first man | carlos sainz

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sugestão: dê play na música antes de começar a ler

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"Querido papai"

Comecei a escrever, com as mãos trêmulas, em uma folha de papel timbrado que carregava as iniciais do meu nome e a logotipo da clínica que eu trabalhei arduamente durante anos a fio da minha vida para construir, do zero, mas que hoje eu poderia afirmar com convicção e orgulhosamente: cada gota de suor tinha valido a pena. Cada lágrima derramada durante a minha jornada para me tornar a profissional bem sucedida que eu sou hoje tinha valido a pena.

Aquela era a terceira ou quarta tentativa de escrever aquela carta. E em todas as outras eu tinha falhado. Talvez por não encontrar as palavras certas para descrever o que eu estava sentido. Ou porque eu tinha desabado em lágrimas em todas elas. Mas eu precisava disso. Precisava colocar em palavras tudo aquilo que há meses vinha me sufocando. Mais precisamente desde que estivera em Granada pela última vez.

"Sei que nosso último encontro não terminou da maneira mais cordial possível, mas eu gostaria de poder te contar que está tudo bem aqui em Londres. Nós estamos bem, papai. Nos mudamos para um apartamento mais espaçoso e adotamos um cachorro, o Rocky. Sim, como no filme que você e eu costumávamos assistir quando eu era pequena.

Eu sei que você nunca me perdoou por ter saído de casa tão cedo, mas também sei que nunca me impediria de correr atrás dos meus sonhos, da minha felicidade. E pela primeira vez em tantos meses, eu me sinto feliz, pai. Verdadeiramente feliz.

A rotina por aqui é intensa. Tem dias que os meus plantões acabam se estendendo por muito mais horas do que o considerado saudável, mas você sabe o quanto eu gosto de ser proativa. De me sentir útil. De ajudar pessoas.

Na semana que vem vou tirar oito dias de folga. As coisas não são mais como antes, o senhor sabe disso. Mas mesmo assim farei o possível e o impossível para voltar para casa, nem que seja para passar quatro desses dias.

Na semana passada, eu conheci oficialmente a família dele. Não foi por chamada de vídeo ou ligação, eles vieram até aqui. Eles me lembram muito você e a mamãe, para falar a verdade. São barulhentos, adoram futebol, torcem pelo Madrid e estão sempre me incentivando a comer os vegetais que eu tanto detesto, mas que sei serem necessários para manter uma alimentação balanceada e saudável. As irmãs dele também me acolheram muito bem. O que me faz pensar que teria sido legal crescer com mais alguém dentro de casa, mesmo que isso significasse ter que dividir os brinquedos, a atenção, o amor.

Sabe, pai, eu sei que o senhor acha que ele não me merece. Ou melhor, que ninguém me merece. Mas eu tenho certeza que você ia gostar dele. Ele é diferente. É engraçado como você, é gentil, e não, ele não bebe e depois dirige. O que chega a ser irônico, já que um de seus maiores patrocínios vem de uma cervejaria. Eu finalmente encontrei alguém que eu realmente gosto, papai. Carlos é um bom homem. Ele me ama e nunca me machucaria, eu tenho certeza disso.

Na semana que vem, nós completamos dois meses de noivado.

E seis desde a sua partida.

Não houve um dia sequer nesses meses todos, nesse infinito implícito em dias numerados, que eu não tenha pensado no momento em que o senhor me levaria até o altar. Até o homem da minha vida. O segundo homem da minha vida. Porque o senhor foi o primeiro homem que realmente me amou. Agora outra pessoa também pode e eu sinto muito que você não esteja aqui para conhecê-lo, para olhar no fundo nos olhos dele e com o seu melhor sorriso falso, fazê-lo prometer que vai cuidar bem da sua garotinha.

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