Capítulo X - Intenção

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     Para Ray Collins, o amor era mais ou menos como o sol. Nascia pela manhã, entrava pelas frestinhas da janela iluminando o quarto, fazia os miseráveis dias de sua vida valerem a pena e causava-lhe uma confusão dentro do peito. O amor às vezes queimava e mudava de cor, ele podia até enfraquecer em alguns momentos, mas normalmente ele era forte. Apesar de tudo, ele sempre renascia, mesmo que alguns dias tivessem nuvens que o impedissem de mostrar todo o seu brilho ou uma tempestade forte que ele utilizava como motivo para se recusar a acreditar em seus verdadeiros sentimentos.

     No entanto, após seu amor ser morto pelas espinhosas mentiras de Jim, Ray passou a acreditar que aquele sentimento jamais renasceria, ou pelo menos que nunca mais se apaixonaria por alguém novamente. Ele nunca conseguiu mentir para o próprio coração, e sabia que não era possível, mas ainda tentava. Com o passar do tempo, sua mente se abriu para a realidade, agora ele podia dizer que não estava apaixonado por ninguém, tinha absoluta certeza.

      “Você não está apaixonado. Isso é coisa da sua cabeça. Você só está confuso. Esqueça isso, apenas esqueça” era o tipo de coisa que costumava repetir para si mesmo durante o ensino médio quando achava que seu amor estava para renascer. Ray ainda manteu em segredo paixões por diversos caras mesmo depois que se afastou de Jim, isso porque imaginava e queria acreditar que outra situação como aquela não poderia acontecer novamente.

     O Collins não estava suportando mais. Sua cabeça estava uma bagunça. Era cansativo, era desgastante... Ele não tinha tempo para perder com amor, não tinha tempo para se apaixonar. Por quê? Seu coração já está muito machucado, então por que? Por que ele insistia em renascer aquele amor, mesmo sabendo que não existia mais esperança para ele? E quem garantiria que esse amor não seria morto outra vez? Quem garantiria que seu coração não iria ser ferido outra vez?

     Ray não queria se apaixonar. Preferia morrer a aceitar os verdadeiros sentimentos, por isso, se sua relação com Norman se tornasse mais íntima, tudo correria ao contrário do que planejava. Seu objetivo era acabar com a imagem de Norman, não se tornar parte da vida dele.

     Era assim que gostava de pensar.

     — ... Ray? Eu estou vendo isso mesmo ou... — Emma arqueou uma sombrancelha para o amigo e em seguida pôs as mãos no quadril, sorrindo e encarando o rapaz com a cabeça apoiada na carteira. — Você estava cochilando?

     — Ah? O quê? — ele levantou o rosto com o susto, ainda um pouco sonolento e com os olhos caídos. — Emma...!

     — Uau, é realmente raro te ver assim, você tá' parecendo um zumbi. Aconteceu alguma coisa? Insônia? — a ruiva indagou mais preocupada do que surpresa, não costumava ver o moreno assim e nem gostava de vê-lo daquela forma. “Ele também não parece mal de estado, mas mesmo assim...” pensou a garota agora franzindo o cenho.

     — Huh... Não, não foi isso. Eu só... — murmurava enquanto esfregava os olhos com a parte inferior das palmas para tentar despertar. — Pensei demais sobre certo assunto durante grande parte da noite e acabei me perdendo no tempo. Me lembro de ter olhado o relógio uma última vez antes de pegar no sono, se não me engano eram... 02:00 ou 03:00 da manhã...?

     — Ah, está explicado! — a ruiva forçou um risinho nasalado, tentando evitar ao máximo demonstrar preocupação. Ray havia dito que não queria vê-la se preocupando com ele, Emma queria se esforçar para fazê-lo, mas era quase impossível. — Bom, o que eu poderia fazer? É assim que você é, né. Quer me contar um pouco desse “assunto” que fez você não conseguir dormir à noite?

     Ao ouvir a pergunta preocupada disfarçada de curiosidade da amiga, Ray balançou a cabeça em sinal de negação. Emma já sabia do que se tratava o assunto, mas queria abrir uma brecha para tentar dar algum conselho à Ray sem deixar sua verdadeira intenção vir à tona.

call me by your name; norray Onde histórias criam vida. Descubra agora