Capítulo XLIX

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Estou decidido a contar toda verdade para Esmeralda e nenhum surto de covardia conseguirá me persuadir do contrário. Já esperei tempo demais, e embora ainda não esteja pronto para emfrentar uma reação negativa, sinto que chegou o momento de acabar com todos os segredos que ainda existem entre nós, só assim poderei alcançar a paz que tanto necessito, e se ela não me desprezar, seremos ainda mais felizes do que somos agora. Não sei que palavras usarei, mas já tenho tudo arquitetado na cabeça para que o clima seja o mais leve possível, tudo deve corroborar para que o perdão e a aceitação aconteçam.

Reservei todas as mesas do bistrô que Esmeralda tanto adorou, esta noite seremos os únicos a desfrutar daquele pedaço de paraíso, nada poderá nos atrapalhar e nem acrescentar notas de tensão ao momento que já será suficientemente difícil. Além do lugar perfeito, fiz questão de escolher pessoalmente cada prato do cardápio, das entradas a sobremesa, e, completando a montagem do cenário ideal, pedi que o local seja decorado com lírios vermelhos e velas. Teremos uma das conversas mais importantes de nossas vidas, uma conversa que pode mudar o rumo de tudo, por isso, é crucial garantir que nada fuja do controle.

Marquei o jantar para as 9 da noite, todavia, considerando o estado do meu coração, não tenho certeza se estarei vivo para comparecer. Deveria ter feito uma cirurgia pela manhã e concedido uma coletiva a um grupo de jornalistas, mas estou tão desajuizado que passei a primeira missão para um dos médicos auxiliares, e ignorei a outra. O que pelo que parece, me renderá mais um sermão de Álvaro.

Ajeito-me na poltrona, visto o jaleco que estava jogado sobre a mesa e vocifero:
- Entre, Álvaro!

Quando minha secretária anunciou que Álvaro queria falar comigo, comecei a me preparar para escutar mais uma de suas palestras sobre a importância de eu comparecer as entrevistas.
Meu primo entra no consultório e me fita. Não parece tão nervoso como geralmente fica nessas situações, mas com certeza não está com uma boa cara.

- Precisamos conversar, Lúcio. - Fala, com tom de voz mais baixo que o costumeiro.

- Álvaro, sei que odiou o fato de eu não ter comparecido a coletiva, mas acredite, tive um bom motivo para isso. Estou estressado e acabaria mandando todo mundo pra puta que pariu, o que teria uma repercussão bem mais negativa do que simplemente faltar aquela chatice.

- Lúcio... - Interrompe a locução e aponta para uma das poltronas dispostas de frente a mesa. - Posso me sentar?
Estranho toda essa educação em meu primo, ainda mais num momento como esse, onde o óbvio seria berros e xingamentos.

- Sente-se. Aconteceu alguma coisa? - Indago. Minhas sobrancelhas vão ao centro, o que gera uma meteórica dor de cabeça.

- Aconteceu, mas antes de dizer, preciso que me prometa que manterá a calma.

Já desesperado, levanto-me da cadeira e fito meu primo.

- Aconteceu alguma coisa com o Noah? - Questiono. Não consigo deixar de pensar no pior, meu coração dispara e o espírito ameaça deixar o corpo.

- Não, não tem nada a vê com ele. - Em silêncio, fita o meu rosto por tanto tempo que uma vida inteira poderia ter passado. Uma vida muito angustiante. - O assunto é outro. É a Esmeralda.

Em gestos impetuosos e automáticos, começo a tirar o jaleco, praticamente ao mesmo tempo que guardo nos bolsos da calça a carteira e o molho de chaves.

- O que aconteceu com ela?

As palavras soam da mesma forma que soariam se eu tivesse acabado de correr a maratona São Silvestre. Não é de se estranhar, os níveis de adrenalina em meu sangue estão mais altos do que nunca. Minha caixa torácica vibra tão forte que levanta o tecido da camisa, sinto-me como uma panela de pressão na iminência de explodir e se derramar em milhões de litros de desespero.

Lúcio- O Renascer De Um CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora