pluto | liam lawson

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MILTON KEYNES, INGLATERRA

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MILTON KEYNES, INGLATERRA

         O som dos carros na avenida era constante. As buzinas soavam sem parar, era uma cacofonia que misturava-se ao barulho dos limpadores de para-brisas, dos pingos pesados de chuva, os pneus derrapando nas poças e pedestres conversando ou amaldiçoado enquanto abriam seus guarda-chuvas.

Milton Keynes era uma cidade minúscula e sem graça, sem muitas tradições e demasiadamente inglesa, mas quando a chuva caía parecia que o trânsito de Londres se amontoava todo na principal avenida do lugar.

Liam, naquele momento, perguntava-se os motivos de não ter ouvido sua intuição, no momento em que olhara para as nuvens pesadas que dominavam o céu no fim de tarde. Talvez, morar a pouco mais de dois quarteirões do local do encontro, tenha o feito pensar que poderia chegar lá antes da chuva torrencial. Que aguada ilusão, pensara ele, quando os primeiros pingos começaram a cair sobre seus cabelos bem alinhados.

Poderia ficar encharcado caso não tivesse parado sobre o toldo de uma loja. Estava ali há alguns minutos, observando o movimento progressivo de pessoas e automóveis, perguntando-se se um dia aquele dilúvio iria embora. Parecia que não. Lá no céu, alguém chorava em demasia. O dia que fora ensolarado, repleto de luz e conforto, agora era um tapete cinzento estendido pela paisagem metropolitana e seu caos irrefreável.

Ele olhou para o relógio mais uma vez. Estava vinte minutos atrasado. Provavelmente Justice, a garota que, segundo Yuki, estava completamente ansiosa pelo encontro com o neozelandês, deveria estar de saco cheio em esperá-lo. Era difícil para Liam acreditar em qualquer coisa que o amigo lhe dizia, principalmente porque sabia que ele o estava empurrando para aquele jantar nada despretensioso por motivos sórdidos apenas dele.

Liam não a conhecia muito bem para não dizer que não sabia nada sobre ela. Justice era melhor amiga da garota com quem Yuki estava saindo, morava em um flat junto com ela e trabalhava em uma lojinha de bugigangas no centro, onde o colega estava sempre indo para comprar alguma tralha nova. E por razões desconhecidas, o amigo precisava que ele fosse ao encontro. Encontro duplo. Tudo o que Lawson não queria. Não agora, não naquele dia.

Soltou uma risada que contrariava todo o seu humor. Porque, até certo ponto, era engraçado. Se Yuki soubesse a história, quem sabe o teria deixado em paz.

Era estranho para ele pensar em conhecer outra pessoa, porque ainda sentia-se orbitando ao redor dela, como um planeta perdido naquela galáxia sem nome. Mesmo depois do adeus, tão distante, incolor e frio, ainda estava girando sem parar.

Sempre acreditou que o amor não poderia ser um ídolo, até prová-lo. Ela apareceu como o Sol, reluzindo sobre ele tantos desejos e tantas promessas, se fosse esperto notaria que aquele tipo de paixão nunca teria um final feliz.

Ele deveria saber que quanto mais perto do Sol, mais próximo do fim também estaria. Era óbvio, todos conheciam a história de Ícaro. Pessoas como aquela tinham sérios problemas em olhar para algo que não fosse elas mesmas.

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