Capítulo XIII - Pensamentos

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     "Merda, merda, merda."

    Os trovões continuavam, mas dessa vez pareciam vir com mais frequência enquanto o sol se escondia lentamente no horizonte.

     Ray se apoiava no ombro de Norman para conseguir caminhar direito, e pisava no chão duro arrastando os pés, o contato da sola dos sapatos com o piso liso de mármore criando ruídos finos e altos que ecoavam pelo corredor, se misturando com o barulho da chuva batendo no vidro das janelas. Enquanto isso, sua mente se afundava nos pensamentos que degolavam sua alma, deixando as emoções fluírem em formato de água salgada traçando curtas trilhas pelo seu rosto, trilhas que iam de seus olhos até suas bochechas e terminavam no queixo, com as gotas indo de encontro ao chão.

     E ele não podia fazer nada em relação àquele sentimento que tanto lhe atormentava. Estava crente de que superaria, de que conseguiria ignorá-lo, mas sem enfrentar o motivo daquele medo, jamais conseguiria. O sangue fervia, o ódio corria pelas suas veias e agitavam seu corpo, fazendo-o suar frio.

     O Collins vinha dizendo para si mesmo que se algum dia reencontrasse Jim, iria fazê-lo conhecer o gosto do seu punho e sentir o peso de suas palavras. Mas ele era fraco. Era o que mais odiava em si mesmo. Jamais teria coragem.

      Por isso, agora se sentia o pior. Teve que depender de Norman para afastar Jim e nem podia imaginar o que teria acontecido se o Ratri não estivesse lá. Ele cederia para o garoto outra vez, imaginava. Definitivamente não foi uma má ideia contar à Norman sobre Jim, má ideia mesmo fora ele ter se inscrito naquela universidade. Quatro anos era o tempo que teria de aturar Jim naquele lugar e ele não estava confiante de que conseguiria.

     Enquanto se torturava e desprezava mentalmente, as lágrimas que manchavam o seu rosto eram enxugadas pelos dedos delicados de Norman. Ao mesmo tempo que ele as limpava, deixava um carinho em sua bochecha. Norman atencioso era quase como uma pessoa diferente.

     Mas é claro que não estava reclamando.

     Ray não sabia dizer se eles estavam a caminho do corredor que levava aos dormitórios, pois sua visão ainda estava embaçada e a única coisa havia sido capaz de enxergar fora o rosto preocupado do Ratri ao seu lado. Então esfregou os olhos com o punho, parando o choro por completo e fungando. Quando os abriu novamente, percebeu que estava em frente ao dormitório de Emma.

     Como Norman sabia onde ele ficava?!

     Ray teria perguntado se antes o garoto não tivesse virado para si e fitado seus olhos, fazendo-o congelar no lugar. Sentiu as mãos dele desceram lentamente até as suas, segurando-as. Estavam... quentes.

     Norman estava se dando ao trabalho de ser cuidadoso até mesmo ao olhar para o moreno. Queria verificar se ele estava desconfortável com algo, mas Ray tinha somente uma expressão chorosa no rosto e o nariz fungando enquanto as lágrimas cessavam. “Indecifrável, como sempre” pensou o Ratri, abrindo um pequeno sorriso no canto dos lábios.

     — Imaginei que talvez você quisesse vê-la antes de voltarmos, sabe... Para conferir. — ele levou a destra até o rosto de Ray, colocando sua franja atrás da orelha para deixar o seu rosto mais visível, e em seguida coçou a nuca. — Emma deve saber o que falar para te confortar, ao contrário de mim.

     Quando o moreno ouviu aquilo, sentiu o peito apertar. Sim, Emma sabia o que dizer para confortar Ray, mas havia pedido à ela que o deixasse lidar com os próprios problemas sozinho, caso contrário, nunca mudaria. Falar com ela agora só iria piorar tudo.

     Norman percebeu os olhos do garoto manejarem novamente e um biquinho se formar em seus lábios. As sombrancelhas franzidas revelavam que ele estava prestes a chorar outra vez. O albino arregalou os olhos quando viu uma lágrima ameaçar cair, mas antes que acontecesse, Ray deu um passo em sua direção, abraçando-o.

call me by your name; norray Onde histórias criam vida. Descubra agora