Capítulo XII - Suspeitos

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     Já era quarta-feira. A última aula seria educação física ao ar livre no ginásio, mas foi cancelada por conta de um temporal e seria remarcada. As assistentes da cantina passaram nos dormitórios distribuindo café e chá quente para os alunos. Era incomum uma chuva daquelas logo no início da primavera.

     Desde o primeiro dia de aula, Ray não teve um minuto de paz, e pode-se imaginar que Norman também não, mas talvez ele fosse o menos afetado. Sua mente estava sempre trazendo à tona lembranças como o incidente no banheiro, o verdade ou desafio e a fotografia, que por coincidência ou não, em todas essas situações ele sempre acabava encurralado por Norman. O pior é que sempre tinha uma escapatória, uma brechinha, uma oportunidade de fuga, mas por algum motivo Ray não conseguia aproveitá-las, e sim, o problema era consigo.

     A conversa que havia tido com Emma no dia anterior estava um pouco relacionada com os pensamentos que Ray vinha tendo frequentemente. Emma lhe perguntou se ele estava bravo com Norman, não só pelas implicâncias e provocações como também pela situação que, principalmente ele, havia os colocado, e Ray, ainda que incerto, respondeu que não. Ele não era cem porcento culpado, mas ainda estava envolvido. A ruiva disse para o amigo fazer apenas o que ele achava que era o certo e não se forçar a detestar o Ratri, até porque nem havia de fato um motivo para isso. E se na verdade aquele fosse o jeito dele de se aproximar das pessoas? Ele podia ter falhado inicialmente e estava tentando recomeçar.

     É verdade que Ray pensou muito antes de concordar com aquilo, afinal já havia dado outra chance ao rapaz quando se encontraram no banheiro no dia do verdade ou desafio, e novamente ele cometeu um erro. Desperdiçou sua segunda chance. Mas... e dali em diante? Ele ainda precisava saber mais sobre Norman, precisava tornar a imagem dele superior, precisava aumentar sua reputação, e para isso teria que se aproximar dele. Talvez lhe dar uma terceira chance não fosse assim uma má ideia.

     Podia parecer besteira, mas Ray realmente estava empenhado a dar o seu melhor na Valley's para causar uma boa impressão, e se fosse preciso, estragaria a reputação do prodígio de Amherst. Já tinha até mesmo criado um plano B para caso as coisas dessem errado e ele precisasse explaná-lo. O problema era que agora Norman sabia que Ray estava disposto a estragar a imagem dele, então o albino estava um passo à frente. Enquanto Ray se preparava para atacar, Norman fortificava sua barreira e permanecia na defensiva.

     No fim, o Collins fez o que a amiga aconselhou. Colocou na mente que aquela antipatia não tinha nem pé nem cabeça e acabou ficando mole demais. Para o começo, resolveu não recusar a aproximação do albino e seu carinho na orelha. Tudo bem, Ray gostava de carinho.

     Sentiu o rosto arder com aquele pensamento.

     Ele não estava fazendo aquilo por Norman, e sim por si mesmo. É, estava agindo assim em nome de sua sanidade mental.

     Norman era como um imã e Ray era como um pedaço de metal. Não importava o quanto quisesse se afastar, ele não conseguia. Mas também não era porque Norman Ratri era absurdamente bonito, extremamente inteligente e assustadoramente atraente que Ray se sentiria intimidado por ele, claro que não... Beleza não atrai pessoas, atrai olhares e inveja.

     Era o que Ray gostaria de achar. Ele mal o conhecia! Devia ser algum tipo de encanto! Só podia ser.

     Mas porra, aquele era mesmo o único motivo? Ele ser bonito? Ray o achava bonito, sem dúvidas, mas não queria dizer que estava gostando dele. Não mesmo. Não havia se passado nem uma semana desde que o conheceu e ele o beijou, mas Ray não se importava. Ele não sentiu nada quando aconteceu.

     Aquele beijo deve ter sido só alívio cômico. Norman se desculpou depois e Ray nem deu ouvidos à ele, agora se sentia culpado. Esse medo ainda o consumia, o controlava, manipulava... O medo de se apaixonar.

call me by your name; norray Onde histórias criam vida. Descubra agora