Capítulo XXV - Piquenique

732 50 70
                                    

     Ray POV

     — Sanduíche natural de patê de atum, suco de uva e água — informei enquanto tirava a pequena vasilha de dentro da mochila, organizando tudo sobre a toalha de piquenique estendida abaixo de mim. — E as guloseimas que Emma me deu antes de sairmos da universidade. Temos um banquete aqui.

     Já eram quase duas da tarde quando Norman e eu encontramos um lugar aberto e calmo próximo à trilha para almoçarmos confortavelmente. Não exigimos demais porque se fôssemos nos preocupar com cada detalhe, ficaríamos horas andando em círculos, como fizemos mais cedo, e eu já estava morto de fome — o que era justo, por sinal, já que um certo alguém me fez deixar o jantar da noite anterior do lado de fora da barraca, e Oliver, o bom e esperto Oliver, teve a brilhante ideia de devolver a bandeja ao diretor de turma.

     Sério, se estava do lado de fora da nossa barraca, por que é que aquele imbecil acharia ótima a ideia de levar a bandeja de volta?!

     Enfim, ali estava eu, preparando tudo para o "almoço" enquanto Norman se preocupava em rodear aquele pequeno espaço calmo e claro da floresta, cercado por framboeseiras com os frutos bem vermelhos e bonitos, buscando algo interessante para fotografar.

     — Eu preciso lembrar de agradecer a Emma por ser tão legal com você quando voltarmos — ele disse distraidamente, se agachando para tirar uma foto aleatória de um dos arbustos frutíferos dali, parecendo fascinado.

     — Por que você acha que deveria agradecer à ela? — não conti a pergunta, terminando de organizar tudo pela a toalha quadriculada que havíamos recebido junto com os outros materiais para a exploração, me sentando de pernas cruzadas sobre o pano e encarando aquele Norman distraído e encantado com a natureza.

    Ele colheu algumas framboesas nas mãos antes de se virar na minha direção.

     — Porque ela cuida de você — deu de ombros, se aproximando com os olhos grudados no aparelho em suas mãos, e eu franzi o cenho para ele. — É um bom motivo. E eu também adoro doces, então tudo está interligado. Emma adora você e ela te dá doces. Eu adoro doces e adoro você, o que significa que vai ter que dividir comigo.

     Eu revirei os olhos, bufando.

     Grande novidade. Norman, o gênio, com suas lógicas ilógicas.

     — Isso não significa coisa nenhuma e eu vou dividir com você por educação — expliquei, observando-o desviar a atenção da câmera e voltar o olhar para mim enquanto se sentava na minha frente, respeitando o espaço entre nós marcado pela comida.

     — Ao menos iremos dividir! — ele bradou sorrindo, colocando as frutas que havia colhido sobre o pano, próximas à comida.

     E no momento seguinte, ele apenas começou a separar os sanduíches e espalhá-los pela toalha amarela, enquanto eu me prontificava a encher os copos de plástico com o suco de uva. Separamos tudo sem dizer absolutamente nada, apenas aproveitando o som das folhas das árvores balançando, animais correndo entre as folhas, pássaros piando e as gotas da bebida encontrando os copos.

     Foi de uma maneira totalmente distraída que eu comecei a melodiar a canção que minha mãe costumava cantarolar em casa enquanto fazia tarefas domésticas, então demorei para notar o olhar de Norman sobre mim, parando de tampar a caixinha do suco para olhá-lo de volta. Ele tinha aquele sorrisinho já característico dele, parecendo lembrar de algo.

     — O quê?

     — De onde você conhece essa música? — perguntou, agora parecendo interessado.

     — Você conhece? — questionei surpreso, vendo-o assentir. — Minha mãe vive cantando ela... Eu nunca procurei saber de onde vem.

     — Meu pai às vezes canta essa melodia para provocar meu tio. Ele fica muito puto — revelou, soltando um risinho e negando com a cabeça. — Eu acho que tem algo a ver com o seu pai, já que é a única coisa que consegue irritá-lo.

call me by your name; norray Onde histórias criam vida. Descubra agora