Capítulo XVI - Eu Venci

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     A biblioteca cheirava a livro novo. Uma nova remessa havia acabado de chegar em uma das sessões e Ray estava extremamente ansioso para dar uma olhada nela.

     Enquanto caminhava entre as estantes altas lotadas de livros grossos, com outros faltando em alguns lugares, Ray aproveitava o som suave de seus passos sobre o piso brilhante de mármore. Era tranquilizante. Vez ou outra soltava uma melodia rápida da música que sua mãe costumava cantarolar em casa. Era espontâneo, e até ele era pego desprevenido em certos momentos.

     O cheiro de livro novo, o ruído baixo do ar-condicionado ligado em algum lugar nas paredes brancas da biblioteca... Tudo isso lhe trazia nostalgia. A última vez que entrara em uma biblioteca fora quando acompanhou Emma para comprar Enola Holmes: O Caso do Marquês Desaparecido, lá em Grace Field. Era uma sensação ótima e nostálgica visitar uma biblioteca novamente.

     — Os Dois Morrem No Final é muito bom também. Leva esse. — ah, sim. Ray quase se esquece de Oliver lhe enchendo de livros que já leu e julgando os que achou terríveis. — Espera, você pegou Orgulho e Preconceito agora? Hah... Tudo bem. Esse é bom, mas tem melhores. Tipo esses aí que eu peguei. Começa por eles.

     — Já foram quatro. São quatro recomendações suas e quatro escolhas minhas. Vamos deixar Orgulho e Preconceito pra próxima. — Ray reequilibra os livros em suas mãos antes de começar a caminhar para o fundo da sessão. — Pode voltar e passar o resto do intervalo com o Zack lá na frente. Vou sentar ali para dar uma lida.

     Oliver suspirou e pôs de volta no lugar o livro que havia pego, se despedindo de Ray com um sinal de saudação militar e correndo para fora daquela sessão.

     Voltando ao seu mundo...

     Quando passou a mão pelas capas duras dos livros novos de uma fileira alta, no caminho para uma mesinha no final daquela sessão, pôde ver uma abertura estranhamente específica entre dois dos livros pela qual jurou ter escutado um riso baixo. Talvez houvesse alguém do outro lado olhando os livros da outra sessão, e deveria ter sido uma mera coincidência esse alguém ter rido assim que passou pela pequena abertura.

     Apenas ignorou e continuou seu caminho.

     Mais à frente, enquanto ainda passava a mão pelas capas, lendo os títulos diferenciados, curtos e numerados, encontrou outra abertura igual à outra de antes. Faltava um livro ali, e novamente, Ray pôde ouvir um riso do outro lado, dessa vez mais nítido que antes. Curioso, ele aproximou o rosto da pequena abertura, mas não viu nada a princípio. Quando ia se afastar, quase sentiu o coração sair pela boca. Um olho azul-diamante surgiu bem ali, diante dele, brilhando por não se sabe o quê. Parecia ter brilho próprio. Sua primeira reação fora se afastar num salto, quase derrubando os livros que segurava nos braços.

     — Que porra é essa?! — ele franze as sombrancelhas e exala num tom suficientemente audível, cerrando os olhos para o olho brilhante.

     — Então eu te chamo de gatinho e você me xinga de porra? Injusto. — a voz diz pela a abertura entre os livros. Ah, meu Deus. Ray não sabia por quê ainda se surpreendia com isso.

     — O quê...? Pelo amor de Deus, Norman, vai procurar o que fazer. — ele volta a se aproximar da estante e se inclina novamente para a abertura. — Qual é o seu problema? Você me assustou!

     — Essa era a intenção, bebê. — ele ri. Ray não vê os lábios do outro, mas seus olhos se fechando lentamente revelam que está sorrindo. Ele só demora um tempo para processar o apelido solto de forma natural.

     "Bebê".

     Ray sente o rosto ruborizar ao repetir a palavra em sua mente com a voz suave de Norman. A essa altura do campeonato ele já devia ter se esquecido que seu objetivo era fazer um jogo de mentes com o prodígio de Amherst. Aliás, ele devia já ter se esquecido assim que o usou de escudo para escapar de Jim.

call me by your name; norray Onde histórias criam vida. Descubra agora