Capítulo IX - Dependência

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     A consciência é só uma pequena lanterna que a solidão acende à noite.

     Para encontrar a esperança é necessário ir além do desespero, Emma era a recompensa de Ray por ele ter conseguido suportar tanto ódio e desprezo das outras pessoas durante a época em que ainda era só um homossexual não assumido e reservado do mundo. Apesar de ser muito competitivo em qualquer área, Ray, na maioria das vezes, aceitava a derrota — contanto que fosse justa — e se gabava muito quando vencia.

     Emma já teve a sua fase competitiva quando ainda estava no colegial l, hoje ela prefere apenas torcer para aqueles que competem, como nos esportes. No entanto, quando a competição envolve alguém de que gosta muito, aí o caso é outro. Ray era muito insistente e Emma ainda não era capaz de rebater os argumentos do mesmo, então quando perdia numa discussão, o mínimo que poderia fazer era aceitar e passar a se preocupar com o peso que o amigo carregaria.

     Seu maior medo agora era que Ray não conseguisse carregar todo esse peso e acabasse desabando. Agora ele teria de enfrentar uma universidade inteira, não só alguns estudantes da escola, lidar com tanto preconceito seria como um teste nível hardcore de resistência mental para o Collins.

     A ruiva agora também não tinha muitas opções. Ela sabia que era tarde e que Ray já havia tomado a decisão dele, de nada adiantaria tentar fazê-lo mudar de ideia, mesmo que fosse para o seu próprio bem.

     — Anna — a de olhos verdes-esmeralda chamou enquanto encarava o teto do dormitório deitada na cama de cima da beliche. — Posso te fazer uma pergunta?

     A loira, que estava na cama de baixo da beliche mexendo em seu celular, se inclinou para fora do colchão e sorriu tentando olhar a garota que estava deitada em cima.

     — Você acabou de fazer. — ela respondeu e Emma virou-se para o lado, apoiando a cabeça na ponta do colchão e encarando a menina que não parava de sorrir. — Estou brincando! O que é?

     — Hum... — ela fez uma pausa e suspirou, logo continuando: — Se caso alguém muito importante para você estivesse colocando a própria saúde mental em risco e você não fosse mais capaz de ajudá-la, o que faria?

     Quando Emma fez a pergunta, o sorriso que estava estampado no rosto de Anna se desfez lentamente. Sua expressão agora era interrogativa.

     — Por que está me perguntando isso?

     — É um e se apenas por curiosidade, nada em particular. — mentiu.

     — Ah, bem... Essa é uma questão meio difícil. — ela se sentou na cama e desligou o celular — Se eu não fosse mais capaz de ajudar essa pessoa, então obviamente não poderia fazer nada, apenas me arrepender por não ter feito de tudo para impedí-la anteriormente. — Emma engoliu em seco e franziu o cenho, mantendo toda a sua atenção focada no que Anna dizia — Acho que você entende isso, não é? Antes que o melhor momento se tornasse tarde demais.

     — Faz sentido... — murmurou a ruiva.

     — Mas, como eu não poderia voltar no tempo para corrigir meus erros, ao invés de ficar parada e assistir essa pessoa importante ter o psicológico arruinado, só me restava apoia-la, sabe? Ou pelo menos ficar do lado dela. — ela completou, e então uma luz se ascendeu para Emma no meio de tanto medo e insegurança. — Seria o mínimo a se fazer.

     Todo o remorso que guardava no peito havia aliviado um pouco quando ela se lembrou qual era o seu papel quando situações como aquela ocorriam com o amigo. Claro que se Norman pensasse em fazer qualquer coisa para ferrar com a vida de Ray, Emma não iria ficar parada. Ela queria fazer esse mínimo, queria ajudar o amigo de alguma forma, mas como?

call me by your name; norray Onde histórias criam vida. Descubra agora