my oh my | charles leclerc

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Já passava da meia-noite quando ouvi a porta de correr da edícula da casa dos meus pais ser arrastada, anunciando a chegada de um convidado que eu conhecia muito bem. Eu estava cansada, sonolenta e levemente bêbada, mas não poderia dizer que não esperava por aquele encontro. Eu sempre esperava e ele sempre vinha, porque era assim que as coisas funcionavam entre nós dois: ele precisava de uma companhia para compartilhar os bons momentos e eu gostava de ser essa pessoa. Era o nosso momento. O nosso pacto secreto.

Ciao, bella — o som melódico de sua voz carregada de sotaque era como música para os meus ouvidos e me causara um arrepio que percorreu toda a minha espinha, colocando meu corpo em estado de alerta imediato. Ficou ainda mais intenso quando Charles entrou em meu campo de visão, com as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta vermelha que era a sua marca registrada, os fios do cabelo preto molhado caindo sobre sua testa daquele jeito que eu amava e a covinha apontando em sua bochecha mesmo com a barba por fazer. Na verdade, havia muitas outras coisas que eu amava sobre Charles Leclerc, mas como eu sabia que nunca poderia tê-lo para mim daquela forma, me contentava com o que tinha. Era o suficiente. Eu preferia tê-lo pelo tempo que aquilo entre nós perdurasse, do que simplesmente não ter nada.

Nós nos conhecíamos por tempo demais e as coisas nunca deixaram de ser como eram agora: ele era alguns anos mais velho e não tinha a melhor das reputações quando o assunto eram mulheres. A única diferença entre ele e os outros pilotos é que ele, ao menos, era discreto. Além disso, minha mãe não confiava nele; ela descobrira sobre o nosso caso em algum momento ao longo desses anos, talvez quando os encontros começaram a se tornar mais frequentes, no ápice do desejo que um sentia pelo outro.

Pobre mamãe. Se ela soubesse que a única e verdadeira responsável por aquilo tudo era a sua filha, a sua menininha, jamais desconfiaria do monegasco mundialmente famoso por pilotar um carro de Fórmula 1.

— Pensei que não fosse vir — comentei despretensiosamente, me levantando do sofá e me aproximando vagarosamente de Charles. A proximidade me obrigou a prender a respiração, como se sentir o cheiro dele fosse prejudicial. E talvez realmente fosse, visto que ele era o único capaz de me fazer perder o controle, em todos os sentidos. A começar pelo seu perfume, droga, como eu amava o seu perfume. Era amadeirado e adocicado na medida certa. Era perfeito. Ele era perfeito.

— Ah, Chiara, eu sempre venho. Você já deveria saber isso — respondeu, passando a língua pelos lábios e sorrindo daquele jeito que só ele sabia fazer, o que me fez engolir em seco. A memória dos seus lábios colados aos meus era tão vívida, que era quase como se eu pudesse sentir seu gosto apenas por observá-lo.

Leclerc era um inferno de homem. Ele conhecia cada maldita parte do meu corpo e sabia exatamente o que fazer para me enlouquecer — não que fosse preciso de muito para isso, a mera presença dele já era o suficiente para tal.

— Seus pais estão em casa? — Charles quis saber. Pela sua expressão, ele parecia me avaliar, como se tentasse arrancar algo de mim que nem eu mesma sabia ao certo o que era. Para o azar dele, não havia nada para ele ali. Leclerc teria que se contentar com o que eu tinha para lhe oferecer, e que na minha opinião, era muito mais do que ele merecia.

— A minha mãe — respondi, simplesmente.

— Ela ainda me odeia?

— Ela sempre vai te odiar, Charles — devolvi, dando de ombros. Ele parecia se divertir com aquele assunto.

— Não fui eu quem abandonei o noivo perfeito no altar — provocou, tirando as mãos do bolso da jaqueta e levando-as direto para a minha cintura. Seu toque era sempre tão certeiro, tão firme, que me fazia perder o ar. Leclerc sempre sabia o que estava fazendo e aquilo de alguma forma me irritava. Me irritava saber que ele me conhecia tão bem e poderia fazer o que bem entendesse comigo, porque afinal, ele estava ali para isso. E eu também.

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