Yellow | Fabio Quartararo

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     Eu sempre achei que sabia tudo sobre mim e tudo sobre o futuro, quando ainda era uma menininha de dez anos, que sonhava com o namorado de olhos castanhos amendoados,  casa em Hull e a confeitaria que abriria, apenas para meus doces preferidos...

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     Eu sempre achei que sabia tudo sobre mim e tudo sobre o futuro, quando ainda era uma menininha de dez anos, que sonhava com o namorado de olhos castanhos amendoados, casa em Hull e a confeitaria que abriria, apenas para meus doces preferidos e que seria um sucesso. Quando eu fiz doze anos e disse que me casaria com Harry Styles e aos dezesseis quando achei que Shawn Mendes fosse minha alma gêmea, eu tinha certeza de que sabia muito sobre a vida, muito sobre quem eu era. Muito sobre o que viria a seguir.

Mas, quando nós somos jovens, acreditamos em muita coisa, confrontamos muitas mais. Achamos que somos imbatíveis. Quando nosso mundo dos sonhos com celebridades e desejos infantis caem por terra, quando conhecemos o real, parece que todas as nossas crenças se tornam concretas. Fabio Quartararo poderia ser o ideal para muitas meninas agora, um ídolo do esporte sobre duas rodas e uma celebridade reconhecida no mundo inteiro, mas quando o meu mundo e o mundo dele colidiram, há um tempo que não poderia jamais voltar, éramos apenas Ruby e Fabio.

Nós não sabíamos que aquelas duas crianças um dia mudariam a vida uma da outra de forma drástica. Não até que acontecesse. E mais uma vez, pensei que, por um lado, quando somos jovens não sabemos muitas coisas. Eu ainda não sabia. Como naquele momento. Eu não tinha ideia do que aconteceria.

Era a primeira vez que Hunter viajaria para fora da Inglaterra. Era a primeira vez que eu a levaria para a casa do pai, em Andorra. Mesmo com seus dois — quase três — anos de idade, ela parecia saber para aonde estava indo.

Enquanto arrumávamos suas malas e as minhas, minha garotinha ria e brincava com as roupas, repetindo diversas vezes, com a voz embolada que todas as crianças nessa idade tinham, um animado papa?, seguido de sorrisos que mostravam seus dentinhos superiores. Era uma cena que jamais falhava em aquecer meu coração. Hunter amava o pai, mesmo que o visse poucas vezes ao longo do ano, o que só provava o bom trabalho que ele vinha fazendo em ser uma figura presente na vida da filha.

O tempo na Inglaterra não estava frio como costumava ser, mas o vento gelado era cortante como uma lâmina recém afiada. Coloquei a touca sobre a cabeça de Hunter, arrumando os fios de cabelo curtos que teimavam em escapar em sua testa. Ela riu. Abaixei-me para pegá-la no colo, ouvindo-a cantar uma canção no idioma do pai, em um francês confuso assim como seu inglês, mas ainda muito claro para uma menina tão jovem.

— Você tá com saudade do papa, amor?

Hunter balançou a cabeça, animada. Eu não diria em voz alta, mas meu corpo formigava em expectativa, esperando pelo momento em que eu o veria também.

Nosso relacionamento era uma tremenda bagunça. Sempre tive medo de que isso atrapalhasse a criação de Hunter, que de alguma forma ela sentisse que algo entre nós não estava certo, mas quando se tratava de nossa filha, Fabio e eu éramos como leões. Éramos pais exemplares e eu me orgulhava disso.

Ao longo dos anos, desde o dia em que descobrira que estava grávida de meu namorado, nossas vidas mudaram drasticamente. Eu o conheci quando ainda era uma menininha, acompanhando meu pai em corridas de moto ao redor da Europa. Um dia, conheci um menino magricela e de sotaque francês, seu pai era um antigo amigo do meu. Foi como conhecer alguém que parecia ser familiar demais para ser apenas um desconhecido. Não sei se o amei à primeira vista, como as pessoas costumavam dizer, mas sei que naquele dia foi o início para um amor que devastaria tudo em minha vida.

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