Capítulo XXVII - Preço

570 42 228
                                    

     Norman não acordou bem naquele dia, embora tivesse tudo para isso.

     Quando abriu os olhos naquela manhã e viu a maneira como Ray estava encolhido em seus braços, a perna entre as suas e ressonando baixinho contra o seu pescoço, ele pensou que nada poderia arruinar o seu dia. Ele ficou acariciando os fios escuros e sedosos de Ray, pensando no quão adorável ele parecia dormindo. Jamais imaginou que assim que pegasse o celular para verificar o horário, veria as seis ligações perdidas da sua mãe e as duas mensagens que diziam: "Bom dia, filho", "Me atenda, precisamos conversar".

     Então ele realmente não estava muito animado, e sentir o olhar curioso de Ray sobre si durante todo o caminho de volta para a universidade não contribuiu nem um pouco para a calma do seu pobre e mole coração. Afinal, por que Ray estava preocupado?

     Ele não tinha retornado as ligações e sequer respondido as mensagens de sua mãe. Vinha ignorando isso desde cedo.

     É claro que os seus primeiros pensamentos foram totalmente negativos. Se perguntou se Gilda contou a Adelie sobre o que andava acontecendo com o filho na universidade; se ela tinha contado sobre Ray. Era muita coincidência sua mãe ligar e lhe mandar aquelas mensagens logo no dia seguinte. Gilda não poderia ser tão baixa! Tinha dado a sua palavra. Norman não iria perdoá-la se ela realmente tivesse feito aquilo.

     Então quando passou pela porta do dormitório com seus colegas de quarto, o silêncio entre eles foi constrangedor.

     Eles mal se falaram durante o acampamento e ainda era uma amizade nova, e tinham acabado de voltar para a universidade. Ninguém sabia exatamente como iniciar uma conversa e o ar desconfortável que Norman exalava pelo seu incômodo deixava tudo ainda mais confuso.

     Ele olhou para Ray, que não parava de encará-lo, mas o moreno desviou o olhar. Norman notou a inquietude dele. Os dedos se movendo sem real objetivo, apertando uns aos outros, os olhos perdidos em algum lugar daquele cômodo.

     Oliver suspirou e em silêncio, agarrou o pulso de Zack, puxando-o para fora do quarto. Tão logo eles saíram, Norman mal teve tempo de pensar quando Ray veio apressando os passos na sua direção, agora com os olhos mais fixos nele do que nunca. Ele parou na sua frente, encarando-o com aquela expressão cheia de curiosidade e preocupação.

     — Aconteceu alguma coisa. — ele disse e não era uma pergunta. Estava claro que tinha acontecido alguma coisa.

     Mas Norman estalou a língua em desdém e fez um sinal com a mão, querendo deixar pra lá.

     — Besteira. Não se preocupe.

     — Você está com essa cara de quem parece ter visto um fantasma desde que saiu da barraca no acampamento, Norman — apontou para ele, tocando o dedo indicador em seu peito em tom acusatório, embora o toque tímido em sua voz mostrasse que ele realmente estava determinado a entender. — Definitivamente aconteceu alguma coisa.

     — Você anda prestando muita atenção em mim ultimamente, hein? — ele brincou, abrindo um sorrisinho, mas Ray não entrou na brincadeira. Havia certa provocação na voz dele, mas o moreno não queria ligar para isso agora.

     — Não pode, não quer ou não consegue me contar? — ele questionou baixinho, suavizando mais o tom de voz. Norman prendeu os olhos nas orbes escuras, analisando o verde que eles refletiam diante da claridade. A janela do dormitório estava aberta e Ray se encontrava na direção da luz que entrava por ela.

     Era engraçado pensar como, em tão pouco tempo, eles tinham se aproximado. Não era tanto, mas foi de uma maneira acelerada e Ray nem parecia o mesmo. Aos poucos, Norman foi derrubando aquelas barreiras que o próprio moreno levantava em torno de si mesmo e convencendo-o aos poucos. Não era para ser nada prolongado e Norman realmente achou que depois do acampamento eles iriam se afastar. Que Ray iria ficar com um pé atrás e evitar contato, mesmo com toda a conversa que tiveram e todas as afirmações feitas por Norman.

call me by your name; norray Onde histórias criam vida. Descubra agora