa, mas não cabe a mim contar esse incidente, por sorte quase nunca se irritava, não o suficiente para mostrar isso e todos nós concordamos em nunca deixá-la chegar a esse ponto de novo.

  -- Mel cadê a sua bengala? -- perguntei depois de engolir minha comida recebendo um olhar fulminante da Teresa.

  -- Conversas sem importância depois -- disse Teresa entre os dentes -- por favor...

  -- Desculpa -- disse erguendo os braços antes de me calar.

  -- Ótimo, agora eu vou começar, silencio -- disse a beta respirando fundo dando uma leve pausa, suspeito que para organizar seus pensamentos, a vendo pegar um tablete lendo algo em sua tela -- bem, vamos começar por ordem de urgência, do mais fácil pro mais difícil, por isso, Mel, gostaria de dizer algo sobre o seu problema?

  -- Não, é só um adolescente idiota, vocês sabem como são adolescentes -- disse Mel abanando a mão -- sem ofensa Davi.

  -- Não ofendeu, ex membro de gangue, lembra? -- perguntou Davi apontando para si mesmo, surpreendendo Lana, é a Mel estava certa um contexto seria bem vindo -- se quiser eu posso dar uma cocha no teu sobrinho ou pedi pra alguém fazer isso, ainda tenho contatos de dentro da gangue.

  -- Se for pra dar uma lição num alfa idiota é só me chamar, eu ajudo com prazer -- disse Manuela sorrindo relaxada.

  Eu gostaria de saber, qual foi o doido que disse que ômegas são fofinhos?

  -- Só pra lembrar, tenho acesso a químicos fortes -- disse Teresa levantando a mão.

  -- Sem violência, por favor -- disse Mel quase num gemido -- eu só queria conselhos pra lidar com o meu sobrinho, não formas de cometer um crime, eu sou advogada caramba e pelo andar da carruagem eu vou ter que cometer perjúrio pra ajudar vocês num futuro não muito distante.

  -- Não vai nada -- disse Manuela -- você nem é especializada nisso. 

  -- E vocês confiam em outro advogado? -- questionou a alfa descrente.

  -- Não -- respondem todos nós que abaixamos a cabeça envergonhados.

  -- Queria que tivessem o mesmo interesse por meus moveis -- disse Mel meio emburrada -- desse trabalho eu tenho orgulho e só por curiosidade algum conselho que não envolva um crime?

  -- Davi... eu soube que teu ex tá na cidade, precisa de ajuda? -- questionou Teresa pleníssima como se momentos atrás não estivesse planejando um crime.

  -- Não sei porque ainda tento -- disse Mel encostando a testa na mesa cansada com aquele assunto.

  -- Diferente da Melzinha, eu gostaria que alguém desse uma surra no meu ex pra ele manter o bico calado -- disse Davi passando a mão pelos cabelos -- deu muito trabalho bancar o nerd certinho, não quero pôr tudo a perder só porque o passado decidiu vim me assombrar.

  -- Eu posso falar com ele -- disse erguendo a mão timidamente -- sabe, alfa lúpus e tal, além do que, parem de revelar suas tendencias criminosas com a Lana aqui, ela não veio pra arrumar álibis pra vocês, Lana eu juro que eles normalmente não são assim, esse é só um dia atípico, eu juro.

  -- Ela tá mentindo -- disse Manuela quase gritando.

  -- Cala a boca Manu, eu disse que eles eram loucos -- disse quase num gemido olhando para a Lana.

  -- Você também disse que não era muito diferente -- observou Lana com um meio sorriso.

  -- Sim, mas diferente deles eu não fico planejando crimes e muito menos fico falando deles abertamente -- disse grunhindo um pouco -- podemos voltar pro assunto principal, por favor?

  -- Tudo bem dessa vez passa, agora pode dar certo a tua ajuda, só não faz o garoto se mijar dessa vez -- pediu Teresa.

  -- Não fui eu, foi a Manuela -- disse rapidamente ofendida.

  -- A Manuela fez ele chorar que nem uma criancinha de 3 anos, você, fez ele se mijar -- disse Teresa num tom sério.

  -- Eu só liberei um pouco dos meus feromônios, eu não esperava que ele tivesse um controle tão fraco da bexiga -- reclamei sentindo o olhar de Lana queimar o lado do meu rosto me fazendo corar envergonhada.

   -- Vi minha querida, você sabe muito bem que os lúpus, sobre tudo os alfas são os bichos papões na nossa sociedade -- disse Teresa num tom sereno -- foi praticamente o grande lobo mal enfrentando um filhotinho, me admira ele não ter desmaiado.

  -- Vi eu sei que você é meio contra a violência, mas não pode dar um sacode de leve no meu ex, por mim? -- questionou Davi numa falsa voz fofa -- não precisa quebrar um braço, é só fraturar.

  Eu gostaria muito de dizer que o Davi só estava dizendo coisas daquele tipo por odiar o ex, mas essa seria a mentira mais deslavada que já disse na minha vida, porque diferente da Mel e eu, o Davi juntamente da minha irmã eram os primeiros a pular numa briga, a Mel se escondia até o conflito passar, eu tentava resolver na conversa e a Teresa, bem... a Teresa pode tanto apartar a briga quanto chegar na voadora.

  O Davi tem uma tendencia a partir por extremos, ao ponto que só saíra da gangue depois que levou uma facada e receber um sermão de todos nós, para que só aí, aceitar sair.

  -- Davi caso você não se lembre, eu não sou só contra a violência, eu fiz voto de não agressão, no Tibet -- disse dando ênfase na última palavra.

  -- Você nem budista é -- reclamou Davi emburrado.

  -- Calado Davi, eu não vou bater no seu ex -- disse rapidamente querendo dar por encerrado o assunto -- dar uma focinha aqui.

  -- Dar não, tá divertido ver isso -- disse Manuela num tom travesso se calando assim que senti o olhar da beta sobre si.

  -- Agora que resolvemos os assuntos mais simples, podemos prosseguir para os mais complicados -- começou Teresa num tom mais sereno parecendo um tanto cansada, o efeito colateral deve ter piorado ao ponto que nem mesmo raiva ela conseguia expressar -- mas antes eu preciso fazer um anuncio.

  -- Espero não ter perdido o anuncio.

  Aquela voz chamou a atenção de todos nós para ao lado onde Bruna saía da floresta vestida com uma calça jeans simples meio folgada, ténis de caminhada, um casaco por cima de uma camisa polo rosa, mas o mais chocante não era sua presença no local, pois todos do quinteto esperava que aparecesse e sim o sangue que sujava suas roupas, sapatos e até mesmo seu rosto descendo por seu pescoço sujando o colarinho da camisa.

  -- E não se preocupem o sangue não é meu -- disse Bruna passando a mão pelos cabelos -- droga tinha sangue na mão também.

Continua...

A inofensiva (ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora