Capítulo XXIV - Chega de Negar

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     Ray POV

     Norman era um desgraçado.

     O idiota me convenceu a entrar no rio, me fez ter que pedir pra fazer as coisas e no fim, sequer trouxe uma toalha. O mínimo que ele poderia ter feito era levado uma toalha, se ele estava tão afim de entrar no rio! Certo que ele nem sabia que iríamos acabar encontrando um, mas droga, se não tinha toalha, era só não entrar!

     Aquele imbecil ainda devia ter ficado feliz ao lembrar que não havia toalha, porque quando nos sentamos em uma das rochas molhadas pelos epichos da queda d'água para esperar nossos corpos secarem, ele ficou me olhando de cima a baixo com um sorriso bizarramente bonito no rosto que eu não conseguia decifrar do que poderia ser.

     Mas eu também fazia o mesmo, ainda que discretamente, então só podia julgá-lo por nem ter disfarçado.

     Agora, ele terminava de vestir aquela camisa larga bonita e eu já ajeitava na cabeça o chapéu que havia me emprestado.

     Os fios brancos de Norman, por estarem molhados, escorriam pela sua testa e chegavam até os seus olhos. Eu podia notar gotas finas de água escorrendo pelas laterais do seu rosto e pingando em suas bochechas. A pele dele era tão branca, e juntando com aquele maldito rosto angelical dele, quando a luz do Sol batia na cachoeira e, consequentemente, os raios refletiam em nossa direção, era como se ele brilhasse, porque uma aura branca contornava todo o seu corpo, fazendo-o parecer...

     Um anjo.

     Dessa vez, sem exagero, ele realmente parecia um anjo.

     Eu podia xingá-lo e amaldiçoá-lo com tudo quanto fosse coisa, mas não podia deixar de admitir que Norman era bonito pra caralho. Acho que aquilo era inegável.

     Meus olhos percorreram seu corpo, e me dei conta de que não havia me acostumado.

     Senti aquela ardência incômoda tomar conta das minhas bochechas quando escorreguei o olhar para a vermelhidão em seu peito — um pouco exposto pelo decote da camisa larga — causada pelos meus arranhões, que na minha cabeça, nem haviam sido tão fortes para o que ele estava merecendo. Mesmo assim, eu que tinha lhe marcado. Estava escrito em sua pele que eu passei minhas mãos por ali.

     — Eu consigo ver a baba no canto da sua boca — ele soltou, sem nem mesmo olhar para mim, entre um riso nasalado, ainda terminando de vestir a camisa. Eu franzi o cenho em resposta.

     — Não sou aquelas garotas idiotas que ficam te cercando quando entra na sala de aula — revirei os olhos, me agachando para recolher a minha mochila e a caderneta, que havia ficado aberta e possuía um resquício de água em uma das folhas.

     E eu fiquei tão preocupado em verificar se haviam outras páginas molhadas que nem notei quando Norman se aproximou, parando de pé ao meu lado.

     Mirei o seu tênis, que havia pisado minha caneta para indicar sua presença, e ergui os olhos para encarar seu rosto.

     Outra vez, lá estava aquele sorriso maldito.

     — Qual é o seu problema? — empurrei seu tornozelo com a mão para recuperar a caneta e me levantei rapidamente, virando para ele.

     E o que quer que eu fosse dizer naquele momento, foi calado assim que eu me toquei da sua leve inclinação em minha direção, onde a ideia de recuar sequer se passou pela minha cabeça. Sentir aquela respiração quente dele chicotear o meu rosto me provocava arrepios, e eu, por incrível que fosse ter que admitir aquilo, adorava aquela sensação. A sensação de saber, mas não ter certeza, e que se acontecer, vai ser muito bom.

call me by your name; norray Onde histórias criam vida. Descubra agora