gorgeous | arthur leclerc

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       Ser um fracasso aos vinte e três anos não deveria me perturbar tanto

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       Ser um fracasso aos vinte e três anos não deveria me perturbar tanto. Se eu parasse para pensar um pouquinho, minha mãe só conseguira a promoção que tanto sonhara depois de cinco anos na empresa e só se casara com meu pai aos trinta e engravidara aos trinta e três. Tipo, as coisas não deveriam acontecer imediatamente. Certo. Todo mundo entende. Só que, cara, fale isso para a pessoa mais imediatista que existe no principado de Mônaco.

Terminei a faculdade de Administração no início do ano. O único emprego que consegui foi como atendente de uma loja de doces na esquina de uma ruazinha deserta com vista para uma série de prédios tombados no último ano que serviriam de museu em um distrito que vivia de história em cada canto. Eu queria grandes coisas em quatro meses, mas só havia conseguido uma foto com Max Verstappen na praia no último final de semana. O maior feito dos meus vinte anos era não ter pegado dependência em Cálculo II e receber uma risada espontânea do campeão mundial após uma piada ridícula sobre a equipe rival.

Eu queria mais! Mas não tinha paciência para esperar tanto por esse mais. Meu currículo era legal, fiz estágios e mais estágios, participei de projetos de pesquisa e tinha notas exemplares. Um currículo decente até. Só que, droga, o mercado de trabalho em 2022 era meio exigente demais. Me amaldiçoei mentalmente por não ter nascido carismática inúmeras vezes. Eu poderia muito bem fazer todas aquelas dancinhas bizarras no TikTok e me tornar famosa antes dos vinte e cinco. Poderia ter aceitado a ideia de uma amiga no ensino médio e ter feito um canal no YouTube quando tive oportunidade. Seria melhor que sorrir durante oito horas enquanto entrego pacotinhos enfeitados com a cara da rainha da Inglaterra usando juliet e dizendo "esse chocolate é fera!" dentro de um balãozinho, como as histórias em quadrinho.

Então, ser um fracasso talvez fosse minha culpa também. Meu aniversário de vinte e três anos estava próximo. Eu estava contando as moedas para conseguir finalmente comprar aquela bota que custava metade do meu salário e talvez ir até Nice dar uma volta, fingindo ser uma turista pelas ruas da cidade. As coisas eram meio ruins e meio decentes na maioria das vezes e as últimas tentativas e erros haviam ferrado um pouco com o meu emocional, mas eu era dura na queda. Chorava bastante, mas também ria bastante de toda a merda que rolava. Também gostava de pedir a Nossa Senhora que falasse com seu Filho e me ajudasse só um pouquinho, mas acho que ela estava cansada de toda a minha lenga-lenga das últimas semanas. De qualquer forma, eu gostava de apenas sentar nos bancos da pequena igrejinha que mamãe me levava desde pequena para ouvir os sussurros das senhoras em suas rezas. Era meio reconfortante saber que todo mundo tinha seus próprios problemas. Me fazia sentir momentaneamente bem. Não que eu gostasse de ver os outros sofrendo, não é isso, mas saber que você não está sozinha nesse mundo é bom.

Eu não deveria reclamar tanto da minha vida. Ela era boa. Eu tinha um apartamento simpático e uma motocicleta que comprei quando saí da escola. Minhas melhores amigas estavam casadas há um tempo com pessoas até que legais e uma delas estava grávida do primeiro filho e eu começara minha campanha para conseguir ser a madrinha da pobre criança. Também tinha bons amigos e sempre que meu dinheiro sobrava eu podia fazer viagens curtas por aí.

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