A whole life | Charles Leclerc

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MONTE CARLO — MÔNACO

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     Charles ajustou o bebê canguru no corpo e beijou o topo da cabeça de Anne-Marie, que agitou os bracinhos e disse algo naquela língua que apenas os bebês entendiam. Ao passo que ela se agitava ali, presa a ele, Adrien dormia serenamente no carrinho, completamente à parte da movimentação ao seu redor. 

Os "gêmeos" não apenas eram fisicamente idênticos, como também possuíam comportamentos semelhantes: eles eram agitados, ficavam quietos apenas quando estavam dormindo. Se bem que Anne-Marie se movimentava, rolava de um lado para o outro e mexia as mãozinhas gorduchas sem parar mesmo em sono profundo. Às vezes era até mais difícil contê-la do que conter Adrien, que gostava de observar tudo e todos com seus grandes olhos verdes.

E foi a consciência a respeito da semelhança entre eles que levou Charles a, naquela tarde, optar por passear com Anne-Marie no bebê canguru e Adrien no carrinho clássico — que, inclusive, era o favorito de Eleonor. Eles normalmente saíam juntos no carrinho duplo, mas como o garotinho estava cansado e não queria saber de mais nada que não fosse dormir, era melhor que fossem separados para que não houvesse confusão. Podia ser que a pequena Anne-Marie acabasse acordando o irmão com suas brincadeiras.

Conforme caminhava pela calçada, as pessoas olhavam na direção de Charles com sorrisos estampados em seus rostos. Quando estava com os gêmeos, ele nunca era o foco, mas de forma alguma isso o incomodava — desde que ninguém ficasse encostando demais neles, é claro. Era até engraçado ver os pedestres por quem passavam fazerem caras fofas, acenarem com entusiasmo e arregalarem os olhos como se aquela duplinha fosse a coisa mais fofa que já viram na vida.

O melhor de tudo era ver que a garotinha não recebia mais atenção que o garotinho apenas por ser uma bebê de colo e ele não.

— Vocês são mais famosos que eu, sabiam? — o piloto perguntou assim que uma moça que parara para brincar com Anne-Marie e Adrien se afastou. Charles deu um beijo estalado na bochecha da menina e virou o rosto para o lado a fim de observar o menino, que ainda dormia plácido. — Estou orgulhoso. 

Voltando a caminhar, se perguntou se, quando chegassem na loja, Eleanor já estaria livre. Ela era a proprietária, sim, mas isso não a isentava das obrigações que tinha como profissional. E como era verão, Mônaco ficava uma loucura; havia mais pessoas do que o normal circulando pelas calçadas e praças, carros se enfileiravam nas ruas, as lojas, principalmente as de moda — como era o caso da de Eleanor —, ficavam abarrotadas de clientes. 

Charles balançou os ombros e colocou de lado os próprios pensamentos. Não se importaria em andar mais devagar para evitar chegar lá antes da hora e, assim, não fazer a garota correr por achar que ele estava detestando esperar, muito embora não tivesse o menor problema com isso. Na verdade, Charles até gostava de ficar ali observando-a cuidar de tudo com extrema paixão e destreza.

Eleanor era a responsável máxima pela boutique desde sua fundação, encarregando-se da elaboração dos croquis — que na mão do restante da equipe eram transformados em elegantes peças de roupas — e também da administração, e sempre tratou de fazer seu trabalho com excelência, mas passou a se empenhar ainda mais quando sua mãe, que também era sua melhor amiga e sócia, faleceu — dando-lhe algumas incumbências. Ela decidiu que lhe daria mais orgulho mesmo que ela não pudesse ver. 

Por essa e muitas outras razões Charles fazia o que fazia. Ela era sua família. Eles eram sua família.

Charles estava passando pela marina, a infinidade de iates luxuosos atracados nos cais e o mar azul reluzindo ao fundo, quando seu celular tocou. Ele travou os passos e tirou uma das mãos do punho do guia do carrinho para alcançar o celular, que estava no bolso da calça. No entanto, o cinto do bebê canguru, que envolvia sua lombar, dificultou um pouco as coisas. 

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